A GEOGRAFIA DOS TRANSPORTES NA ANÁLISE DA PRECARIEDADE DO MODAL RODOVIÁRIO EM COMPARAÇÃO AO MODAL AÉREO NO BRASIL NO ESCOAMENTO DE CARGAS
Por: MatheusLellis • 5/12/2018 • Trabalho acadêmico • 3.300 Palavras (14 Páginas) • 401 Visualizações
A GEOGRAFIA DOS TRANSPORTES NA ANÁLISE DA PRECARIEDADE DO MODAL RODOVIÁRIO EM COMPARAÇÃO AO MODAL AÉREO NO BRASIL NO ESCOAMENTO DE CARGAS
Matheus Martins Lellis[1]
1 – Introdução
Neste breve trabalho será abordada de forma quantitativa a temática dos modais de transportes no cenário brasileiro delimitando-se à uma análise das deficiências latentes do meio mais utilizado que é o modal rodoviário estabelecendo-se uma comparação ao modal aéreo que é o menos utilizado, porém oferece inúmeras vantagens na integração dos grandes centros urbanos com áreas mais afastadas do país, porém no entanto carece nestas regiões de maiores investimentos na infraestrutura aeroportuária para que sejam possíveis voos regulares. Os procedimentos metodológicos basearam-se na pesquisa e revisão bibliográfica acerca do tema, realizando-se consulta à autores ligados ao campo da Geografia dos transportes, bem como de literatura específica sobre transporte rodoviário no Brasil e transporte aéreo. Sob a ótica da Geografia dos transportes, ramo econômico da Geografia humana, e que investiga as relações de fluxo e interações de pessoas e mercadorias entre os espaços geográficos buscar-se-à de forma analítica como objetivo geral as razões pelas quais o modal rodoviário é largamente utilizado mesmo havendo uma malha de rodovias ineficientes no país e em sua maioria não pavimentadas sendo que o transporte aéreo comercial o qual oferece substanciais vantagens sobretudo no tempo das viagens e na segurança operacional é ainda de certa forma pouco utilizado para atingir regiões mais afastadas do país. A problematização do tema paira sobre o escopo da necessidade de se compreender as vantagens analisadas que o transporte aéreo comercial apresenta ao conectar os grandes espaços urbanos às regiões mais isoladas e menos desenvolvidas do país, muitas vezes negligenciadas pelo poder público, onde a ligação por meio terrestre – rodoviário é absolutamente precária em termos de economia, segurança e compromisso com o meio-ambiente. Justifica-se o tema pela ampla demanda nacional de melhores condições de transportes bem como a necessidade de articulação dinâmica de suas redes nos diferentes modais implantados historicamente no país. 2 – Desenvolvimento
Na lógica investigativa e argumentativa da Geografia dos Transportes, observa-se a necessidade do estudo e compreensão da lógica dos meios e redes de transportes nas sociedades modernas, compreendendo os conceitos históricos, econômicos e sociais que dinamizam o desenvolvimento de tais redes de modo a que se possa entender a complexidade existente entre às relações dos meios de transporte com a realidade social e econômica na organização dos territórios (FIGUEIRA DE SOUSA, 2011). No território brasileiro, o qual apresenta dimensões continentais é de extrema importância à existência de redes eficientes de transporte de modo a possibilitar o fluxo de pessoas, bem como o escoamento da produção agrária e industrial, a Geografia dos Transportes também estuda o não menos importante fluxo de informações, já conceituando a existência ou fenômeno das cibercidades, espaços virtuais onde se articulam também por meio de redes um elevado e economicamente importante fluxo de informações, tal como afirma Santos (1994), “...essas cidades são a interligação do real com o geográfico, criando uma rede de atores e ligações imateriais por onde circulam fluxos de riqueza baseada na informação”. Sob a ótica da Geografia dos Transportes é relevante analisar tudo aquilo que estabeleça uma relação econômica e social no espaço geográfico enquanto se desloca para alguma finalidade, serão portanto analisadas doravante as características de fluxo de pessoas e escoamento de bens no território brasileiro, tendo em vista que o fluxo de informações através dos meios virtuais, apesar de ser um tema de extrema relevância e abrangido pela Geografia dos Transportes foge a finalidade de se analisar as redes “físicas” de deslocamento no espaço geográfico tais como as rodovias e a malha aérea nacional. O Brasil em contraposição à nações desenvolvidas no mundo, algumas com dimensões semelhantes como Estados Unidos, apresenta-se como uma nação absolutamente dependente do modal de transporte terrestre, onde cerca de 60% de todo o transporte nacional está baseado em meios terrestres, observa-se portanto uma dependência exagerada deste modal. (RIBEIRO; FERREIRA, 2002). Segundo Fleury (2002), em países como Austrália, Estados Unidos e China, os números de utilização do modal rodoviário para transporte são de 30%, 28% e 19% respectivamente, ou seja em países de economia desenvolvida o modal rodoviário representa apenas uma ligação de curta distância de produtos acabados e semi-acabados, por exemplo entre um terminal de cargas em um porto ou ferrovia (conceitos de portos-secos) até um centro de distribuição das mercadorias ou ao usuário final, conceito este conhecido como transporte porta a porta, utilizando-se no entanto veículos compatíveis com o espaço geográfico, ou seja veículos pesados como caminhões transitando nas rodovias entre os portos ou outros terminais de carga até centos urbanos de distribuição e veículos menores destes centros de distribuição até o destinatário final, desta forma