Fábula de três raças ou o problema do racismo brasileiro
Artigo: Fábula de três raças ou o problema do racismo brasileiro. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: rafael1902 • 21/10/2014 • Artigo • 1.593 Palavras (7 Páginas) • 337 Visualizações
“A fábula das três raças ou o problema do racismo à brasileira”
Alguns trechos para reflexão:
O racismo contido na “fábula das três raças”, que floresceu do final do século até hoje, tanto no campo erudito como no popular decorre da dificuldade de se pensar o Brasil e nossa hierarquia social.
Há uma “ideologia abrangente” permeando todas as camadas e espaços sociais: “preguiça do índio”, “melancolia do negro”, a “cupidez” e “estupidez”, do branco lusitano, responsáveis, nessa visão popular, pelo nosso atraso econômico e social, indigência cultural e a nossa necessidade de autoritarismo político, fator corretivo básico neste universo social que, entregue a si mesmo, só poderia degenerar. Assim, é o caso de perguntar se o racismo do famoso Conde de Gobineau está realmente morto!
É uma faceta da história do Brasil vista pelo seu prisma mais reacionário: como uma história de “raças”, não de homens.
O conhecimento social assim, se reduz a algo “natural”, como “raças”, “miscigenação” e traços biológicos de raças.
A fábula das três raças junta as 2 pontas da nossa cultura: o popular e o elaborado. Os três elementos: o branco, o negro e o indígena, claro que foram importantes na nossa história, mas há uma diferença entre a presença empírica dos elementos e seu uso como recurso ideológico na construção da identidade social brasileira.
Nos EUA, o recorte branco colonizador, índio e negro, formavam elementos visíveis empiricamente, negros e índios sendo colocados nos pólos inferiores de uma espécie de linha perpendicular, onde sempre os brancos figuravam acima- não há escala- ou se é índio ou negro, ou não é, não há gradações que possam pôr em risco aqueles que têm pleno direito à igualdade.
Nos EUA, não há um “triângulo de raças” e parece ser sumamente importante considerar como esse triângulo foi mantido como um dado fundamental na compreensão do Brasil pelos brasileiros. E mais, como essa triangulação étnica pela qual se arma geometricamente a “fábula das três raças”, tornou-se uma ideologia dominante, abrangente, capaz de permear a visão do povo, dos intelectuais, dos políticos e acadêmicos de esquerda e de direita, uns e outros gritando pela mestiçagem e se utilizando do “branco”, do “negro” e do “índio” como unidades básicas que explicam a exploração ou a redenção das massas.
As hierarquias sociais do “Antigo Regime”, ou seja, o regime anterior à Revolução Francesa, eram fundadas nas leis de Deus, da Igreja e de sangue. Como se Deus tivesse armado uma pirâmide social com os nobres, o Imperador, o Papa, legitimando de cima seus poderes no plano temporal e espiritual.
No caso brasileiro, a justificativa fundada na Igreja e no Catolicismo formalista que aqui chegou com a colonização portuguesa, foi o que deu direito à exploração da terra e à escravização de índios e negros- tal legitimação estava fundada numa poderosa junção de interesses religiosos, políticos e comerciais (moral, econômica, política e social que se constitui numa totalidade).
Não temos companhias particulares explorando a terra com olho apenas na atividade produtiva com leis individualizadas e sem independência da Coroa, como nos EUA. Aqui, era a Coroa portuguesa que, legitimada pela religião, pela política e pelos interesses econômicos, explorava soberanamente nosso território, gente fauna e flora. O jogo político estava submetido ao comercial até certo ponto. O rei mantinha o controle sobre os empreendimentos coloniais (a colonização portuguesa), motivado pela religião e pela política civilizatória.
Em decorrência, houve um perfeito transplante de ideologias de classificação social, técnicas jurídicas e administrativas que tornaram a estrutura social da colônia exatamente semelhante à Metrópole- esse é o fato social fundamental.
Portugal à época da colonização apresentava um conjunto de “estados” sociais de um corpo social altamente complexo onde as pessoas se distinguiam elo nome, forma de trabalho, trajes etc. a que estavam sujeitas. (juizes e oficiais, letrados, fidalgos, cavaleiros, escudeiros, homens bons, e por ultimo o “povo”). Uma sociedade em que ninguém é igual perante a lei, uma sociedade em que embora mercantilista e comercial, não imperava a mentalidade burguesa, uma sociedade já familiarizada com formas de segregação social,
(contra mouros e judeus).
Reconstitui-se aqui, obedecendo naturalmente às características históricas dos povos indígenas que habitavam nossas praias, a sociedade portuguesa original. (E não foi uma empresa realizada por meros criminosos, indivíduos sem eira nem beira ou ideologia social, mas uma empresa com alvo e método).
Mais tarde, o movimento de independência provocou toda uma reorientação dos sistemas de hierarquia vigentes no Brasil, mudando a estrutura de poder para a Corte do Rio de Janeiro e não mais a Corte portuguesa em Lisboa, mesmo considerando que a independência não foi movimento de “baixo para cima”. Ela apresentou à elite local e nacional, a necessidade de criar suas próprias ideologias e mecanismos de racionalização para as diferenças internas no país (busca de identidade legitimando diferenças internas). E a ideologia veio na forma da “fábula das três raças” e no “racismo à brasileira”.
Thomas Skidmore considera que o marco histórico das doutrinas raciais brasileiras é o período que antecede à proclamação da República e a Abolição da escravatura, momento de crise nacional profunda, que abala as estruturas sociais, a República sendo um movimento fechado e reacionário destinado a manter o poder dos donos de terra, e a Abolição, um movimento progressivo e aberto que propõe a igualdade e a transformação das hierarquias (ameaça ao edifício econômico e social do país). Era necessária uma nova ideologia: ela foi dada com o racismo, ao lado das cadeias de relações sociais dadas pela patronagem e que se mantiveram aparentemente intactas. Essa fábula das três raças hoje, tem a força e o estatuto de uma ideologia dominante que fornece o mito das três raças, as bases de um projeto
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