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Trabalho e relatório de campo: Casa de Swing Troca de casais, ménage e voyeurismo

Por:   •  27/2/2016  •  Trabalho acadêmico  •  11.010 Palavras (45 Páginas)  •  867 Visualizações

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Trabalho e relatório de campo

Casa de Swing

Troca de casais, ménage e voyeurismo

Grupo:

Turma: 17 horas

Professora: Tatiana Bacal

(Esclarecemos que o trabalho foi impresso em tinta vermelha por motivos de escassez de tinta preta. Além disso, o vermelho nos pareceu uma cor exótica para a G2, assim como o tema do nosso campo.)

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                O etnocentrismo é concebido como uma visão de mundo em que um grupo ou cultura se tornam referências de tudo, enquanto o “outro” é recebido com estranhamento e dificuldade de percepção das diferenças. Essa supremacia da sua própria cultura em detrimento de outras, com a noção de superioridade, é muitas vezes entendida como uma forma de auto-preservação.          

Segundo Everardo Rocha no texto “O que é o etnocentrismo”, esse conceito “passa exatamente por um julgamento do valor da cultura do ‘outro’ nos termos da cultura do grupo ‘eu’”. Essa posição, inerente às culturas em geral, manifesta-se de diferentes maneiras.                 O etnocentrismo cordial pode ser verificado na história contada pelo autor. Um índio e um pastor, ao se presentearem com objetos de suas respectivas culturas, fazem uma leitura etnocêntrica do que se deve fazer com um arco e flecha e um relógio. Postando o último ao centro de um ornamento com penas, o índio privilegiou a estética de sua cultura, sem considerar a funcionalidade do presente. Enquanto isso, o pastor enfeitou seu consultório com o presente recebido, que, naturalmente, perdeu sua utilidade assim que foi afixado nas paredes.                                                                                                                 Everardo continua discorrendo sobre o etnocentrismo que impera nas sociedades ocidentais, que caracteriza o “outro” de maneira folclórica. O afastamento das culturas origina a lógica de que como o outro não está aqui para falar, pode-se pensar e dizer o que quiser em seus próprios termos. Para o autor, idéias fixas e preconcebidas povoam as mentes etnocêntricas. Pensamentos maniqueístas associam sempre a figura da mulher como frágil; a da criança como inocente; a do negro como inferior. Essas são vertentes do etnocentrismo, também confundido com o preconceito.         O autor sugere que o relativismo é o pensamento que contradiz o etnocentrismo. Relativizar seria perceber que a verdade está nos olhos de quem vê, e que não se deve hierarquizar a diferença.                  

A leitura desse texto permitiu a percepção de que criamos conceitos-fetiche, ou seja, juízos que parecem imutáveis sobre o “outro”; no caso, os freqüentadores de Casas de Swing. Os “swingueiros”, num primeiro momento, eram vistos como pervertidos e inferiores, por banalizarem o sexo e buscarem prazer em mais de um ser, quase como animais. O etnocentrismo se mostrou fortíssimo durante a aula de Antropologia, quando o trabalho de campo foi proposto pela professora. O tema, tão esdrúxulo pelo nosso desconhecimento da prática, provocou a sensação etnocêntrica condenada pelo autor: o preconceito.                                 Interpretando os swingueiros em nossos próprios termos, classificamos o outro como “safado”, “superficial”, etc. Toda a bagagem cultural de “alunos da PUC respeitáveis” foi a mediadora das nossas idéias antes da realização do campo. A aparente incompatibilidade total entre os freqüentadores de Swing em relação a nós parecia consolidada, como a clássica atitude etnocêntrica demonstra. A leitura de “O que é o etnocentrismo” nos fez notar os prejuízos que um etnocêntrico pode trazer a sua vida, como a ignorância, exaltação de si e desqualificação do outro.                                 

Ao perceber as trevas de um comportamento etnocêntrico, o grupo tentou se afastar dos juízos pré-concebidos, e partiu para o trabalho de campo com uma visão forçosamente relativista. Notamos nossa inicial pretensão em sermos superiores, vendo que o etnocentrismo pode cegar e até mesmo impedir o trabalho. O diálogo, que pode ter efeito nivelador de culturas, só foi possível com o afastamento do etnocentrismo. Olhamos para o outro tentando interpretá-lo em seus próprios termos, como indivíduos que merecem tanto respeito quanto nós.

*

Denys Cuche, no texto “O bom uso do relativismo cultural e do etnocentrismo”, põe em cheque essa polarização conceitos. O autor propõe que etnocentrismo não deve ser encarado como racismo. Respectivamente, um é considerado um fenômeno sociologicamente normal e o outro, uma perversão social. Viver regido pela sua própria cultural é aceitável, pois tem a função positiva de preservar sua existência. Já o preconceito reside na exacerbação da idéia de supremacia, relegando ao “outro” um caráter irrevogavelmente inferior.

Cuche acredita ser inevitável o comportamento etnocêntrico, e afirma que o investigador não deve abandonar essa lógica por inteiro. Defende o uso metodológico do etnocentrismo, em que se concebe que o outro nunca é inteiramente outro, e que se compartilha algo na natureza humana. O etnocentrismo pode ser uma condição para a compreensão da alteridade, pois a relativização “total” impede que conheçamos uma cultura diferente. O investigador com certa dose de etnocentrismo descobre que o outro também é etnocêntrico e entende seu posicionamento como íntegro em sua própria cultura.

Os princípios metodológicos do relativismo cultural e etnocentrismo surgem, portando, como complementares para Cuche, enquanto Everardo Rocha ainda acredita na oposição desses conceitos. Ler Cuche após Rocha foi bastante valioso para a nossa avaliação e percepção do campo. Enquanto o autor francês nos mostra que devemos equilibrar esses métodos, o brasileiro nos deu uma visão um tanto limitada de como interpretar o “outro”. Uma postura que abandona seu ponto de referência, isto é, sua própria cultura, é simplesmente impossível.

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