O PROBLEMA DOS UNIVERSAIS NO NOMINALISMO DE GUILHERME DE OCKHAM
Por: Carlos Perez • 6/6/2017 • Artigo • 2.738 Palavras (11 Páginas) • 1.037 Visualizações
O PROBLEMA DOS UNIVERSAIS NO NOMINALISMO DE GUILHERME DE OCKHAM
I - Introdução:
Guilherme de Ockham foi um frade Francisco nascido em Ockham, distrito de Surrey, sul de Londres, Inglaterra. Nasceu, provavelmente, no ano de 1280. Foi discípulo de Duns Scot e concluiu seus estudos filosóficos e teológicos em 1318 na Universidade de Oxford, escrevendo mais de 50 proposições que compõem os comentários no 1ª Livro das Sentenças de Pedro Lombardo. Surpreendeu a Igreja Católica com estas proposições e, em 1324, foi denunciado e chamado ao Tribunal Eclesiástico pelo papa João XXII em Avinhão, França e suas teses foram consideradas hereges. Fugiu para Pisa e se estabeleceu em Munique a partir de 1330 e de lá elaborou diversos textos contra o establishment da Igreja Católica. Morreu em 1350 vitimado pela peste negra. Segundo Roger Scruton, somente em 1685 seu manual de Lógica foi adotado pela U. Oxford.
Ockham, diferentemente de Tomás, compreende que o primeiro objeto conhecido pelo intelecto é o singular, e não o universal. O singular, como objeto do nosso conhecimento, é que irá fundamentar e sustentar todo o seu pensamento filosófico. É através dele, que fará explanações acerca do conhecimento intuitivo e abstrativo deixando-os compreensíveis para que sua teoria da suposição pudesse ser desenvolvida. Os termos ou nomes, para ele, não são mais do que signos da linguagem; os nomes próprios remetem distintamente a uma realidade individual, os termos universais só o fazem de forma confusa e difusa. Cito Ockham: “(...) o singular assim entendido é a primeira coisa conhecida por um conhecimento simples que lhe é próprio (...). Ora, toda coisa extra mental é singular”. OCKHAM, Quodlibeta Septem, Sel. de Textos, pág. 358.
Para Ockham, ao contrário da escolástica, é impossível conciliar razão e fé. O único conhecimento possível nós é dado pela experiência, da qual deriva o próprio conhecimento intuitivo e abstrato. A natureza e o mundo podem ser conhecidos pelas simples forças da razão, já a Teologia, caracteriza‐se por ser uma ciência puramente prática, capaz somente de indicar normas de ação e incapaz de alcançar verdades de ordem especulativas. Ao privilegiar o singular, Ockham primazia todo o nosso conhecimento na experiência. ”Não se pode conhecer com evidência que a brancura existe, ou pode existir, se não se tiver visto qualquer objeto branco”. (Idem)
Para o britânico, formamos os conceitos intuitivamente para o nosso próprio entendimento, mas tais conceitos não podem representar as essências, simplesmente porque elas não têm presença física e nem existência real. Os conceitos são apenas sinais de caráter linguístico que se formam a partir da experiência e por generalização. A função dos sinais é dar significação ao ato intelectivo no discurso e também no convívio social, é o que hoje chamamos de espaço semântico.
Epistemologicamente ele destaca o conhecimento intuitivo e o conhecimento abstrato. Se o primeiro nos dá a possibilidade de enunciar juízos evidentes, o segundo nos impede. Contudo é importante ressaltar que, para Ockham, quando temos um conhecimento intuitivo de um objeto, temos efetivamente dois conhecimentos. De uma maneira, conhecemos o objeto de forma intuitiva que primazia a sensibilidade e de outro modo conhecemos o objeto de forma abstrata que primazia intelecto e ambas são indissociáveis no ato de apreensão do conhecimento.
A teoria da suposição é apresentada como a dimensão semântica dos termos nas proposições, ou seja, atribuição dos termos a objetos diferentes desses mesmos termos. Os termos podem ser coisas, pessoas ou outros termos, mas jamais substâncias universais e metafísicas como a “brancura” a “humanidade”, etc. Este tópico do seu pensamento alterou o significado predicativo do verbo ser. Segundo o filósofo, o verbo ser significa somente que o sujeito e o predicado estão intrínsecos ao próprio sujeito existente.
“Proposições como ‘Sócrates é homem’ ou ´Sócrates é animal` não significam que Sócrates tem a humanidade ou animalidade nem significam que a humanidade e a animalidade estão em Sócrates, nem que o homem ou o animal são uma parte da substância ou da essência de Sócrates ou uma parte do conceito substancial de Sócrates. Significam sim que Sócrates é verdadeiramente um homem e verdadeiramente um animal, não no sentido de que Sócrates seja este predicado ‘homem’ ou este predicado ‘animal’ mas no sentido de que existe algo para o qual estes dois predicados estão, como quando acontece estão para Sócrates” ‐ Ockham, g. II, 2; Quodl,III,5
O pensamento de Ockham se traduz a uma crítica da metafísica tradicional. Rejeita a distinção entre essência e existência e, portanto, nega o dualismo.
Só é possível afirmar o conhecimento de um objeto ou coisa com o conhecimento intuitivo do próprio objeto ou da própria coisa. Para afirmar que algum indivíduo tem uma essência, seria necessário demonstrar que a essência desse indivíduo se distingue de algum modo da coisa mesma. Ockham afirma que não existe uma distinção entre existência e essência. Tal distinção não é justificável, pois a essência não se distingue da coisa singular enquanto ela existe.
“Desde que nós tocamos no ser existente, devemos fazer uma digressão para considerar, como o ser existente está relacionado com a coisa, isto é, onde o ser de uma coisa e a essência de uma coisa são duas entidades fora da alma, distintas uma da outra. Parece-me que não há tais duas entidades; nem que o ser existente signifique algo de diferente na coisa. Pois, se esse fosse o caso, seria ou substância ou acidente. Não é acidente porque então o ser existente de um homem seria a quantidade ou qualidade; isso é manifestamente falso, como fica claro por indução. Nem pode ser dito que seja uma substância porque toda substância é ou matéria ou forma ou um compositum de ambos, ou é uma substância absoluta. Mas se o esse é outra coisa que a da entidade da coisa, não pode ser dito que seja nada disso. (Summa Log., III-2 c. 27)
Conclui-se, para Ockham, que o singular não tem essência. Ou seja, objetos como o homem e esta mesa não possuem uma essência de homem ou de mesa. Pois para afirmar que algum indivíduo tenha uma essência, seria necessário demonstrar que a essência desse indivíduo se distingue de algum modo da coisa mesma. Estabelece-se, portanto, que tudo aquilo que pertence ao singular, é singular. A essência de Sócrates não é semelhante e nem parecida com a de Hume ou a de Wittgenstein. Deste modo, Ockham postula que a essência não é algo universal e nem distinta da existência, pois como afirma o pensador britânico: “A
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