A CÂMARA DE REFLEXÕES
Por: lucianot • 10/1/2020 • Trabalho acadêmico • 1.634 Palavras (7 Páginas) • 908 Visualizações
A∴G∴D∴G∴A∴D∴U∴
Ven∴ M∴,
Ir∴1°Vig∴, Ir∴ 2°Vig, AAut∴, MM∴II∴, IIl∴IIr∴
A CÂMARA DE REFLEXÕES
Introdução
Maçonaria é uma ordem iniciática, ritualística, filantrópica, filosófica, progressiva, evolucionista, cuja participação é franqueada a crença em um Ser Superior. Uma das condições para o ingresso na maçonaria, enquanto ordem iniciática, é a participação em um ritual de iniciação, ou seja, procedimento onde o participante é introduzido em alguma experiência misteriosa ou desconhecida (SOUZA, 2019).
A iniciação na maçonaria é marcada por um ritual, ou seja, um conjunto de atos e práticas próprias de uma cerimônia ritualística, cujo início se dá com a condução do profano, não maçom, candidato ao ingresso na ordem, para um local específico da loja maçônica, denominada câmara de reflexões.
O presente trabalho pretende dissertar de forma introdutória a respeito da câmara de reflexões, também chamada de câmara de reflexão, câmara de preparação ou câmara das reflexões; sua origem e objetivos no processo iniciático do maçom. Tal tema se justifica na medida em os objetivos de tal ritual podem não estar suficientemente claros ao maçom, sobretudo ao neófito, uma vez que a ritualística privilegia a experiência em detrimento do significado dos diferentes arquétipos que são apresentados ao pretendente, no momento do ingresso na ordem. Original do Luciano
1. Origem
Há um conto alegórico que aponta que a câmara de reflexões remonta a pouco menos de 1000 a.C., quando após a morte Hiram Abiff, mestre de construção do templo do Rei Salomão, seus algozes em fuga se escondem no interior de uma profunda gruta e, enquanto aguardavam para não serem pegos e castigados, passam a refletir quanto ao que haviam feito. Há quem relacione a câmara a um momento ainda mais antigo, nas cerimônias iniciáticas religiosas do início da Idade dos Metais, a longínquos 6000 anos a.C. (GODWIN, 2016).
Nos parece, contudo, ser mais provável que a inspiração original venha da alegoria da caverna, encontrada na obra “A República” de Platão, onde um sujeito vive em uma câmara e tem uma visão limitada do universo em que se encontra, “despertando” para um universo expandido quando se liberta do local onde estava e expande seus horizontes (PLATÃO, 1997). A natureza hermética (uma tradição religiosa, filosófica e esotérica baseada principalmente nos escritos atribuídos a Hermes Trismegistus) de seu simbolismo aponta para influência direta ou indireta da ordem Rosacruz.
Ambelain (1990) sugere que os rosacruzes se infiltraram deliberadamente em lojas maçônicas para espalhar suas ideias. Dentre os elementos que podem dar evidências dessa tese, estão os graus rosacruzes da maçonaria, que apareceram em alguns ritos franceses durante a segunda metade do século XVIII. A forma da câmara quase não mudou desde então, com pequenas variações entre jurisdições.
Registros históricos apontam que a Câmara de reflexões nasceu praticamente junto com a maçonaria expectativa, sendo inserida no ritual maçônico na França por volta de 1750 e, desde então, vem sendo praticado mais comumente no Rito Escocês Antigo e Aceito, no Rito Francês e em jurisdições relacionadas (L’EDIFICE EDITIONS, 2012).
2. A câmara secreta
Um local sigiloso da loja, onde cada um entra, na maioria das tradições, uma única vez em sua vida maçônica. É construído num lugar pouco divulgado entre os obreiros, maçons que frequentam os encontros regulares, e disfarçado de diversas maneiras, seja com uma entrada secreta, de tamanho pequeno que imita o ventre da terra, uma gruta ou um túmulo (COUTO, 2009). Sendo a Iniciação Maçónica um rito de passagem, a mesma obedece sempre a uma estrutura ternária, em cuja fase preliminar, ou de separação, se isola o candidato do mundo que o rodeia, preparando-o para a fase central da cerimónia (SANTOS, 2012).
O candidato adentra ao templo com seus olhos cobertos e é conduzido em seu interior dessa forma. Apenas após entrar na câmara de reflexões é que a ele é permitido se desvendar, para que lá desvende aquele ambiente e, principalmente, desvende seu íntimo. É, portanto, o primeiro ambiente maçônico ao qual, normalmente, o então profano tem contato. É na câmara das reflexões que ocorrerá a decisão do candidato quanto a continuidade do ritual iniciático, sendo a ele facultado desistir e retornar ao mundo profano.
O candidato é colocado por um tempo na Câmara de Reflexão, portanto, a fim de meditar e considerar quanto a como a Maçonaria está prestes a mudar sua vida (GRANDE ORIENTE DO BRASIL, 2009). Ele recebe uma série de perguntas para responder. O candidato é convidado a refletir quanto ao cumprimento de seus deveres com Deus, para com o próximo e para consigo mesmo. Finalmente, ele também é convidado a fazer um testamento filosófico e moral. No final deste período, se o candidato assentir em continuar, será é levado para iniciação (CASTELLANI, 1987).
Logo, trata-se de um recinto especialmente apropriado para que o candidato volte seus pensamentos para seu interior e reflita quanto sua vida fugaz, não apenas na perspectiva material, mas pensando em valores espirituais, obrigações morais e sociais a cumprir, examinando sua consciência em um necessário autoexame precedente ao ritual de iniciação (SEGURA, 1997).
2.1 Características da câmara
A câmara de reflexões, como dissemos, deve inspirar seu usuário a refletir sobre sua vida e os caminhos trilhados até então. Diz-se que tais reflexões se dão no ser humano quando este aproxima-se de sua morte. Quantas pessoas que chegaram a beira da morte não declararam ter visto tudo o que aconteceu em sua vida passando diante de seus olhos?
Assim, esse espaço deve simular um clima sepulcral. Uma luz fraca, preferencialmente uma vela, ilumina o ambiente de forma falha. As paredes em luto são todas na cor negra, onde podem-se ler fases morais e emblemas fúnebres que provocam a reflexão do candidato e o instiga a perceber que nada o impede de voltar para o mundo profano, mas que se seguir em frente será um caminho sem volta: o caminho da iluminação. Um esqueleto ou pelo menos uma caveira decorra o ambiente, lembrando ao candidato do inevitável fim que o espera. A mobília desse recinto consiste em uma cadeira e uma mesa coberta com um pano branco sobre o qual estão papel, caneta e outros elementos (RAGON, 2015, p. 47).
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