Bori – Prática Terapêutica e Profilática
Por: PorcoPorco • 30/11/2016 • Trabalho acadêmico • 409 Palavras (2 Páginas) • 157 Visualizações
Bori – prática terapêutica e profilática
A existência do Terreiro como espaço social revela, de forma particular, a interação entre espaço/corpo/cultura, experimentada em relações materiais e sobrenaturais, e, especialmente, na transmissão de saberes e conhecimentos que mantêm a vitalidade das práticas religiosas tradicionais trazidas pelos povos africanos às terras brasileiras. O candomblé, enquanto alternativa e/ou complementaridade terapêutica, se apresenta como uma possibilidade entre as várias opções cujo contexto sociocultural permite e estabelece múltiplas escolhas de diagnósticos e tratamentos. O reconhecimento de que alguém está doente ou em desequilíbrio faz com que sejam acionados mecanismos comunitários de solidariedade e pertença que promovem, no indivíduo, a segurança que ele não encontraria fora do Terreiro. O fato de saber que podem ser ouvidos, que há pessoas dispostas a aceitá-los sem fazerem muitas perguntas, faz aflorar sentimentos que, muitas vezes, os indivíduos consideravam perdidos. Em vista desta situação, após alguns meses de envolvimento com os preceitos e práticas das religiões afro-brasileiras, as pessoas que buscam ajuda e que, porventura, tenham sua saúde renovada se consideram prontas para fazer frente ao desafio que representa uma iniciação. Esta situação, em última análise, seria o “pagamento” ou o agradecimento feito à entidade pelo restabelecimento da saúde/equilíbrio que o indivíduo adquiriu no âmbito da religiosidade. Elementos comunicativos, interações sociais e acolhimentos são registrados no momento da consulta. Contudo, a primazia do sobrenatural é a marca deste processo terapêutico, não permitindo espaços para questionamentos acerca das prescrições ou dos elementos a serem utilizados. Isto nos permitiu compreender que os mecanismos que resultam em uma escolha terapêutica associada às religiões afro-brasileiras são resultantes de uma percepção específica sobre o adoecimento; este surge então como sendo fruto de um processo sociocultural. Assim, ao perceber a incidência e o aparecimento da doença, os indivíduos acabam por buscar ajuda em diversos sistemas, sejam biomédicos ou não, sem acreditar que a adesão a um ou a outro trará prejuízos. Assim, diante da pluralidade religiosa apresentada na modernidade e, especialmente, na sociedade brasileira, o candomblé, ou seus saberes, como um complexo sistema religioso, consegue conjugar nos laços de parentesco mítico que estruturam a lógica da religião a possibilidade de o indivíduo reconstruir laços que ou ele nunca possuiu ou que estão fragmentados, rompidos. A certeza da aquisição de uma família extensa (pai, mãe, irmãos, tios) concede ao indivíduo o suporte necessário para que ele vença seus desafios e desequilíbrios.
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