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Fichamento: Investigação sobre o entendimento humano - David Hume

Por:   •  9/4/2018  •  Resenha  •  1.860 Palavras (8 Páginas)  •  1.238 Visualizações

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HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano. Seção IV: Dúvidas céticas sobre as operações do entendimento, parte 1, pp. 53-61.

Estrutura geral do texto:

§1-2: Todos os objetos da razão podem ser divididos em relações de ideias e questões de fato.

§3: Como podemos fundamentar nossos raciocínios sobre questões de fato?

§4-5: Todos os raciocínios sobre questões de fato parecem fundar-se na relação de causa e efeito.

§6-8: O conhecimento de relações de causa e efeito não é alcançado por raciocínios a priori, mas provém inteiramente da experiência.

§9-11: Todo efeito é um acontecimento distinto de sua causa e, por isso mesmo, não poderia ser descoberto nela.

§12-13: A razão é incapaz de chegar às causas últimas das operações dos corpos e seu máximo alcançável é a redução dos princípios a algumas causas simples e gerais.

Texto:

§1. “Todos os objetos da razão ou investigação humanas podem ser naturalmente divididos em dois tipos, a saber, relações de ideias e questões de fatos” (p. 53).

Relações de ideias: toda afirmação que é intuitiva ou demonstrativamente certa. Por exemplo, as ciências da geometria, álgebra e aritmética.

Que o quadrado da hipotenusa é a soma do quadrado dos catetos é uma proposição que expressa uma relação entre essas grandezas.

“Proposições desse tipo podem ser descobertas pela simples operação do pensamento, independente do que possa existir em qualquer parte do universo” (p. 53).

§2. As questões de fato não são apuradas da mesma maneira e tampouco a evidência de sua verdade é da mesma natureza que a precedente.

“O contrário de toda questão de fato permanece sendo possível, porque não pode jamais implicar contradição, e a mente o concebe com a mesma facilidade e clareza, como algo perfeitamente ajustável à realidade” (p. 54).

Que o sol não nascerá amanhã não é uma proposição menos inteligível do que a afirmação de que ele nascerá. Tampouco implica contradição e seria vão tentar demonstrar sua falsidade.

Caso fosse demonstrativamente falsa, implicaria em contradição e a mente não poderia concebê-la distintamente.

§3. “Assim, pode ser um assunto digno de interesse investigar qual é a natureza dessa evidência que nos dá garantias quanto a qualquer existência real de coisas e qualquer questão de fato, para além do testemunho presente de nossos sentidos ou dos registros de nossa memória” (p. 54).

Tantos os antigos quanto os modernos pouco se empenharam nestas investigações, o que torna mais desculpáveis os erros e hesitações que poderão resultar desta empreitada, a ser feita por trilhas difíceis sem guia ou orientação.

Esses erros podem até ser úteis ao abalar aquela fé e segurança irrefletidas que são a ruína de todo raciocínio e de toda investigação imparcial.

§4. “Todos os raciocínios referentes a questões de fato parecem fundar-se na relação de causa e efeito. É somente por meio dessa relação que podemos ir além da evidência de nossa memória e nossos sentidos” (p. 54).

Alguém questionado quanto a ausência de uma pessoa apresentaria alguma razão para tal, e essa razão seria algum outro fato, como uma carta recebida dessa pessoa.

Um homem caminhando em uma ilha deserta que se depara com um relógio, julgaria que homens estiveram antes nessa ilha.

“Todos os nossos raciocínios relativos a fatos são da mesma natureza. E aqui se supõe invariavelmente que há uma conexão entre o fato presente e o fato que dele se infere. Se nada houvesse que os ligasse, a inferência seria completamente incerta” (p. 55).

Uma voz ouvida na escuridão nos assegura da presença de uma pessoa, dado que a articulação de uma voz e um discurso com sentido é do feitio do ser humano.

Todos os outros raciocínios dessa natureza se fundam na relação de causa e efeito, seja se apresentando como próxima ou remota, direta ou colateral.

§5. “Assim, se quisermos nos convencer quanto à natureza dessa evidência que nos assegura quanto a questões de fato, devemos investigar como chegamos ao conhecimento de causas e efeitos” (p. 55).

§6. O conhecimento dessa relação não é, em nenhum caso, alcançado por meio de raciocínios a priori, mas provém diretamente da experiência, por meio da descoberta de que alguns objetos particulares acham-se constantemente conjugados uns com os outros.

Mesmo o homem dotado da mais alta capacidade mental e perceptiva, frente a um objeto inteiramente novo, jamais poderia, pelo raciocínio puro ou pelo exame das qualidades sensíveis deste objeto, descobrir suas causas ou efeitos.

“Nenhum objeto jamais revela, pelas qualidades que aparecem aos sentidos, nem as causas que o produziram, nem os efeitos que dele provirão; e tampouco nossa razão é capaz de extrair, sem auxílio da experiência, qualquer conclusão referente à existência efetiva de coisas ou questões de fato” (p. 56).

§7. Relações de causa e efeito são conhecidas não pela razão, mas pela experiência: lembremo-nos de nossa inabilidade em prever o que resultaria de objetos totalmente desconhecidos para nós no momento de nosso contato com eles.

Também no caso de fenômenos com pouca analogia com o curso ordinário da natureza nos vemos incapazes de extrair quaisquer conclusões acerca deles por meio de raciocínios a priori, pois eles só podem ser conhecidos pela experiência. Ninguém poderia prever a priori que a pólvora explodiria quando em contato com o fogo.

De modo análogo, quando um efeito depende de um complicado mecanismo ou estrutura de partes, o conhecimento dele é obtido através da experiência.

§8. “Mas essa mesma verdade pode não parecer, à primeira vista, dotada da mesma evidência no caso de acontecimentos que nos são familiares desde que viemos ao mundo, que apresentam uma íntima analogia com o curso geral da natureza, e que supomos dependerem das qualidades simples de objetos sem nenhuma estrutura secreta de partes” (p. 57).

Neste caso, tendemos a pensar que podemos descobrir estes efeitos pela simples aplicação de nossa razão, sem recurso à experiência.

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