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Discurso sobre a origem e as causas da desigualdade entre homens

Por:   •  12/3/2018  •  Resenha  •  1.361 Palavras (6 Páginas)  •  476 Visualizações

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Análise de leitura do ‘’Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens’’ de Jean-Jacques Rousseau

De início, Rousseau separa sua obra em duas partes: Na primeira, o homem é analisado em seu estado natural e estado civilizado. Na segunda, é defendida a ideia de que as desigualdades têm sua origem nesse estado de sociedade, isto é, num primeiro momento, o homem é equiparado aos animais quanto aos seus instintos de sobrevivência e formação de ideias. Sendo assim, as principais diferenças ficam claras no fato de que o homem enfrenta problemas pelos quais os outros animais não são afetados ou com os quais não se preocupam antecipadamente: as enfermidades naturais, infância, velhice e doenças.

O autor faz também uma distinção das duas desigualdades existentes: a desigualdade natural ou física e a desigualdade moral ou política. A desigualdade natural não é o objetivo dos estudos de Rousseau, pois esta desigualdade não submeteu um homem a outro. A origem da desigualdade moral ou política é o que importa para Rousseau, pois esta explicará muito da realidade vivida na época da produção da obra e até os dias atuais.

Rousseau evidencia que o homem do estado natural está distante do homem que temos conhecimento (o homem da sociedade). Expressa, ainda, o descontentamento diante do estado em que o homem se encontra, e afirma que em certo momento desejaria o homem ter parado, ou quem sabe retroagir.

O autor trata em toda a primeira parte do Discurso do homem natural, rebatendo as teses de Hobbes, e outros que tratam do mesmo assunto, mas que enxergavam o homem natural a partir da visão do homem social. Partindo de sua teoria dos dois princípios básicos que regem a alma humana, Rousseau descreve o homem natural como um ser solitário, que possui de um instinto de autopreservação, dotado de sentimento de compaixão por outros de sua espécie, e possuindo a razão apenas potencialmente. O sentimento de comiseração pode ser visto também como instinto ou um mecanismo de autopreservação da espécie. Rousseau não vê na vida do homem natural, motivos que o levem à vida em sociedade. O homem natural vive o presente, é robusto e bem organizado, apesar de não possuir habilidades específicas, pode aprendê-las todas, é inocente, pois não possui noções do bem e do mal e possui duas características que o distingue dos outros animais que são a liberdade e a perfectibilidade, a última é um neologismo criado por Rousseau para exprimir a capacidade que o homem possui de aperfeiçoar-se.

Utilizando como exemplo o estudo sobre a origem da linguagem, o autor evidencia a falta de ligantes entre o homem natural e o homem social, sendo que a transformação do homem natural para o homem social, que caracteriza a origem das desigualdades, trata-se de influência de um fator externo e não de uma criação do próprio homem.

Depois de descrever o homem natural, Rousseau usufrui de uma história hipotética para mostrar como se deu à passagem do estado natural para o estado social, mostrando, desta forma, como surgiu a desigualdade entre os homens. A ideia de perfectibilidade está na base de toda esta transformação.

Inicialmente, homem natural havia necessidades voltadas para sua pura sobrevivência. Contudo, com o surgimento de inconveniências, como alteração climática, busca por mantimentos, a necessidade de refúgio e proteção contra animais, entre outros, impôs ao homem a necessidade de vencer estes empecilhos adquirindo competências (por meio da perfectibilidade), tais como domínio da pesca, caça, vínculo com outros homens, edificação de abrigos forçando-os a se manter mais tempo em uma única localidade, tornando as relações usuais devido ao convívio com outros homens, dando espaço, portanto para a constituição de famílias, criando laços conjugais e paternais. A convivência entre pessoas cria a necessidade de comunicação dando espaço para o surgimento de formas de linguagem e uma noção (ainda que básica) sobre propriedade passa a existir. Sendo mais fácil superar as dificuldades que surgiam em grupo, as famílias passam a conviver com maior proximidade de outras dando origem as primeiras comunidades e originando os primeiros deveres de civilidade, decretando inclusive o fim do nomadismo.

Acreditava Rousseau que o patamar que o ser humano havia atingido até então deveria ter sido o último, sendo que com esta forma simples de convivência a felicidade seria partilhada a todos os homens constituintes desta comunidade. A perfectibilidade, portanto, interferiu vigorosamente não permitindo que a evolução dos comportamentos sociais fosse paralisada naquele ponto, fazendo com que a competição entre os moradores surgisse criando contrastes entre o melhor e pior caçador, o mais forte e mais fraco, destacando sempre o melhor em alguma categoria. Em paralelo, o surgimento da agricultura e metalurgia passa a fazer parte da realidade da época gerando a divisão do trabalho versus reinvindicação das terras, sendo que aquele mais trabalhava adquiria o direito a terra. Após esta, “Grande Revolução” (assim denominada por Rousseau) nasce a primeira grande desigualdade: a riqueza e a pobreza. Inclusive, em meio a esta cena desarranjada que os homens resolveram estabelecer leis para se protegerem, algumas voltadas para manutenção de suas próprias propriedades e outras para se resguardarem contra o abuso dos mais poderosos. Aqueles sem terras e trabalho, marginalizados, passaram então a recorrer ao único meio de subsistência que encontraram que envolvia a prática de roubo/furto. A riqueza emergiu e trouxe consigo sentimentos inseparáveis da mesma, como a cobiça, desprezo, ambição, vergonha, levando cada um a ser mais egoísta. Os atos mesquinhos dos ricos e as pressões nos pobres criaram um ambiente hostil denominado por Rousseau por o “mais horrível estado de guerra”. Os ricos sentindo-se ameaçados e preocupados em manter suas posses, controlavam os menos afortunados por meio de discursos e sugerindo uma falsa união por meio da criação de leis que defendessem a todos. Com o estabelecimento destas leis perdeu-se a liberdade natural e a lei da desigualdade e da propriedade são fixadas.

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