Resenha Crítica do Livro Hiroshima de John Hersey
Por: Lygia Ribeiro • 16/11/2017 • Resenha • 531 Palavras (3 Páginas) • 973 Visualizações
HIROSHIMA, 1945: HISTÓRIAS DE VIDA E MORTE CONTADAS COM UM BOM JORNALISMO
Hiroshima é, com certeza, uma das melhores reportagens já escritas na história do jornalismo mundial. Não à toa, a reportagem produzida pelo premiado jornalista John Hersey para a revista The New Yorker fez com que seus 300 mil exemplares se esgotassem rapidamente assim que foi lançada, em 31 de agosto de 1946. Com uma sensibilidade e técnica únicas, John Hersey conseguiu transformar uma série de reportagens em um clássico do New Journalism, tido para muitos críticos e jornalistas como a obra que marcou o início do gênero no mundo e inspirou muitos outros profissionais a produzirem matérias que mesclavam apuração e descrição típicas do jornalismo com o ritmo e as formas ficcionais da literatura.
A reportagem, que posteriormente deu origem a um livro, traz o testemunho e a memória de seis sobreviventes da primeira bomba atômica, lançada pelos Estados Unidos no final da Segunda Guerra Mundial, que dizimou a vida de mais de 200 mil pessoas e deixou outras milhares mutiladas, feridas e doentes na pequena cidade de Hiroshima, no Japão. Mas a grandeza da reportagem de Hersey não acabou por aí. Quarenta anos mais tarde, o jornalista voltou à cidade, reencontrou seus entrevistados e completou sua obra com todos os fatos que ocorreram ao longo desses anos.
Desde o momento em que os seis depoentes viram um clarão silencioso que, em poucos minutos, deu forma a um cenário de destruição e desespero e marcou suas vidas para sempre até os últimos dias de Hersey em Hiroshima, é possível entender a história dos hibakushas – como foram nomeados pelos japoneses os sobreviventes à bomba atômica – como um momento que uniu a todos por um acontecimento em comum, mas que fez com que cada um, cada qual à sua maneira, lutasse para sobreviver física, psicológica e espiritualmente em um lugar onde só se via morte e caos.
Ainda que se considerasse neutro e imparcial quanto a defesa de qualquer tipo de ideologia política – atitude extremamente difícil no contexto de início de Guerra Fria em que publicou a reportagem – Hersey soube manter, na maior parte da obra, uma equidade do discurso, que pendeu mais para a humanização das vítimas do que para o apoio desta ou daquela perspectiva política. Ainda assim, seu livro sofreu algumas críticas por parte de governantes e jornalistas que o acusaram de ser excessivamente simpatizante com as vítimas da bomba e com seus pontos de vista sobre o episódio.
De qualquer forma, as vidas de Srta. Toshiko Sasaki, reverendo Kiyoshi Tanimoto, Sra. Hatsuyo Nakamura, Dr. Masakazu Fujii, Padre Wilhelm Kleinsorge e de Dr. Terufumi Sasaki deram luz à realidade vivida e enfrentada por todos aqueles que, literalmente, viveram na pele o impacto de uma bomba atômica, e encararam o terror com seus espíritos fortes e patrióticos. Sem fazer o uso de muitos eufemismos e metáforas, a narrativa crua de Hersey impacta, emociona e nos leva a questionar todas as noções de guerra e de paz, de vida e de morte que criamos. Para qualquer um que se interesse pela história contemporânea ou por um bom jornalismo literário, Hiroshima é leitura obrigatória.
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