Saber Popular X Saber Erudito
Trabalho Universitário: Saber Popular X Saber Erudito. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: Kaah2farias • 23/11/2014 • 1.982 Palavras (8 Páginas) • 3.184 Visualizações
Introdução:
A discussão sobre teorias curriculares tem como um dos eixos fundamentais a
construção social do conhecimento. Questões como o confronto de saberes na escola, a necessidade de valorização do saber popular, a crítica às concepções positivistas de conhecimento são alvo de estudos de diferentes autores da sociologia do currículo (Giroux e Simon, 1988; Giroux, 1988; Young apud Moreira e Barros, 1992).
Por outro lado, a reflexão sobre conhecimento comum e conhecimento científico, sobre o processo de produção do conhecimento e a hierarquia dos saberes na sociedade, ultrapassa os limites da discussão do currículo escolar, mostrando-se como ponto de fundamental importância no âmbito da pesquisa educacional.
O conhecimento comum e conhecimento científico, seja no âmbito das ciências sociais ou das ciências físicas, e a necessidade de desconstrução do conhecimento comum, depreende-se daí uma desvalorização do saber popular. A ciência seria, por assim dizer, um saber superior e, portanto, o único que possuiria o poder de fornecer respostas às necessidades humanas.
O equívoco dessa interpretação nos parece advir da indiferenciação de senso/ conhecimento comum e saber popular. Ou seja, o senso comum é definido como forma de expressão do saber popular, maneira de conceber e interpretar o mundo pelas camadas populares (Gohn, 1992). Dessa forma, rejeitar o senso comum ou criticá-lo passa a ser encarado como menosprezo ao saber popular e a qualquer forma de saber não científico.
Por outro lado, muitas vezes procura-se valorizar o saber popular como sendo uma forma de ciência: a ciência das camadas populares. Como há também quem afirme que os conhecimentos prévios dos alunos sobre os fenômenos naturais, formulados no contato direto cotidiano, se constitua como a ciência das crianças (Duit, 1987). Em ambos os casos, trata-se de valorizar o saber popular e o saber das crianças tomando-se de empréstimo o poder e a legitimidade de um saber socialmente aceito — a ciência —, a partir de uma falsa igualdade epistemológica. Toda produção de significados, sem dúvida, constitui um saber, contudo nem todos esses saberes são científicos. As ciências, como afirma Foucault, se caracterizam por serem discursos que obedecem a determinadas regras preestabelecidas de construção de proposições (Lecourt, 1980; Machado, 1981). Regras essas estabelecidas pelo
conjunto da comunidade cientifica.
O senso comum é um 'conhecimento' evidente que pensa o que existe tal como existe e cuja função é a de reconciliar a todo custo a consciência comum consigo mesma. É, pois, um pensamento necessariamente conservador e fixista. A ciência, para se constituir, tem de romper com essas evidências e com o 'código de leitura' do real que elas constituem; tem, nas palavras de Sedas Nunes, 'de inventar um novo 'código' —, o que
significa que, recusando e contestando o mundo dos 'objetos' do senso comum (ou da ideologia), tem de constituir um novo 'universo conceptual', ou seja: todo um corpo de novos 'objetos' e de novas relações entre 'objetos', todo um sistema de novos conceitos e de relações entre conceitos.
A possibilidade de existência de um Saber Popular:
A conquista de um conhecimento crítico, autônomo e criativo é tão crucial para a liberdade e a afirmação do projeto político dos setores subjugados que Gramsci chega, em diversos momentos, a traçar as linhas do seu processo de formação. Em primeiro lugar, observa, é preciso respeitar o saber popular, mesmo na sua inorganicidade e fragmentariedade, sem, contudo, deixar de fazer uma avaliação crítica das opiniões e das “crenças” disseminadas no “senso comum”, de modo a estabelecer uma relação dialética com o “bom senso” presente em tantos conhecimentos. Mas, principalmente, é necessário aprender a criar um distanciamento crítico do saber “acumulado” e “repassado” oficialmente, visto não como óbvio e natural, mas descoberto como organizado e administrado por uma classe que visa a precisos objetivos políticos. A partir desta consciência, as classes populares e seus intelectuais passam a demarcar os elementos de ruptura e de superação em relação às concepções dominantes, a operar uma nova síntese, na medida em que adquirem “uma progressiva consciência da própria personalidade histórica”. O “novo intelectual” (que nunca é um indivíduo isolado, mas um inteiro grupo social), enquanto trabalha para analisar criticamente e “desorganiza” os projetos dominantes, se dedica a promover uma “nova inteligência social” capaz de pensar a produção, a ciência, a cultura, a sociedade na ótica das classes trabalhadoras.
Existe um Saber Popular?
"Saber popular, também conhecido como o saber que passa de geração em geração, de pais para filhos, de filhos para netos.
Geralmente é um saber empírico, adquirido apenas à custa da experiência do quotidiano, o que o torna limitado na medida em que apenas é praticável em circunstâncias muito próprias. Ou seja, dando o exemplo da agricultura (sector onde o saber popular ainda tem grande abrangência), o que é regra num local, em virtude de factores como o clima ou o tipo de solo, já não o será noutro. Já que falamos nos handicaps, não podemos deixar de referir a falta de “aprovação” científica. E numa sociedade onde o “cientificamente provado” assume estatuto de verdade absoluta, o saber dos mais velhos passa a não ter credibilidade (quase) nenhuma.
É isto mau? Objectivamente acho que sou obrigado a responder que não. Não há problema nenhum em saber porque fazemos determinada coisa, porque é que aquela coisa acontece de determinada maneira, qual a causa - efeito daquilo que nos rodeia, antes pelo contrário. Nós somos seres curiosos por natureza, e desde criança que sempre nos habituamos a questionar, e por norma, um “porque sim” ou “porque sempre se fez assim”, ou “porque já o meu assim fazia” não satisfaz ninguém. E são precisamente estas as respostas que o saber popular oferece. Respostas que efectivamente não respondem a nada, mas que obrigam a seguir um padrão previamente estabelecido.
Agora a questão que se levanta pode ser a seguinte: deve este saber (popular) ser desvalorizado e completamente posto de lado? A resposta também não me parece complicada. Se há coisa que devemos ter em mente é que nesta altura já ninguém inventa nada de novo. Como se costuma dizer, já está
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