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VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA: ANÁLISE DE UMA COMUNIDADE DE SÃO SEBASTIÃO - DF

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Por:   •  23/3/2015  •  9.972 Palavras (40 Páginas)  •  383 Visualizações

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A língua é um instrumento que está em constante transformação. Não é algo pronto, acabado, e muito menos estagnado. Esse fenômeno acontece principalmente pelo fato de ela ser usada por seres humanos que estão em constante movimento, inventando e reinventando coisas, objetos, o mundo ao seu redor, e a língua não podia ficar indiferente a essa mudança, pois é usada por todos. Se a língua fosse algo definido, pronto, estaríamos ainda hoje falando o mesmo Português que encontramos nas obras de Camões ou a “língua” que os portugueses falavam quando aportaram com suas caravelas nas costas de nosso país. Contudo, todos são conscientes que isso não condiz com a verdade, tanto é que ao se ler “Os Lusíadas” muitas vezes recorrer ao dicionário se faz necessário, porque nessa obra encontramos palavras e expressões que não são mais utilizadas pelos falantes do Português do Brasil, sequer conhecemos muitos desses termos.

Por isso, que se faz necessária a luta contra o preconceito lingüístico existente em nosso país e no mundo, pois as mudanças que acontecem na fala e, muitas vezes, na escrita são provenientes de uma norma internalizada que o falante traz inconscientemente, que embora não pareça, fazem parte do senso comum da língua ou de uma comunidade específica de falantes. Aceitar que existem essas diferenças no modo de falar, as diferentes variantes, é o primeiro passo para uma democratização das diversas variedades, falares. É conhecendo, aceitando e respeitando as diferenças que esse paradigma de que existe um Português comum a todos os brasileiros poderá ser finalmente banido de nossa sociedade.

O falante precisa ter a consciência de que a norma padrão é apenas uma das variedades da língua. Entender que essa norma padrão deve ser ensinada e aprendida para que haja uma uniformização na escrita formal e para que saiba se comunicar em eventos formais de fala. Mas também necessita entender que a “língua” que utiliza em casa ao tratar com seus familiares e amigos é outra variedade e não uma “seqüência de erros” que precisa ser corrigida.

É para entender melhor como esses diversos modos de falar circulam em nosso meio que a Sociolingüística se propõe a analisar a fala em uma comunidade de uso. E este trabalho tem por principal objetivo contribuir, de alguma forma, com os estudos sociolingüísticos em nosso Estado. Fazendo uma singela análise da variação que acontece principalmente no âmbito social, diastrática, no nível diatópico, que visa analisar a variação decorrente da origem geográfica, diafásica, que analisa a questão do monitoramento que o falante faz no momento da interação. Os falantes que contribuíram oralmente, como informantes, para a realização desta pesquisa residem na cidade de São Sebastião no Distrito Federal e são provenientes da cidade de Manaíra no Estado da Paraíba.

Dentre os objetivos específicos desta pesquisa estão:

· Realizar uma análise nos níveis fonético-fonológico, morfossintático, semântico, lexical e estilístico-pragmático da variação lingüística utilizada pelos falantes entrevistados da comunidade de São Sebastião;

· Identificar a criação de novas palavras e expressões por essa comunidade;

· Apresentar como a variedade lingüística utilizada por eles interage com outras variedades existentes no Português do Brasil;

· Identificar qual entendimento que os falantes têm em relação à língua, quais os conceitos que trazem de si mesmos.

Essa pesquisa também se propõe a ajudar na conscientização de nossa sociedade de que não existe uma “língua correta”, usada por uma elite privilegiada, com outras “sub-línguas” ao redor buscando uma aproximação a esse “falar correto”. Esse trabalho se propõe a contribuir na desmistificação desse paradigma, levantando a questão de que existem diversas variedades que precisam ser conhecidas, estudadas, analisadas e, sobretudo valorizadas, para que assim se possa entender melhor nossas origens e como se organiza cada uma dessas variedades, em especial no Distrito Federal que recebe pessoas de todos os estados, culturas e povos.

As perguntas que essa pesquisa se propõe a responder são:

Como a linguagem acontece de fato na língua falada?

Até que ponto acontece a monitoração da norma padrão em contextos de fala?

Como a comunidade analisada, isto é, a comunidade de São Sebastião, vê a interação entre sua variedade lingüística e as variedades com as quais se relaciona?

Buscando uma melhor organização, o trabalho está dividido em cinco capítulos, sendo que o primeiro é esta introdução onde são apresentados o tema e o objetivo da pesquisa realizada. No segundo capítulo é apresentada a fundamentação teórica utilizada para a realização deste trabalho, sendo que no mesmo encontra-se uma breve da história sobre a Lingüística e a Sociolingüística, e em seguida um estudo sobre a Sociolingüística onde são abordados temas como variação lingüística, norma padrão e não padrão da língua. No terceiro capítulo encontra-se a metodologia utilizada na pesquisa, um breve relato sobre o que vem a ser uma pesquisa etnográfica, trazendo conjuntamente o contexto da cidade onde os falantes-colaboradores residem, o local de onde eles vieram e quem são esses falantes. A análise dos dados coletados nesta comunidade é feita no quarto capítulo. No quinto, e último, capítulo encontram-se as conclusões que foram alcançadas ao final do trabalho. Após as referências há também os anexos, que são as transcrições das entrevistas e diálogos dos, e com, os falantes dessa comunidade.

Espera-se que as próximas páginas possam ajudar de alguma forma, no estudo sobre a Sociolingüística dos que delas terão acesso e daqueles que se interessam por essa vertente da Lingüística tão importante de ser conhecida por todos.

2 - Sociolingüística: uma abordagem histórica e geral

Neste capítulo será primeiramente apresentado um breve resumo de como surgiu a Sociolinguistica; posteriormente o que vem a ser esse vertente da Linguistica e seu objeto de estudo, suas vertentes e classificações; em seguida será exposta a relação entre norma padrão e norma não padrão; e finalmente o conceito, classificação e níveis da variação lingüística.

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