A Origem da Desigualdade entre os Homens em Rousseau
Por: Alvino Vieira • 14/10/2020 • Trabalho acadêmico • 1.316 Palavras (6 Páginas) • 417 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
Alvino Luis Evangelista da Costa Vieira
RA: 773438
Disciplina: Ética e Filosofia Política
Prof. Dr. Luiz Henrique Alves de Souza Monzani
Data: 12/10/2020
“A Origem da Desigualdade Social entre os Homens em Rousseau”
Com o objetivo de responder a uma questão proposta pela Academia das Ciências, Artes e Belas Letras de Dijon – “Qual é a origem da desigualdade entre os homens e se ela é autorizada pela lei natural?” -, Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) apresenta seus estudos sobre o tema no “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, publicado em livro no ano de 1755, onde procura descrever a origem histórica da desigualdade social, analisando para isso, de forma teórica, o ser humano em seu estado de natureza e demonstrando que toda ingenuidade e bondade do homem natural foram substituídas com tempo pelas contaminações da vida em sociedade.
Para adentrar efetivamente na “origem da desigualdade” precisamos antes dizer que Rousseau entende o estado de natureza como um estado no qual o homem vivia de maneira bem aproximada com a vida dos animais e dependendo exclusivamente da natureza para sobreviver. E ainda tinha nessa vida, como inimigos mais temíveis, “... as enfermidades naturais, a infância, a velhice e as doenças de toda espécie...”, e a vida dessa forma tornava o homem natural forte, corajoso, totalmente independente, vivendo então totalmente sem vícios ou virtudes, ou ainda, não eram nem bons e nem eram maus, e não o eram exatamente pelo motivo de não saber distinguir o bom ou o mal, de não conhecer a vaidade, as paixões, o desprezo, etc.
Rousseau afirma então que a capacidade do homem de se aperfeiçoar o fez evoluir, mas essa evolução não trouxe apenas coisas boas, tais como o progresso, mas fez com que o homem natural perdesse sua ingenuidade e o conduziu a um caminho até então desconhecido, caminho esse de corrupção ética, moral e social, e é exatamente aí que surge o que para Rousseau se tornaria a principal fonte de desigualdade social, de violência entre iguais, entre tantas outras mazelas até então desconhecidas do homem, a instituição da propriedade privada.
“Enquanto os homens se contentaram com suas cabanas rústicas, enquanto se limitaram a costurar com espinhos ou com cerdas suas roupas de peles, a enfeitar-se com plumas e conchas, a pintar o corpo com várias cores, a aperfeiçoar, ou embelezar arcos e flechas, a cortar com pedras agudas algumas canoas de pescados ou alguns instrumentos grosseiros de música – em uma palavra: enquanto só se dedicaram a obras que um único homem podia criar, e a artes que não solicitavam o concurso de várias mãos, viveram tão livres, sadios, bons e felizes quanto o poderiam ser por sua natureza, e continuaram a gozar entre si das doçuras de um comércio independente; mas, desde o instante que um homem sentiu a necessidade do socorro de outro, desde que se percebeu ser útil a um só contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade, introduziu-se a propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas transformaram-se em campos aprazíveis que se impôs regar com o suor dos homens nos quais ligo se viu a escravidão e a miséria germinarem e crescerem com as colheitas.” (ROUSSEAU, 1925)
Para Rousseau a propriedade privada foi a causa da corrupção do homem, pois é exatamente nesse momento que a vida em sociedade se inicia e com ela o homem deixa seu estado natural, pervertendo-se e se deixando levar por condutas egoístas que visam apenas interesses particulares na busca pela tal propriedade. Rousseau vai além ao afirmar que “... o primeiro que, ao cercar um terreno, teve a audácia de dizer ‘isto é meu’ e encontrou gente bastante simples para acreditar nele foi o verdadeiro fundador da sociedade civil...” e que as guerras, assassinatos, crimes, e tantos horrores que após isso ocorreram não aconteceriam se nesse momento alguém arrancasse tal cerca e gritasse aos demais : “... Não escutem esse impostor! Estarão perdidos se esquecerem que os frutos são de todos e a terra é de ninguém...”
Nesse ponto que Rousseau afirma que “nasce” a desigualdade, no mesmo momento em que surge a propriedade. E nasce também a malevolência entre os homens, pois em seu estado natural tudo era de todos, bem diferente do que a instituição da propriedade e da sociedade trouxe e vemos hoje.
E é por meio desse ato de tomar posse da terra que a propriedade passa a causar as desigualdades entre os que a têm, ao invés de manter sua origem e dar bons frutos para todos sem distinção, ou como diz a música “Canção da Terra”, do O Teatro Mágico, “... o latifúndio é feito um inço que precisa acabar, romper as cercas da ignorância, que produz a intolerância, terra é de quem plantar...” . Rousseau afirma que é a partir da aquisição de bens que os homens passam a ser desiguais entre si, e os sentimentos que outrora eram apenas de busca pela própria sobrevivência desaparecem e deram espaço a sentimentos que são totalmente o contrário da ingenuidade e bondade do homem natural, e tais sentimentos passam a corromper o homem tanto no corpo como no espírito.
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