O Edgar Morin
Por: Nádia Pessoa • 2/7/2019 • Trabalho acadêmico • 5.780 Palavras (24 Páginas) • 266 Visualizações
INTRODUÇÃO
O presente trabalho propõe promover um diálogo com a autobiografia de Edgar Morin, evidenciando a construção do seu saber, através de suas vivências de vida e a participação de seus filósofos que o ajudaram na sua formação e na concepção de seus pensamentos, tais concepções são denominadas por ele de reorganização genética, neste caso não no sentido genético, mas na reorganização do estilo de seu pensamento. Abordaremos duas de suas principais teorias, o pensamento complexo advinda da sua reorganização genética e a educação para o futuro advinda da sua visão transdisciplinar (que visam construir não só um ponto de vista, mas um meta ponto de vista, sobre a vida, a terra, a humanidade, o cosmo, o homem, o conhecimento, as culturas adolescentes, as artes. Transdisciplinar então é a interligação de várias especialidades/especialistas onde cada um irá contribuir com seu saber para justificar determinados questionamentos). Por último, discorremos sobre pensadores/estudantes/professores influenciados por Edgar Morin, que desfrutaram-se do grande arcabouço de conhecimento para elaborarem seus trabalhos científicos.
EDGAR MORIN E A CONSTRUÇÃO DE SEU SABER.
“Não tenho nenhum mestre exclusivo do pensamento, mas uma constelação de estrelas-guias”.
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, é pesquisador também Formado em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Nasceu em 08 de Julho de 1921 em Paris, França. Filho único de uma família Judia sefardi – judeus expulsos da Espanha no final do século XV, apesar de não ter recebido nenhuma verdade e saber fundamental, Morin herdou de seus pais o amor pela música, pela canção popular e pelo bel canto. Da escola, aprendeu a França e tornou-se filho da pátria e absorveu sua história.
Possuído, desde da infância por uma curiosidade insaciável, Morin já buscava suas verdades por sua própria conta em fontes diversas, foi animado e reanimado por perguntas que as acompanha até hoje: As de Kant “O que eu posso saber? ” e de Montaigne “ Que sei eu?”.
A necessidade de conhecimento intensificou-se nas condições de um luto terrível aos dez anos quando perdeu para morte a sua mãe Luna. Isso fez com que Morin mergulhasse em um estado contraditório, feito de um desespero irremediável e de uma esperança incontrolável. A morte, no entanto, pode parecer o fim, mas foi o início do entrelace das suas experiencias de vida e da sua formação intelectual.
Observador é crítico Morin, aproximou-se muito cedo do cinema, e da filosofia de autores que reconhecem e assumem as complexidades humanas, encontrando-os primeiro na literatura, sobre tudo em Dostoiévski, e em outros escritores russos como Tolstoi, Turgueniev e depois em Poust e Roger Martin du Gard. De todos o mais presente e iluminador foi Dostoiévski (romancista, filosofo e jornalista - fundador da teoria do existencialismo) através de sua obra chamada Crime e castigo do qual foi apresentado aos personagens perturbantes os Irmão Karamazov, foi que Morin adquiriu compaixão pelos humilhados e ofendidos, assim como a ideia de que redenção do criminoso é sempre possível (Influência refletida na obra “Os 7 saberes”).
Já estimulado a pensar de forma apta a reconhecer e afrontar incessantemente as contradições, Morin descobriu suas verdades em pensadores que se alimentavam de contradições: Heráclito, Pascal, Hegel e Marx. Do mesmo modo foi sensibilizado com a filosofia chinesa do Tao e do Yin de princípios contraditórias e ao mesmo tempo complementares do Yang (o positivo, masculino, o sol, a claridade o calor) e o do yin (o negativo, feminino, a lua, escuridão e o frio). Morin integrou esses princípios e de forma inconsciente caminhava na direção da complexidade, ou seja, na direção da conciliação e da complementaridade de ideias, fossem elas antagônicas ou separadas umas das outras.
Na adolescência aos 17 anos, Morin foi seduzido pela ideia de luta que se tratava em duas frentes eram o facismo e o comunismo stalinista. Hoje enxerga nas duas frentes as barbáries do lucro, do dogma e do fanatismo.
Aos 18 anos, Morin tomou consciência da crise política e grandes problemas sociais, experimentou emoções intensas diante de fatos tão complexos e incertos, períodos indecisos e angustiantes dos anos 30 que passam pela ascensão de Hitler ao poder até a guerra da Espanha. O senso de dificuldades das incertezas da história de Morin foram reforçados graças a Georges Lefebre, seu professor de História da Revolução Francesa que logo lhe passou dois ensinamentos capitais que fecundariam a concepção da ecologia da ação e sob influência de a sociologia do conhecimento (O método). O Primeiro ensinamento: “as consequências das ações históricas são frequentemente contrarias as intenções daqueles que decidem” (2013, p. 12). O Segundo ensinamento: “o da retroação do presente sobre o conhecimento do passado” (2013, p. 12), este por sua vez, demostrava que em cada época que se sucede, formula-se, em conformidade com o contexto atual, uma interpretação diferente do que ocorreu (de modo grosseiro seria a brincadeira de criança “telefone sem fio”), por isso, que não há um ponto de vista absoluto para observação, mas sim uma necessidade de historicizar o conhecimento. Foi a partir desta ideia, encontrada em Rickert (professor filosofo), por intermédio de Raymond Aron (filosofo, sociólogo e comentarista político) que muito mais tarde Morin desenvolveria o Método volumes III e IV. Graças a outras influencias, como Heinz Von Foerster (cientista austríaco-americano que combinou a física com a filosofia - um dos arquitetos da cibernética) a ideia da sociologia do conhecimento se tornou o seu pensamento central (“o observador deve observar -se em sua observação, o conhecimento de um objeto deve conter o conhecimento do seu conhecedor que todo seu conhecimento deve conter seu autoconhecimento”)
No decorrer de seus anos de guerra e resistência, Morin descobriu Marx e logo depois a filosofia hegeliana que dentre suas verdades além da experiência existencial marcada pela frase de que tudo que é real é racional e vice versa, existe um outra verdade concreta, a dialética histórica de Hegel que evidência as lutas antagônicas, em que Morin acredita ser a necessidade vital do pensamento já que entende que o motor da evolução do pensamento é a contrariedade. As tendências do espirito de Morin, fecundadas por Hegel puderam facilmente compreender como complementares o Século das luzes (revolução das ideias /racionalidade crítica) e o romantismo, Voltarie e Rousseau, Kant e Hergel, Hegel e Kierkegaard, da racionalidade cientifica ao entendimento surrealista em que a poesia deve ser vivida. Sobre a ótica da concepção desta vivencia surrealista Morin, vislumbrou a vontade de entrelaçar tanto quanto possível a filosofia, ciência, literatura, poesia que unidas se transformavam na complexidade, que significa integrar simultaneamente as múltiplas dimensões de uma mesma realidade a saber, a realidade humana, as incontornáveis contradições e as elimináveis incertezas.
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