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Violência_TVs_meios_eletrônicos

Por:   •  10/12/2015  •  Artigo  •  3.624 Palavras (15 Páginas)  •  165 Visualizações

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TEXTO PARA DEBATE

Violência, TV e os Jogos Eletrônicos[1] 

Por Ari José Sartori

Um dos temas que têm preocupado pais, alunos/as e educadores/as é a violência presente no cotidiano escolar, como as agressões físicas entre alunos e alunas, contra professores/as, destruição dos equipamentos escolares, entre outros. Certamente a existência de conflitos e a de comportamentos violentos não são atitudes ou fenômenos recentes, não se restringindo somente a esse espaço importante de socialização, mas têm intrigado todos os envolvidos, tanto pela dificuldade de encontrar respostas, quanto para propor medidas eficazes para resolver ou amenizar esse problema.

Os atos de violência têm um espaço privilegiado na mídia, geralmente, quando se transformam em tragédia, viram notícias e criam comoção nacional. Como eventos mediáticos, ocupam os noticiários de TVs, as primeiras páginas nos jornais e revistas e depois de alguns dias são substituídos por outros e assim sucessivamente, sem que se tenha um debate mais aprofundado, baseado em pesquisas sérias, envolvendo as mais diversas áreas do conhecimento e os diversos atores envolvidos.

Certamente, a maioria ainda lembra de casos amplamente divulgados na TV, como a morte violenta do menino João Hélio Fernandes, de 6 anos, que no dia 8 de fevereiro de 2007 ficou preso ao cinto de segurança durante o assalto ao carro dirigido por sua mãe e foi arrastado por sete quilômetros pelas ruas na cidade do Rio de Janeiro, ou como a guerra aberta entre o PCC – Primeiro Comando da Capital – e a polícia, em 2006, em São Paulo, fato que colocou na agenda do país a questão da segurança pública. Foram necessários o esquartejamento do menino João Hélio e um “banho de sangue” entre polícia e criminosos para que se suscitasse um debate nacional, envolvendo os meios de comunicação e inclusive o Congresso Nacional, na busca de soluções rápidas e eficazes para o problema da violência.

A divulgação na mídia de cenas de extrema violência como essas tem desafiado a nossa capacidade para compreendê-las e  este é um dos objetivo deste artigo. Pretendemos com isso  trazer para o  debate algumas considerações sobre a influência dos meios de comunicação e dos jogos eletrônicos, geralmente considerados inofensivos e de entretenimento, no aumento dos índices de violência na sociedade em geral, e particularmente nas escolas.

No ápice dos acontecimentos, é claro, surge todo tipo de propostas de “salvação” e de “solução” do problema, algumas motivadas por interesses eleitorais, outras com “as melhores das boas intenções”. Tais propostas vão desde o extermínio legal, como a pena de morte (que não deixa de ser outra maneira de expressar a idéia de que “bandido bom é bandido morto”), até leis mais “draconianas”, como Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) para determinados presos, no caso do PCC, e diminuição da maioridade penal (nos casos em que adolescentes menores estejam envolvidos). As causas dessa onda de violência são explicitadas de acordo com o lugar que cada interlocutor ocupa: enquanto para a polícia é a falta de recursos para fazer policiamento intensivo e extensivo, para determinados políticos (candidatos ou não) são a falta de investimento em educação e a extrema pobreza e miséria. Mesmo que esses argumentos tenham algum sentido, no caso específico da pobreza e miséria é uma insensatez e uma injustiça em relação a milhões de pobres com baixa escolarização neste país, que moram e vivem precariamente nas favelas e periferias, muitas vezes sem ter o que comer, mas nem por isso sendo bandidos, assaltantes, traficantes, esquartejadores de crianças em plena rua.

Uma pergunta óbvia que parece não interessar à maioria dos políticos, da mídia, dos educadores e da polícia é por que motivo esses milhões de pessoas pobres e com pouca escolaridade não se tornam todas elas bandidos. O que faz com que continuem levando suas vidas do jeito que podem, mesmo com medo e insegurança, mas sem matar, estuprar, assaltar? Se fossem só a miséria e a baixa escolaridade, como explicar a atitude de filhos abastados de classe média e rica, com nível universitário, que colocam fogo nos pobres, sejam eles índios, negros, prostitutas, homossexuais ou travestis? Por que será que fazem isso? Por outro lado, o que leva um jovem (e muitas vezes até criança) a matar os da sua espécie, seja empunhando uma arma, seja dirigindo um carro com uma criança presa ao cinto de segurança? Por que matar se tornou, para algumas pessoas, tão fácil? Será que matar é tão simples e fácil assim? Por que a maioria das pessoas, em situações extremas de tensão e medo, não atiram, não assassinam? Porque matar exige, entre outros fatores, treinamento, condicionamento. Não é preciso ser um psicólogo militar ou um expert para compreender que matar não é uma atitude “natural” do ser humano.

Fala-se que existe uma “guerra não declarada” entre a polícia e os assaltantes e traficantes. Os policiais, sabe-se, são treinados e preparados para o confronto e dizem que só matam como último recurso (não é isso que se vê geralmente, pois muitos atiram primeiro, para depois perguntar). No entanto, o que faz com que uma criança, um jovem ou um adulto (pobre ou rico, com ou sem estudo) saia dando tiros em policiais ou em outras pessoas, dirigindo um carro com uma criança sendo arrastada pelas ruas? Como compreender uma atrocidade com seres da mesma espécie? É essa a pergunta que poucos fazem, ou não querem fazer! Penso que é o momento para pararmos e refletirmos sobre o assunto.

Influência da TV e os riscos dos jogos eletrônicos na idade infantil e juvenil

Gostaria de refletir, por exemplo, sobre a influência que a TV e os jogos eletrônicos poderiam ter nessa “banalização” da violência. Quais as implicações desses jogos na educação e na socialização das crianças e de jovens? Em geral, aceita-se com a maior “naturalidade” que os games e os filmes de violência já fazem parte do nosso dia-a-dia e que são apenas entretenimentos.

Recentemente foi publicado um artigo no livro da Aliança pela Infância intitulado “A psicologia do matar e o condicionamento de crianças”, do psicólogo militar e coronel do exército americano Dave Grossman[2], que foi um especialista na psicologia de matar (killology). Antes de se aposentar, ficou 25 anos no exército americano aprendendo e estudando como “capacitar” as pessoas para matar. Diz ele: “acreditem-me, nós somos muito bons nisso. Mas a coisa não vem naturalmente, você precisa ser ensinado a matar. E da mesma forma como o exército está condicionando as pessoas a matar, nós estamos fazendo indiscriminadamente a mesma coisa com as crianças, mas sem as devidas medidas de proteção”. Como se aprende? Segundo Grossman, “aprendemos do abuso e da violência no lar, mais enfaticamente, da violência como entretenimento na televisão, no cinema e nos jogos interativos dos videogames”.

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