Qual é a ética do brasileiro

Qual é a ética do brasileiro?

Murilo Massaru Anno

Pelo sentido literal da palavra, no dicionário Michaelis, ética é um conjunto de princípios, valores e normas morais e de conduta de um indivíduo ou de grupo social ou de uma sociedade, com isso, podemos dizer que o ato de classificar uma ação ou atitude como ética ou antiética esta intimamente ligado a educação e “bagagem” de vida do indivíduo. Para responder tal questionamento é inevitável olharmos para o passado cultural e histórico de nosso país a fim de refletirmos sobre o famoso e tão discutido “jeitinho brasileiro” que de acordo com Livia Barbosa (1992, p, 32) diz “que a grosso modo o jeitinho é sempre uma forma “especial” de se resolver algum problema ou situação difícil ou proibida, ou uma solução criativa para alguma emergência, seja sob forma de burla a alguma regra ou norma preestabelecida, seja sob forma de conciliação, esperteza ou habilidade.”        

        Já para Clóvis de Barros Filho, “ética é liberdade de escolha, possibilidade de escolher como queremos viver e má fé é o ato de negar a capacidade de fazer escolhas a fim de justificar comportamentos que não devíamos ter tido.”  

        Não há momento melhor para discutir essa questão ética, pois estamos vivendo uma época de grandes escândalos econômicos, conforme amplamente divulgado na mídia, a operação Lava Jato e o recente caso de delação dos executivos da JBS, em que foi revelado um esquema bilionário de propina para sustentar a expansão do grupo.  Escândalos esses que são de grande repercussão nacional e mundial e que podem passar uma imagem errada de nosso povo e nosso país, mas que infelizmente não é dada a devida importância para isso, pois culturalmente o povo brasileiro tende a esquecer de fatos importantes muito rapidamente ou o que é ainda pior, uma grande parcela da população não entende ou tem acesso a todo esse tipo de informação para ter uma opinião formada sobre o assunto.

        Isso se torna um grande círculo vicioso, a escassez no acesso a boa educação para grande parte da população, o fato de que alguns poucos membros da sociedade detêm poder e capacidade de influenciar os mais necessitados e a impunidade existente em nosso país. Por isso, a cultura do “jeitinho brasileiro” de sempre sair na vantagem fica cada vez mais evidente e o fato de fazer escolhas das quais o ser humano deveria se envergonhar e nunca praticar fica cada vez mais presente no dia a dia da população, gerando uma incerteza do que é certo e do que é errado.

        

Graças a essas discussões políticas e econômicas a questão ética está muito mais presente no cotidiano brasileiro e não estamos falando de quão grave é o fato, pois, furar fila, estacionar em vagas de idosos, roubar dinheiro público é sempre antiético. Portanto, como diz Leandro Karnal “Não cabe a cada um de nós implantar o paraíso no mundo, não é possível talvez, mas é possível imaginar que ao menos, que no pequeno universo, onde eu trabalho, na minha família, nas ruas da minha cidade quando eu dirijo, que aquele espaço seja mais ético possível, seja o mais cheio de valores, porque isso torna a vida viável, não porque tem alguém me olhando, mas porque, eu vivo naquele espaço. Chegou a hora de fazermos uma transformação, que começa com cada um de nós.”