Resumo Hanna Arendt
Por: brumzinha • 17/10/2020 • Resenha • 920 Palavras (4 Páginas) • 369 Visualizações
RESENHA – A Condição Humana, Capítulo II – As Esferas Pública e Privada.
(De Hanna Arendt.)
Por Isabella S. Brum.
Para Hannah, a vida e seu conjunto de diversas maneiras de ser vivida, necessita indispensavelmente da relação entre seres humanos, isso é: de certa forma, todas as atividades humanas são dadas através do fato de que todos os seres vivem juntos. Logo, a ação é a única atividade exclusiva dos homens, excluindo outros seres humanos e divinos, pois, necessita da permanente presença desses mesmos indivíduos.
Citando outros autores e pensadores filosóficos, como Aristóteles, Tomás de Aquino e Platão, Hannah persiste na perspectiva de que o homem não pode viver sem a companhia de outro homem e segue mencionando a ideologia grega na qual funda os princípios humanos e suas ações baseadas entre casa e família. Ainda nessa mesma política-grega, surge então o conceito de “polis” que é nada mais do que as cidades-estado criadas na Grécia Antiga. Com o surgimento dessas “polis” o homem passou a ter a sua vida política (bios politikos), que consistia numa vida de oposição entre o que é comum (koinon) aos cidadãos - no caso a esfera pública dessa política – e aquilo que é próprio (idion) – a esfera privada.
A partir daí, surge então as duas únicas atividades que se relacionam com a vida política mencionada por Aristóteles, a ação (práxis) e o discurso (lexis).
Apesar da visível diferença entre o significado desses termos, eles se relacionam entre si, pois todas as ações políticas – que permanecem fora da violência – são realizadas através de palavras. Contudo, a práxis e lexis passaram a ser independentes quando ambas chegaram ao caminho da persuasão, onde Hannah compara os pontos de vista de Aristóteles e Tomás de Aquino em relação ao poder, diálogo, violência e as divergências entre chefe de família e chefe do reino.
A esfera privada tratava se de um meio aonde apenas o chefe de família exercia poder, não havia discursos livres nem racionais. Havia uma grande desigualdade, tanto que o chefe de família não era limitado pelas leis, o homem era privado de toda e qualquer ação política. Vencer as necessidades da vida privada constituía a condição para aceder à vida pública. Só o homem que tivesse resolvido todos os assuntos da casa e da família teria disponibilidade para participar num reino de liberdade e igualdade sem qualquer impedimento. Logo, a esfera pública se referia ao meio comum na vida política das polis, através do uso da palavra e persuasão. Hannah tratava a esfera privada como uma forma de necessidade e a esfera pública como liberdade, já que, todos que viviam fora da polis (mulheres, escravos, crianças e bárbaros) eram impedidos de falar e exporem suas opiniões em público.
Hannah Arendt passou então a mencionar os fatos da oposição entre a esfera privada e pública durante a Idade Média, comparando os acontecimentos da Grécia com o grande poder da Igreja Católica e o surgimento do feudalismo. O senhor feudal aplicava justiça através das leis nas duas esferas enquanto o chefe da família grega dominava seus subordinados sem as limitações judiciais.
O social era encontrado tanto na esfera privada de relações da casa e da família, como na esfera da participação política. Hannah assimila um fator importante que contribuiu para a promoção do social: a subordinação da esfera pública aos interesses privados dos indivíduos.
Os problemas da família e da casa que se passaram para a política anulou a grande oposição polis x oikos. Hannah explica o modelo de governo pós o liberalismo, esse modelo consistia numa espécie de “governo de ninguém”, onde a burocracia assumia o controle nas relações sociais, uniformizando o comportamento humano perante a administração pública. Ela continua salientando que este “governo de ninguém” era apenas uma vontade geral que poderia conduzir a um poder tirânico que reprimisse a minoria.
Deste mesmo modo, no século XX a ação individual de uma racionalidade discursiva foi absorvida por uma sociedade que uniformizou o público e privado através de uma supremacia do social. A política passou a se preocupar com a a esfera privada, contrariando a política grega que Arendt defendia, o social privado adquiriu poder político. Hannah afirmava que maior população significava maior probabilidade do social monopolizar a esfera pública, esta situação poderia conduzir ao totalitarismo, à destruição da política e da própria humanidade.
A sociedade de massas era guiada pelo labor, aonde o proletário procura a subsistência da vida e da família pelo consumo através do trabalho material, assim, a promoção social do labor conduziu o espaço público da política a um processo de sobrevivência biológica, logo essa promoção do labor a coisa pública se incorporou na práxis política.
Basicamente, para Hannah o respeito da propriedade privada era o único modo de assegurar um lugar próprio e seguro, criticando a má gerência do espaço público político na esfera privada denotando que as medidas do socialismo e comunismo acentuam mais a decadência da propriedade privada e da própria esfera privada.
Ela finaliza salientando que desde os primórdios da história até a atualidade, o homem buscou esconder as necessidades corporais da subsistência na esfera privada. Escravos, mulheres crianças e trabalhadores sempre foram marginalizados e mantidos fora do espaço público. Contudo, os movimentos da emancipação dos trabalhadores como o sindicalismo e das mulheres o feminismo, foram movimentos revolucionários em que as funções corporais e os interesses naturais pelo mundo material passaram a ser divulgados publicamente. Neste sentido, Arendt realçou o fato dos vestígios restritos da intimidade privada, modernamente transformados em interesse público, continuem a estar dependentes das necessidades da vida corporal.
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