Fichamento Vandana Shiva Monoculturas da Mente
Por: evertonemelo • 5/7/2021 • Ensaio • 920 Palavras (4 Páginas) • 467 Visualizações
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGeo
Disciplina: GE1009 – Tópicos Especiais em Geografia Agrária
Professora: Mônica Cox
Aluno: Everton Melo
FICHAMENTO
TEXTO: SHIVA, Vandana. Monoculturas da mente: perspectiva da biodiversidade e da biotecnologia. São Paulo: Gala, 2003. Trad. Dinah de Abreu Azevedo.
Nesse escrito Vandana Shiva desenvolve uma crítica a ideologia dominante da globalização, a qual se refere como uma metáfora de “monoculturas da mente”. Em sua reflexão, a monocultura começa na mente, e posteriormente alcança o solo. O pré-requisito para isso é que exista um grupo ou um sistema que se mostre autodeterminante, em particular no que diz respeito ao conhecimento e à cultura, e que crie mecanismos para disseminar e impor seu pensamento e visão de mundo a outras sociedades.
De início a autora salienta o papel desempenhando pela política no mundo globalizado que busca eliminar os sistemas de saber locais, dada a sua hegemonia na difusão da informação e por conseguinte na subjugação do saber local. Segundo Shiva, ignorar e negar a existência dos diversos sistemas de saber é um dos aspectos do sistema dominante da globalização. Outro aspecto desse sistema é a ideia de que o saber ocidental é universal, no entanto, segundo a autora, esse saber dito universal é local, com uma base social localmente situada.
Shiva salienta a relação entre saber e poder característicos do sistema dominante, cuja fundamentação decorre da ascensão do capitalismo. Segundo a autora, a produção do saber dominante se apoia na dominação e a forma como transforma a natureza e a sociedade provoca desigualdades, além disso, as alternativas a esse sistema são desqualificadas de legitimidade. Segundo a autora, ainda que o saber ocidental seja produto de uma cultura particular, portanto, uma “tradição local globalizada”, esse saber dominante é considerado universal e superior aos demais sistemas de saber.
De acordo com a autora, a dicotomia local/global é desvirtuada na esteira desse sistema de saber dominante, pois o saber local globalizador se dissemina por meio da violência e da subjugação. Essa violência se traduz primeiramente pela negação da existência do outro saber local. Nesse sentido, a negação, segundo Shiva, é a primeira dimensão da violência que provoca o colapso dos sistemas de saber local ao serem confrontados com o saber dominante. Este, por sua vez, considera os outros sistemas de saber local como “anticientífico” e “primitivo” que com o tempo acaba desaparecendo pela negação da sua legitimidade evidenciando, desse modo, outra dimensão da violência do saber ocidental.
Para exemplificar a metáfora da monocultura mental as reflexões são trazidas para o âmbito da agricultura e da silvicultura, ressaltando que a proposta do modelo ocidental moderno para essas práticas é a expressão concreta do conhecimento hegemônico e das imposições do mercado global, criando homogeneidade e eliminando a diversidade. Shiva reflete particularmente sobre a cultura do eucalipto e as sementes VAR (Variedades de Alto Rendimento).
Nesse sentido, a autora faz um contraponto entre as concepções do saber tradicional e o saber dominante. Enquanto o primeiro considera a floresta e o campo como um continuum ecológico, portanto, impassível de ser dividido artificialmente para fins unicamente comerciais, o segundo concebe a biodiversidade passível de ser dividida como fonte exclusiva de recurso e lucro, a exemplo da produção de madeira e da mercadoria em forma de alimento.
Ao refletir sobre diversas realidades incluindo a do seu país, a índia, a autora ressalta as implicações da invasão das monoculturas de eucalipto e das espécies geneticamente modificadas na agricultura representadas pela VAR, e como muitas espécies nativas foram substituídas por monoculturas. As monoculturas do eucalipto, espécie estrangeira, substituiu as árvores nativas, porque foi considerada a melhor espécie para a produção na silvicultura dada a importância para a indústria do papel e, nesse contexto, a vegetação local foi considerada sem valor pelo saber dominante.
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