Os Principados Novos Que São Conquistados Por Armas Alheias E Pela Fortuna

“Os principados novos que são conquistados por armas alheias e pela fortuna”

  Os homens que se tornam príncipe pela sorte (fortuna) dificilmente mantêm sua posição, não encontram dificuldade em alcançar seus objetivos, mas todas as dificuldades possíveis aparecerão quando chegarem neles.

  Há uma dependência por parte do príncipe da vontade e da sorte dos que propiciaram sua subida ao poder e ambas as qualidades são instáveis e volúveis e tais príncipes não sabem e nem podem manter sua posição, porque tendo vivido sempre no contexto da privacidade não sabem comandar e não podem porque não têm forças que lhe sejam fiéis e amigas.  Estados que surgem subitamente não são capazes de lançar raízes profundas e desenvolvidas, de modo que a primeira tormenta pode abatê-los. A não ser que a pessoa que chegou ao poder tenha valor na mesma proporção da sua sorte, não terá sucesso no seu domínio, como o Duque Valentino. O Duque conquistava a simpatia de seus possíveis opositores, mas não hesitava em assassinar quando se sentia ameaçado. Sua queda deu -se novamente pela fortuna, a morte de pai. Assim, Maquiavel o considera virtuoso por sua habilidade em manter sob controle, enquanto a fortuna permitiu, um Estado que lhe foi dado.

  Logo, chegar ao poder em troca de dinheiro ou pela graça alheia é chegar despreparado, sem raízes; o príncipe que não buscar se estabilizar e tornar-se astuto, perderá o Estado. Por outro lado, o mesmo que não prepara os fundamentos do poder antes de alcançá-lo com valor pode fazê-lo posteriormente, mas o seu esforço será maior e o perigo para seu território dominado também;

  O príncipe que busca manter seu território deve considerar necessários tais atitudes e faze-las:
-        garantir-se contra seus inimigos;
-        fazer amizades;
-        conquistar pela força e fraude;
-        fazer-se amado e temido pelo povo;
-        fazer-se seguido e reverenciado pelos soldados;
-        destruir os que podem e querem ofendê-lo;
-        inovar antigos costumes;
-        ser bom e severo, magnânimo e liberal;
-        suprimir uma antiga milícia e substituí-la por outra;
-        manter a amizade dos reis e príncipes para que tenham satisfação em assisti-lo e medo de injuriá-lo.