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EQUÍVOCOS NA FORMAÇÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO NA CONTEMPORANEIDADE

Por:   •  15/10/2019  •  Artigo  •  1.481 Palavras (6 Páginas)  •  142 Visualizações

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EQUÍVOCOS NA FORMAÇÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO NA CONTEMPORANEIDADE

Renato Escobar de escobar[1]

Filosofia Contemporânea

Resumo: O presente artigo tem a pretensão de fazer um breve apanhado da problemática do pensamento crítico em autores como Platão e Hannah Arendt, à luz dos acontecimentos do passado, em contraponto à nossa contemporaneidade, tentando estabelecer um paralelo entre as questões antigas e as atuais, nas visões de autores mais recentes como Gianni Vattimo, alertando para o quanto essa problemática ainda continua sendo atual. Em consequência a sociedade vê surgir um pensamento destituído de razão, em função de conceitos pré-estabelecidos, e errôneos. Não raro, a dimensão dessa problemática contribui para o recrudescimento da violência e da intolerância. Na sequência será feito um alerta para os equívocos dos pretensos pensamentos críticos, e ao final um ensaio para o levantamento de possíveis respostas.

Palavras-chave: Atualidade. Contemporaneidade. Pensamento crítico. Sociedade.

INTRODUÇÃO

Prestemos atenção aos seguintes textos transcritos das obras assinaladas, à guisa de introdução para o que será explanado mais adiante:

Texto 1

“Estas – a natureza e a lei – as mais das vezes se opõem mutuamente; quando, pois, alguém, por acanhamento, não ousa dizer o seu pensamento, tem de, à força, dizer o contrário. [...] De fato, perante a natureza, é sempre mais vergonhosa a alternativa pior, isto é, sofrer a injustiça; perante a lei, é cometê-la. [...] isso de sofrer injustiça nem é próprio de homem, senão de algum escravo, para quem melhor é morrer do que viver, incapaz de valer a si mesmo ou a outrem de sua estima, quando injustiçado e ultrajado. A lei, [...] quem a cria são os homens fracos, a maioria. É em vista de si mesmos e de suas próprias conveniências que eles criam as leis, formulam os louvores e os vitupérios; como temem aos homens mais robustos e capazes de prevalecer sobre eles, para não serem sobrepujados, declaram vergonhoso e iníquo prevalecer e que a justiça consiste nisso, em procurar avantajar-se aos outros; é uma satisfação para eles, [...] inferiores que são, acharem-se no mesmo nível. Por isso a lei declara iníquo e vergonhoso a tentativa de prevalecer à maioria e chamam a isso praticar injustiça; mas a própria natureza, [...] demonstra, de outro lado, que é justo prevalecer o melhor sobre o pior, quem pode mais, sobre quem pode menos. Ela aponta em inúmeros exemplos, assim entre os outros viventes, como em inteiras cidades e nações de seres humanos; o direito está assim assentado: que o melhor mande no pior e sobre ele prevaleça. Se não, com que direito Xerxes marchou contra a Grécia ou o seu pai contra a Cítia, ou o infinito número de casos semelhantes que se poderiam citar? Ora, [...] homens como aqueles procedem de acordo com a natureza do justo e [...] a lei da natureza.”(PLATÃO, Diálogo Górgias, 483a – 483e_escrito em 380 a.C.)

Texto 2

“O grito ‘Morte aos judeus!’ varreu o país. [...] – na verdade em toda parte - , explodiam tumultos anti-semitas, invariavelmente atribuíveis à mesma fonte. A indignação popular espoucava em todo canto, no mesmo dia e exatamente à mesma hora. [...] a ralé assumia ares militares. Tropas de choque anti-semitas surgiam nas ruas para assegurar-se de que todo comício [...] terminasse em sangreira. A cumplicidade da polícia era patente em toda parte.”(ARENDT, 1998, p.133 – referindo-se ao episódio Dreyfus, ocorrido na França em 1894. Hannah escreveu o livro em 1949).

Estas introduções são apenas um resumo, necessário para o entendimento do presente artigo, o qual tem a pretensão de fazer uma breve demonstração do quão antigos são estes problemas, e ao mesmo tempo, de quão longe ainda estamos de solucionar esta questão.

O PROBLEMA DO EQUÍVOCO

Estamos vivendo em uma era onde somos constantemente bombardeados por uma avalanche de informações pela grande mídia. Aliado a isso temos igualmente uma torrente de conteúdos oriundos de fontes duvidosas, ou no mínimo sem referências, sendo replicadas incessantemente pelas redes sociais.

É bem verdade que esse fenômeno pode ser um aliado no processo de emancipação humana, como define Gianni Vattimo, em sua obra A Sociedade Transparente, ao chamar essa globalização da informação de “mass media”, mas é forçoso admitir também que esse aliado, em mãos erradas pode facilmente pender para o lado oposto, e de aliado, passar a inimigo do processo de formação cidadã do ser humano no seu meio social.

Refiro-me à tendência, quase um automatismo, verificada na questão da replicação de posts, sem qualquer critério de averiguação, ou de checagem de fontes. Realmente, é mais fácil simplesmente replicar, principalmente se o tema condiz com o que pensamos. Não passa sequer pelas nossas cabeças, que talvez possamos estar errados em nossas assertivas. Caímos fácil na falácia da concordância: “Se a informação tem a ver com o que penso então ela é uma verdade”. E daí a replicar sem checar as fontes, parece algo natural.

Estamos vivendo uma era em que não queremos saber se estamos certos ou errados. “Provavelmente estou certo, logo o que penso é uma verdade”. Não queremos aventar a hipótese de talvez estejamos errados. Não queremos correr o risco de que talvez estejamos errados, seria vergonhoso. É mais fácil prosseguir na “certeza” do senso comum. Afinal é só procurar na internet. Na internet encontro a resposta que quero, aquela que corrobora com o que penso. Se existir outras respostas contrárias, desconsidero. Não interessa para o meu propósito. Qualquer outra informação não condizente com o que penso é filtrada, logo tenho à disposição uma montanha de verdades escolhidas.

É a individualidade levada ao extremo. Apregoada por uma pretensa ideologia de liberdade de pensamento. Como se a liberdade fosse a garantia suprema da certeza de nossas assertivas.

EMANCIPAÇÃO

“A tese que pretendo propor é que na sociedade dos media, em vez de um ideal de emancipação modelado pela autoconsciência completamente definida, conforme o perfeito conhecimento de quem sabe como estão as coisas (seja ele o Espírito Absoluto de Hegel ou o homem não mais escravo da ideologia, como é pensado por Marx), abre caminho a um ideal de emancipação que tem antes na sua base a oscilação, a pluralidade, e por fim o desgaste do próprio <>. (VATTIMO, 1989, p.13).

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