O DEUS MERCADO
Por: Bianca Ribas • 10/10/2018 • Artigo • 780 Palavras (4 Páginas) • 166 Visualizações
O DEUS MERCADO
A abordagem que aqui se inscreve, reveste-se de um viés sociológico que procura dialogar com o texto base “Ética e Economia”. Dessa maneira, sirvo-me do conceito de “modernidade liquida”, elaborado pelo sociólogo Zigmunt Bauman, que se utiliza da metáfora da natureza dos líquidos, para identificar o momento presente da modernidade. Elemento instável e volátil que remete a ideia de fluidez, acomodável a qualquer recipiente, e oposto a qualidade durável e inalterável dos sólidos. O sentido que importa destacar para uma melhor compreensão do conceito é a conotação de mutabilidade como atributo inerente ao moderno.
A modernidade pode ser entendida através de dois símbolos representativos: o dinheiro e a metrópole, que carregam em si a dualidade que somente com a modernidade pôde ser identificada: o aumento da individualização, associado ao aumento da impessoalidade. A impessoalidade do dinheiro faz paralelo com a impessoalidade das relações humanas. “O dinheiro, com toda a ausência de cor e indiferença, torna-se o denominador comum de todos os valores; arranca irreparavelmente a essência das coisas, sua individualidade, seu valor específico e sua incomparabilidade” (SIMMEL, 1987, p. 16). Além de fonte de satisfação, o consumo se torna o meio pelo qual os indivíduos se constroem como sujeitos. O “ter” ganha uma maior conotação em relação ao “ser”.
Para Bauman, a humanidade se divide entre os que possuem vidas valorizadas e os que possuem vidas indignas de serem vividas. Isso equivale a dizer que a concepção de felicidade, segurança e conforto só pode ser usufruída como um privilégio, uma vez que amplia a desigualdade e reduz qualquer possibilidade de universalidade. A promoção de um estado permanente de insegurança, nesse sentido, é componente essencial para a manutenção da ordem social e, de acordo com ele, é através do medo que a indústria de consumo encontra a mina de ouro sem fim que há muito desejava. Para a indústria do consumo o medo é verdadeiramente um “recurso renovável”. O indivíduo dominado pelo medo das ameaças sociais, protegido por muros que delimitam sua vida privada, acredita que seu modo de viver é real. Seu “mundo” criado como um reduto confortável, diante do mal-estar da vida urbana, o faz sentir uma falsa sensação de segurança.
No mundo sólido as formas de vida comunitária resistiam, mesmo que reduzidas e isoladas, como consequência de uma unidade de comportamento e modo de vida, que eram o cerne da ideia de povo e nação; no mundo líquido, a comunidade é transformada em uma distopia. Com a individualização radical, todas as formas de sociabilidade que denotem dependência passam a ser vistas com absoluto desabono. Para uma grande parcela dos habitantes do líquido mundo moderno, atitudes como cuidar da coesão, apegar-se às regras, agir de acordo com precedentes e manter-se fiel à lógica da continuidade, em vez de flutuar na onda das oportunidades mutáveis e de curta duração, não se constituem como opções vantajosas. (BAUMAN, 2005, p. 60)
A premissa é a libertação e emancipação dos indivíduos em relação a todas as referências e orientações produzidas na modernidade sólida, levando-os a um ambiente onde esses padrões devem ser refeitos, criticados e reflexivamente reordenados dentro das próprias individualidades. Essa
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