se reduz o impacto na infraestrutura e no meio ambiente além de se otimizar o tempo no deslocamento dos bens (RIBEIRO; FERREIRA, 2002). Em um país de dimensões continentais como o Brasil e com uma costa litorânea com extensão de aproximadamente 7500 km (a 16ª maior do mundo em extensão) o mais adequado dentro da lógica econômica e social dos modais de transporte seria maior utilização dos modais hidroviários, realizando-se navegação de cabotagem[2] de modo a transportar mercadorias de grande tonelagem (granéis líquidos, produtos químicos, areia, carvão, cereais) e nos terminais portuários o modal ferroviário assumiria o escoamento destas mercadorias e itens homogêneos a um destinatário intermediário como centros de distribuição montados como portos-secos, ou até o destinatário final que aguarda uma matéria prima por exemplo, vale ressaltar que em países Europeus e nos Estados Unidos muitas industrias têm suas unidades fabris servidas por linhas férreas que assumem a função de trazer a matéria prima bem como de escoar a produção final (RIBEIRO; FERREIRA, 2002). Estes exemplos apresentados como possíveis soluções ao cenário brasileiro onde se há uma extrema dependência do modal rodoviário parecem na verdade meios utópicos quando observa-se a realidade nacional. Como já citado o modal rodoviário assume cerca de 61% do transporte no país, enquanto o ferroviário que demanda de investimentos em infraestrutura tem participação de cerca de 20% no transporte de cargas, o hidroviário assume uma parcela de aproximadamente 15% e o modal aeroviário atinge cerca de ínfimos 0,5%, tais dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) do ano de 2016 revelam que a matriz de transporte de cargas no país está centralizada nos meios terrestres e aquáticos, sobretudo no meio rodoviário. No entanto este modal se mostra antieconômico e ineficiente no transporte a longas distâncias, ou seja apesar do transporte rodoviário ser majoritário no país não significa que seja o de melhor qualidade, isto se observa de forma concreta quando observa-se a malha total rodoviária brasileira e se estabelece um paralelo entre rodovias pavimentadas e não pavimentadas, de um total de cerca de 1.600,000 km de rodovias, apenas cerca de 12% ou 192.000 km são pavimentadas (COLAVITE; KONISHI, 2015). Nota-se que o Brasil apresenta uma ineficiência no transporte e escoamento de mercadorias ao longo de seu território, uma vez que ocorrem paralelamente fatores tais como o desbalanceamento da matriz de transportes onde meios mais eficientes poderiam ser mais bem utilizados conforme a situação e espaço geográfico, legislações e fiscalizações inadequadas deixando o Brasil refém de uma matriz antiquadra e antieconômica de transportes, deficiência de infraestrutura de apoio principalmente devido à falta de investimentos do setor público, uma vez que em redes privatizadas observa-se uma exponencial melhoria em segurança e eficiência e por fim a falta de segurança das vias fator este que provoca atrasos e perdas econômicas (COLAVITE; KONISHI, 2015). Diante de tantos fatores que comprovam em termos práticos e quantitativos a ineficiência do transporte rodoviário de cargas, sobretudo pela perda de tempo em se transportar mercadorias através de um caminhão por grandes distâncias e a evidente baixa eficiência energética deste veículo quando comparado a outros meios de transporte é necessário analisar por fim a grande lacuna que o transporte aéreo deixa de preencher no Brasil no âmbito do transporte de cargas através das redes de transportes entre os espaços geográficos nacionais, ademais deixando de atender com rapidez regiões afastadas dos grandes centros as quais demandam de suprimentos para movimentar sua economia e atender as demandas da sociedade. O modal aeroviário de transporte de cargas apresenta no país nos últimos anos uma demanda crescente, sendo que grande parte das cargas transportadas são provenientes de contratos das empresas aéreas com os Correios, o transporte de cargas em avião pode ser realizado nos porões de um avião de passageiros ou então no compartimento de carga de um avião inteiramente cargueiro onde a carga é alocada em contêineres distribuídos ao longo a cabine que não possui assentos tal como nas versões de passageiros, as cargas transportadas unicamente a serviço dos correios são transportadas através de uma rede noturna chamada RPN ou Rede Postal Noturna, na qual as empresas cargueiras firmam um contrato com os Correios através de processo de licitação (BURLE, 2003). Vale ressaltar que a importância da aviação comercial nos modais de transporte no Brasil é estratégica, pois a esta além de servir ao país nas funções econômicas e sociais, representa um valioso e único instrumento de integração nacional e soberania, ou seja graças a velocidade das ligações aéreas é possível integrar o país através do conceito de redes de circulação de forma rápida, segura e eficiente, levando pessoas, bens e prestação de serviços aos mais afastados cantos do território nacional (MONTEIRO, 2002). Tal transporte ágil, eficiente e seguro, praticamente imune às intempéries, graças aos meios modernos de navegação aérea não se pode fazer por outros modais, o entanto é obvio que a necessidade de se investir em infraestrutura aeroportuária[3] e aeronáutica[4] é proporcional às externalidades positivas esperadas pelo transporte aéreo comercial enquanto elemento de integração e de circulação de bens e pessoas pelo espaço geográfico.
...