SHOW DO EU: O QUE NOS LEVA A CONTAR EPISÓDIOS DE NOSSAS VIDAS EM UMA REDE SOCIAL?
Por: Ômega Possebon • 7/6/2018 • Trabalho acadêmico • 2.300 Palavras (10 Páginas) • 291 Visualizações
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
RENATO OST POSSEBON
SHOW DO EU: O QUE NOS LEVA A CONTAR EPISÓDIOS DE NOSSAS VIDAS EM UMA REDE SOCIAL?
ESCOLA E PEDAGOGIAS CULTURAIS
Prof. Luiz Felipe Zago e Profª Maria Lúcia Castagna Wortmann
2014/2
SHOW DO EU: O QUE NOS LEVA A CONTAR EPISÓDIOS DE NOSSAS VIDAS EM UMA REDE SOCIAL?
Todos os dias, Joana faz selfies e os posta no Facebook só para ver quantas curtidas vai receber. Ela publica cada viagem, encontro com amigos, ida à balada – e sempre confere quantos foram os comentários. Se não receber tudo o que espera, ela apaga a publicação. A felicidade de Joana está dependente do sucesso nas mídias sociais. Mas e a sua? (JORNAL ZH, CADERNO DONNA, 04/01/2015)
As redes sociais como o Facebook, tornaram possível a um grande número de pessoas, como Joana, manipular informações e se reinventar, quase que instantaneamente. Seja para curtir, comentar, compartilhar ou postar alguma coisa, Joana precisa mostrar algo para o mundo. Algo que diga como ela é, no que ela acredita, em como ela está bem. Joana quer ser vista como uma pessoa bonita, inteligente, interessante e, sobretudo, muito feliz! Mas a “felicidade” de Joana não depende somente dela: ela precisa do olhar e da aprovação do outro.
Lançando mão do quadro referencial teórico, de Paula Sibilia, mas precisamente ao livro O show do eu – A intimidade com o espetáculo, e de outros importantes autores, tenho o objetivo de refletir sobre o seguinte questionamento: O que nos leva a contar episódios de nossas vidas em uma rede social? As reflexões a partir deste questionamento visam ao entendimento de como a rede social, mais especificamente o Facebook, parece servir ao ideário contemporâneo da espetacularização da felicidade.
O SHOW DO EU
Sibilia no seu livro O show do eu, teoriza sobre aquilo que pode ser percebido como um modo de construção do “eu” através da necessidade de tornar público nossas verdades, até então algo que deveria ser privado.
Sibilia (2008) questiona se todas essas cenas da vida privada, essa infinidade de versões de você e eu, “mostram a vida de seus autores ou são obras de arte produzidas pelos novos artistas da era digital?” (SIBILIA, 2008, p. 29)
Para Sibilia (2008) os usos “confessionais” da internet parecem se enquadrar na definição de uma obra autobiográfico. “O eu que fala e se mostra incansavelmente na Web costuma ser tríplice: é ao mesmo tempo autor, narrador e personagem”. (SIBILIA, 2008, p. 31)
A principal obra que produzem os autores-narradores dos novos gêneros confessionais da internet é um personagem chamado eu, a própria personalidade, que se cria e recria incessantemente nesses espaços interativos. Sibilia (2008) acredita que um dos objetivos prioritários é “permitir que seus autores se tornem celebridades, ou personagens decalcados nos padrões midiáticos”. (SIBILIA, 2008, p. 233)
O objetivo para se elaborar uma imagem de si é para que esta imagem seja vista, seja exibida, observada, e assim provocar efeitos nos outros. Fazendo da própria personalidade um espetáculo; isto é, uma criatura orientada aos olhares dos outros como se estes constituíssem a audiência de um espetáculo. (SIBILIA, 2008, p. 257) E, além disso, esse eu deve ser mutante, uma subjetividade passível de mudar facilmente e sem maiores impedimentos. (SIBILIA, 2008, p. 244) Em todos esses espaços, o que conta é se mostrar, exibir um eu autêntico e real – ou, pelo menos, que assim pareça. (SIBILIA, 2008, p. 248)
Para isto, um dos papéis fundamentais dos comentários interativos deixados pelos visitantes dos blogs confessionais é confirmar a subjetividade do autor, que por precisar da aprovação do outro, só pode se construir como tal diante do espelho legitimador do olhar alheio. “Através dessa legitimação pelo olhar alheio, o autor deve ser reconhecido como portador de algum tipo de singularidade aparentada com a velha personalidade artística”. (SIBILIA, 2008, p. 237)
Mais do que uma intromissão, nestes casos o olhar alheio pode ser uma presença desejada e reconfortante. Longe do tão falado temor à invasão da privacidade, trata-se aqui de uma verdadeira vontade de evasão da própria intimidade, um anseio de ultrapassar os velhos limites para abrir infiltrações nos antigos muros divisores. (SIBILIA, 2008, p. 261)
Em todos eles ecoa esta boa notícia: agora você pode escolher o personagem que deseja ser e pode encarná-lo livremente. Depois, a qualquer momento e sem muito compromisso, caso tenha se entediado ou se por acaso quiser, será muito fácil mudar e começar tudo outra vez com uma roupagem identitárias renovada. (SIBILIA, 2008, p. 253)
Esse fascínio suscitado pelo exibicionismo e pelo voyeurismo encontra terreno fértil em uma sociedade atomizada por um individualismo com beiradas narcisistas, que precisa ver a sua bela imagem refletida no olhar alheio para ser. (SIBILIA, 2008, p. 262)
AS REDES SOCIAIS
Criadas na internet, as redes sociais são hoje importantes instrumentos de participação e de mediação no diálogo social entre os cidadãos e cobre os mais diferentes aspectos da vida social. Através dos sites de relacionamento, eles se comunicam, se informam e se divertem. As redes sociais propiciam o compartilhamento de ideias e de valores entre pessoas e organizações que possuam interesses e objetivos em comum.
De acordo com Raquel Recuero (2009) “a grande diferença entre sites de redes sociais e outras formas de comunicação mediada pelo computador é o modo como permitem a visibilidade e a articulação das redes sociais” (2009, p. 102)
A época que comprime o espaço-tempo é também a que tende a dissolver as antigas fronteiras que separam o espaço privado do espaço público. Fora com os velhos pudores da subjetividade, de agora em diante a vida pessoal se exibe em plena luz do dia, inundando em grandes ondas a cena midiático-política. Éramos consumidores de objetos, de viagens, de informações; eis que somos, ainda por cima, superconsumidores de intimidade. (LIPOVETSKY, 2007, p. 306)
Nesse contexto, as fantasias, o banal, o erotismo, os sentimentos subjetivos, tudo se torna objeto a ser expresso e consumido em profusão. “Mostrar tudo, dizer tudo, ver tudo”, eis o que levou a qualificar a sociedade de hiperconsumo de “sociedade transparente”, no momento em que os indivíduos parecem que não tem mais nada a esconder de um público para o qual um dos assuntos preferidos passou a ser o desvendamento dos estados de espirito. Depois do sensacionalismo das notícias e dos furos da vida política, nossa época é magnetizada pelo exibicionismo da intimidade do homem comum. (LIPOVETSKY, 2007, p. 307)
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