INDUSTRIA CULTURAL
Artigo: INDUSTRIA CULTURAL. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: mapcb • 19/9/2014 • 1.288 Palavras (6 Páginas) • 314 Visualizações
Resenha do livro A multidão foi ao deserto de Bruno Cava
“Em 2013, a poeira debaixo do tapete acabou por levantar o tapete, despindo a dominação de seu discreto charme e sua altiva soberba” Bruno Cava
A multidão foi ao deserto é um livro que exala paixão pela resistência, resultado da práxis de um “pensador-manifestante” (p.9). A cartografia das lutas e microinsurreições é tecida em 20 textos; 2 entrevistas, 4 textos escritos em parceria e 14 que foram publicados inicialmente em seu blog quadradodosloucos.com.br, espaço no qual o autor articula literariamente o “campo das lutas e das ideias”, “produzindo conhecimento nas lutas e para as lutas” (p.120), produto de co-pesquisa.
Se a narrativa captura por dentro um evento inscrito no tempo e espaço, contextualizado será igualmente os interlocutores que durante os acontecimentos travaram debates analíticos e teóricos sobre os desdobramentos múltiplos das manifestações. Parte da interlocução se realizou com os pesquisadores colaboradores da Universidade Nômade (UniNômade brasileira) entre os quais Giuseppe Cocco, Alexandre Mendes, Hugo Albuquerque, Bárbara Szaniecki entre outros que mobilizam o arsenal teórico e analítico do Filósofo Italiano Antonio Negri para pensar as relações e processos insuspeitados que conformam as transformações do devir brasileiro e mundial.
Pensando o livro objetivamente pode-se afirmar que o mesmo exala política, política em sentido bruto; das formas pelas quais razões, interesses e afetos “selvagens” se convertem em resistências e lutas extra-institucionais face ao poder da ordem, poder constituído.
Trata-se de uma lúcida análise de conjuntura do Brasil contemporâneo! Apresenta-se, portanto, não apenas como parte da política, é em si mesmo um ato político. Como diria Betinho (2009:8) faz análise política quem faz política, mesmo sem saber. Neste caso em particular o autor do livro, Bruno Cava, sabe que seu texto é “uma arma de combate” pela qual articula estrutura e conjuntura do Brasil contemporâneo, mapeando acontecimentos, cenários, atores e correlações de forças explicitadas de forma aguda no evento[1] de junho.
A imersão do autor no interior das lutas se comprova pela pela etnografia dos acontecimentos, lugares, performances e seus atores. Sua militância se homologa pelo risco assumido entre o ricochetear das balas e lançamentos de gás lacrimogêneo acionados pela política da violência e criminalização. Se legitima pela expressão fenomenológica que o texto apresenta; captando intuitiva e intelectualmente ritmos, movimentos, sonoridades, cores e sensibilidades que atravessaram os corpos da multidão enquanto experiência ontológica. Consciência e evento, experiência e razão, campo de lutas e de idéias são mobilizadas processualmente para constituição do texto, “um evento no evento” segundo Giuseppe Cocco, alem de “um belo momento de luta”, sem insinuar-se “vanguarda”.
É assim que Cava apanha criticamente no interior das manifestações o movimento real do campo político brasileiro; mapeia as lutas e suas respectivas agendas, táticas e estratégias; registra as artimanhas do poder dominante com suas formas de controle e captura dos poderes que colocam a “terra em transe”. Sua análise corresponde a uma desnaturalização de um Brasil “Maior” realizada por um mosaico de micronarrativas tecidas “por dentro” das manifestações, no calor das lutas e no sofrimento dos corpos que não apenas resistiam a um “choque de ordem”, mas igualmente denunciavam as rachaduras, contradições e conflitos de um Brasil escravocrata, racista e colonial. Sim! Este livro se fez nas lutas e pelas lutas e trata, sobretudo, das relações e tensões do poder constituído contra o poder constituinte.
Cava deixa claro que o ciclo de lutas atacou frontalmente não apenas a imagem superlativa de uma Brasil “para inglês ver” mas, sobretudo, a máquina representativa, responsável por operacionalizar uma democracia mesquinha de baixa intensidade, capturada pela lógica econômica que regula, pacifica e converte os votos e zonas eleitorais em territórios onde os fluxos de capital devem circular com segurança.
Evidência que ciclos de protestos e indignações não são particularidades de países que estão inscritos em crises econômicas e financeiras, que existe um “fator global” em cena, disparado pelas revoluções árabes em 2011 (p.51). Segundo Cava as manifestações no Brasil “se inserem no ciclo global de lutas insurrecionais e constituintes” (p.81). Lutas e microinsurreições podem igualmente ocorrer em momentos de expansão do capital, de crescimento econômico e inclusão social. Aliás, segundo o autor as manifestações também expressam um revolta com um certo tipo de inclusão (p.109). Resumidamente Cava sugere, captando os sentidos em mudança, que a “realidade está solta, sem gentileza pros esquemas” (p46;56;55), por isso a mídia corporativa com seu arsenal de jornalistas e os partidos tradicionais erraram amplamente na explicação
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