MICHEL FOUCAULT: A ORDEM DO DISCURSO - Resenha
Por: thiregis • 6/4/2021 • Trabalho acadêmico • 1.621 Palavras (7 Páginas) • 948 Visualizações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS SOCIAIS APLICADAS
FACULDADE DE DIREITO
MICHEL FOUCAULT: A ORDEM DO DISCURSO
Resenha por Thiago Régis
CAMPINAS
2020
Resumo da Obra
O livro referente à aula inaugural proferida pelo autor no College de France em 02 de dezembro de 1970, redigido em tom de conferência com uma abordagem metalinguística, Foucault aborda a importância e a função do discurso no processo de comunicação para humanidade, além de como estes, exercem funções de controle e validação de regras.
Buscando uma analisa a ilusão monológica do sujeito ao produzir um discurso e suas ideologias subjacentes, focando neste como processo de interação comunicacional.
O autor inicia seu pronunciamento com um paradoxo, que seria: como falar sobre discurso tendo que utilizar-se de um para analisar tal prática. Menciona também, de início, a busca por “uma voz sem nome” a orientá-lo.
Em um segundo momento, passa-se para a análise dos procedimentos de exclusão de validade do discurso, mencionando e explicando a interdição, rejeição, e o sistema histórico.
Foucault define, que para o julgamento de uma proposição certa ou errada, deve-se haver a pertença a uma disciplina através do que ele chama de ritual/culto ritualístico. Que definira a qualificação dos que discursam, bem como seus gestos, comportamentos e circunstâncias.
O autor abrange ainda, a presença das “sociedades do discurso”. O autor indaga também sobre o local que o discurso persiste em nossa fala, acerca da realidade do mesmo. Assim, Foucault já denota a dificuldade em tratar do assunto de maneira desvencilhada das estratégias empregadas pelo discurso. Indica, também, a busca por uma voz sem nome a orientá-lo, empregando um jogo de palavras.
Um discurso, para o autor, é como uma cadeia de símbolos que se conecta a outras de outros discursos, em um sistema aberto, e que registra, estabelece e reproduz, não propriamente o que era esperado pelo autor do próprio discurso, mas sim, valores desta sociedade. O discurso deixa de ser a representação de sentidos pelo que se debate ou se luta e passa a ser, ele mesmo, o objeto de desejo que se busca, dando-lhe, assim, o seu poder intrínseco de reprodução e dominação.
A essência da sua crítica à ordem do discurso, está justamente, aos procedimentos que visam o controle do que é produzido, por quem é produzido, e de como se distribuem os discursos. Com a concepção crítica estabelecida o autor passa a analisar as posturas e procedimentos metodológicos no discurso.
Iniciando está fase, com uma discussão acerca da fonte dos discursos e seus princípios fundamentais. Sendo, na visão do autor, o primeiro deles o da inversão, que trata de medidas de rarefação, invertendo o significado de trechos do discurso; o segundo, o da descontinuidade, onde a leitura dos discursos junto à evidenciação da rarefação prova a não existência de um contínuo de verdade evolutiva nos discursos; logo após ele trata, sobre o princípio da especificidade que desconstrói a verdade absoluta dos discursos; e, por fim o da exterioridade, que objetiva a fixação das fronteiras do discurso e a limitação dos discursos e a busca pela compreensão da rede de significantes.
Seguindo tais princípios, o autor volta-se a fazer uma análise sobre dois conjuntos: o crítico, voltado para o princípio da inversão, que buscas cercas as formas de exclusão, limitação e apropriação do discurso; e o genealógico, que coloca em prática os demais princípios e sua formação por meio da coerção, sendo a maior diferença entre os dois institutos o ponto de ataque, de perspectiva e delimitação. Porém, apesar do aparente enfoque diferente, diz o autor que estas descrições devem ser alternadas e complementando-se entre si.
Foucault, nessa conferência, sintetiza as noções, princípios e táticas da organização do discurso e, em decorrência, as possibilidades de analisá-lo.
Ao final, o autor faz uma homenagem a Jean Hyppolite, seu antecessor na cadeira da disciplina de História dos Sistemas de Pensamento, na referida academia.
Análise da Obra
O autor deixa claro desde o primeiro momento sua real intenção, que não é trazer uma análise simplesmente conceitual e histórica da origem do discurso ou somente desconstrui-lo. E sim, trazer algumas noções de discurso, e principalmente mostrar como estes se organizam na sociedade e seus efeitos, encarando o discurso como um mecanismo de poder.
As formulações discursivas, e o contexto de enunciação, são os focos de análise para compreender os discursos, uma vez que esses são considerados mais que os enunciados formulados. O discurso é tratado como a verbalização de uma realidade, na qual estamos inseridos, sendo o discurso compreendido, interpretado, reorganizado e dessacralizado, tendo uma força criadora e produtiva, de ideologias, que se tornam perigosas na medida em que servem a interesses, e, consolida estratificações sociais.
Diante dessa perspectiva, quem tem acesso a um discurso bem elaborado e estruturado pode utilizar-se da deste para manipular, dominar e seduzir, Pois, a palavra produz sentidos, causando significações. Sendo o discurso a materialização de ideologias, muitas vezes o indivíduo também utiliza-o para mascarar uma realidade. Discurso simboliza poder, e passa a ser desejado. Saber utilizar o discurso significa controlar pessoas, direcionar a história. Foucault demonstra com clareza a força do discurso, e aponta a responsabilidade do locutório ao utilizar-se das palavras e constituir os discursos.
Trazendo tal conceito da palavra como poder, e algo desejado, e buscado pelo ser humano, pode-se fazer uma alusão as redes sociais, por exemplo, onde a quantidade de “likes” e visualizações moldam os mais variados discursos que vem a influenciar diversos públicos, nestas pode-se observar uma constante necessidade da afirmação do ser humano, seja essa afirmação no âmbito pessoal, profissional, e intelectual.
Todavia, muitas vezes, nestes meios utilizam-se linguagem de forma negligente, e reproduzem-se ideologias sem análise e assumindo a parcialidade de das próprias formulações discursivas.
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