O Livro Ascensão da Elite

    Natallie

  Atira, atira, corre, desvia. Atira, atira, corre, desvia.

  Estava completamente concentrada em fugir e matar um bando enorme de zumbis histéricos, até que uma figura irritantemente parecida comigo entra na minha frente e toma o controle de minhas mãos.

  -Jaden Miller, pode me explicar por que você fez isso? -Pergunto com a voz perigosamente calma.

  -Ora, será que não é porque estou te chamando a mais de dez minutos, e vejo que a única solução é tirar você desse seu jogo importante. -Diz ele com sarcástico.

  Reviro os olhos e respondo:

  -Fale logo o que você quer, para que eu possa voltar a matar zumbis e passar logo desta droga de fase! -Digo irritada. Estou nesta fase a uma semana!

  Jaden olha para trás, franze o cenho, me encara e começa a gargalhar loucamente.

  -Não acredito que ainda está nesta fase! -Exclama ele entre as risadas- Você realmente precisa treinar mais as suas habilidades neste jogo maninha.

  Ele ri mais um pouco antes que eu pegue de volta o controle e recomeçe a jogar. Ele se surpreende por um instante e em seguida bufa e se senta ao meu lado no sofá.

  -Mas pelo menos eu só continuo nesse nível porque usei todo meu tempo livre para estudar para as provas finais -Digo na defensiva.

  -Ta, ta, ta não vamos começar com esse seu papo de nerd -Ele respira fundo enquanto eu reviro os olhos novamente. -Quero te pedir uma coisa.

  -Espero que seu pedido seja importante para que você me interrompa no meio do jogo. -Pauso o videogame e me viro para ele.

  -Preciso te pedir um favor. -Jaden me diz com a expressão séria.

  -Ai meu Deus Jaden, o que você aprontou desta vez?

  -Eu? -Pergunta com um sorriso irônico. Eu arqueio uma sobrancelha e o encaro. Ele rapidamente volta para a mesma expressão de antes.- Preciso que você me ajude a hackear o computador do papai para sermos escolhidos como os gamers que irão jogar na versão teste do jogo A Ascensão da Elite.

   Por mais séria e decidida que fosse sua expressão, eu não pude evitar rir de seu pedido. Ele me olhou irritado e desligou a televisão para chamar a minha atenção. Paro de rir no mesmo instante e olho zangada para ele.

  -Vamos Natallie! Ou vai me dizer que não esta nem um pouquinho ansiosa para jogar e provar para o papai que também existimos e podemos ser grandes jogadores?

  Antes de responder ao meu irmão, devo esclarecer algumas coisas. Meu nome é Natallie Miller, como você já deve ter percebido. Eu e Jaden somos gêmeos, e para minha infelicidade, nascemos em dias diferentes (Jaden nasceu em 11 de novembro às 23h55min, e eu às 0h12min do dia 12 de novembro), o que faz de Jaden o irmão mais velho.

  Você deve estar estranhando essa história toda de videogame e blá, blá, blá, mas é que meu pai, Fred Miller, é dono de uma das maiores empresas de videogame e máquinas do mundo, e isso esclarece todo o nosso vício por jogos e tecnologia. Ele esta prestes a lançar seu mais novo e sofisticado jogo chamado A Ascensão da Elite, e precisa de um grupo de jovens jogadores no país inteiro para fazer o teste oficial. E é obvio que meu irmãozinho esta querendo achar um jeito de ser escolhido.

  Eu o olho abismada por ter me pegado. Seus olhos brilham em expectativa, e com um movimento súbito ele se ajoelha segurando minhas mãos, implorando.

  -Por favor Nat- Pede ele usando meu apelido, provavelmente esperando que isso ajude. -Eu sei que você quer jogar tanto quanto eu, posso sentir isso. Telepatia de gêmeos! -Diz Jaden sorrindo abertamente. Eu me limito a sorrir também.

  -Olha Janden, eu não sei...

  -Vamos, vai? Nós só vamos dar um jeitinho de fazer com que nossos nomes saiam no sorteio -Agora ele já esta de pé na minha frente, fazendo cara de cachorrinho que caiu na mudança, com as mãos juntas e fazendo um beicinho muito fofo -Por favor, eu juro que não vamos ser pegos, e caso aconteça, eu prometo que levo toda a culpa sozinho, já que sou eu que estou insistindo com você. E você sabe que eu nunca quebrei uma promessa.

  Ele tem razão. Por mais chato e irritante que seja, ele nunca deixou de cumprir uma promessa que me fizesse. Afinal de contas, que mal tem em ajudar o meu irmão mais velho? Já que papai não nos põem automaticamente na fase de testes por não querer apresentar privilégios por sermos seus filhos e tal.

  Eu sei que é um pouco errado manipular um sorteio deste tipo ( ele irá sortear dois jogadores de cada município, escritos para os testes ), mas esta pode ser nossa única chance de nos aproximarmos do papai. Ele pode nos dar qualquer coisa que quisermos, mas ainda assim não nos da o mais importante: um pai.

  Às vezes sinto falta de mamãe. Sim, minha mãe morreu. Meus pais não eram divorciados, mas minha mãe, Sara, morava em Londres administrando outra parte da empresa. Essa outra parte, era a junção da empresa que minha mãe tinha, com a de meu pai, por razões, que acredito que seja, o amor mútuo por máquinas e tecnologia. Minha mãe era de origem inglesa, e tinha fundado uma pequena empresa em Londres para seguir o seu sonho. Ela e meu pai se conheceram, se apaixonaram e se casaram (típico). E como eles compartilhavam outro amor em comum, decidiram juntar as duas empresas e ampliá-las para torná-las um grande sucesso. Como a façanha funcionou (e muito bem, se tornando uma das maiores do mundo) com o passar dos anos, cada um cuidava de sua parte na empresa. Meu pai continuou por aqui e ficou com a maior parte à ser administrada, enquanto Jaden e eu morávamos com mamãe em Londres. Acabou que minha mãe sofreu um acidente no laboratório, durante um dos testes de um jogo de realidade virtual, e acabou morrendo. Decidiram então que eu e Jaden ficaríamos na América, pois a empresa em Londres seria fechada e só tínhamos família por aqui, em Nova York.

  Escuto Jaden estalando seus dedos diante de meus olhos, me tirando de meus devaneios. Volto à realidade em um pulo e o respondo:

  -Tudo bem, eu te ajudo...-Ele começa a sorrir e eu o interrompo- Mas com uma condição.

  -Qual? –Pergunta com uma expressão estranha.

  -Você vai ter que me pagar um sorvete -Digo fingindo estar séria.

  Jaden abre um sorriso radiante, que pensei que poderia rasgar sua cara. Então me envolve em um abraço apertado.

  -O que você quiser maninha. -Diz e me da um beijo na bochecha. Não pude evitar um sorriso e o abracei também. Raramente isso aconteçe, já que brigamos a maior parte do tempo, mas não impede as pequenas demonstrações de carinho.