Discurso do Agronegócio no Brasil
Por: Allem • 5/5/2015 • Trabalho acadêmico • 1.940 Palavras (8 Páginas) • 225 Visualizações
O DISCURSO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL
Allem Brito Rocha
Universidade Federal do Paraná
Departamento de Geografia
Geografia Rural
f4.allen@gmail.com
Introdução
O tema Agronegócio no Brasil sempre gerou boas discussões no meio acadêmico, nos movimentos de defesa dos trabalhadores rurais e na mídia. Para a Via Campesina Brasil, o domínio do capital estrangeiro e das grandes corporações sobre a economia como um todo, representa um novo modelo de dominação do capital sobre a agricultura.
Para o professor Diniz Filho da Universidade Federal do Paraná, o agronegócio é o setor de atividade que vem sofrendo os piores e mais injustificados ataques por parte de amplos setores da imprensa, do sistema de ensino e dos movimentos sociais.
O objetivo deste artigo é tentar fazer um breve resumo a cerca dos debates sobre determinados temas do agronegócio que circulam no meio acadêmico, movimentos sociais e os textos da disciplina de Geografia Rural. No primeiro momento trago o debate a cerca do contexto histórico do agronegócio e seu processo de reestruturação nas décadas passadas. O segundo momento trata de uma discussão a respeito da capacidade de produção e de articulação do pequeno produtor. Na ultima seção, faço uma breve conclusão dos diálogos expostos e lanço a semente de um debate que timidamente começa a aflorar por parte do meio acadêmico.
O agronegócio e a sua reestruturação histórica
Alguns autores defendem que historicamente o modelo de industrialização dependente submeteu e subordinou a agricultura brasileira à sua lógica, mas que entrou numa grave crise no início da década 1980. Tendo como resultado uma mudança do regime político, levando a um “reavivamento” dos movimentos de massas, que levou à queda da ditadura militar (1984) que, durante 20 anos (1964-1984), havia sustentado aquele modelo econômico. Porém a mudança de regime não foi suficiente para alterar a natureza do agronegócio no Brasil. Defendem também que apenas em 1990, com o governo Collor e posteriormente consolidado com o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), as elites brasileiras se reunificaram para implementar um novo modelo econômico no país. Um modelo que buscasse a acumulação de capital, novas taxas de crescimento da economia, através da subordinação da economia brasileira ao capital internacional.
Isso pode ser observado também no texto de Denise Elias,
A partir da década de 1980, a reestruturação produtiva da agropecuária intensificou-se, mas privilegiou áreas, produtos e segmentos sociais, acarretando profundos impactos sociais, territoriais e ambientais que culminaram na elevação da histórica concentração da propriedade da terra; num processo de oligopolização do setor agropecuário; em transformações das relações sociais de produção; na fragmentação do espaço agrícola e no incremento da urbanização.
Segundo ela, a rentabilidade do capital, exigida pela economia globalizada, induziu a existência de formas mais eficazes de produção. Transformando assim radicalmente as forças produtivas da agropecuária, porquanto seus sistemas técnicos anteriormente hegemônicos não condiziam com a racionalidade vigente no período tecnológico. A impossibilidade de controle do processo produtivo da agropecuária, com uma estrutura extremamente dependente dos fatores naturais (clima, relevo, solo, temperatura, topografia etc.) e do ciclo biológico das plantas e dos animais, sempre representou um limite para a acumulação ampliada no setor, uma vez que o tempo de produção é comumente superior ao tempo de trabalho.
Seguindo essa linha de raciocínio, Paulo Alentejano destaca que nas últimas décadas a população rural sofre redução absoluta e não apenas relativa como vinha acontecendo até 1970, fruto da modernização conservadora da agricultura brasileira, conduzida pela ditadura após 1964, resultando na adaptação da agropecuária brasileira à lógica da revolução verde, e aponta “hoje vivemos uma nova onda de internacionalização da nossa agricultura - grandes empresas do agronegócio e compra de terras.” (ALENTEJANO).
No entanto, para Zander Navarro,
não há mais um Estado capaz de comandar uma forte intervenção no campo, como fizeram os governos militares na década de 70, promovendo uma verdadeira revolução produtiva e tecnológica que transformou radicalmente não apenas as estruturas de produção, mas igualmente instituiu novos padrões de racionalidade e os comportamentos sociais em tantas regiões rurais.
Segundo ele, por mais que “o rural” seja de maior relevância que as simples estatísticas, é improvável que a forte destinação de recursos públicos para o mundo rural se sustente em racionalidade decisória, apoio social amplo e legitimidade política, em um país que vem passando por um processo de urbanização a passos largos.
Diniz filho utiliza dados da variação de rendimento físico dos principais produtos agrícolas no Brasil no período de 1968-1970/1998-2000 para confrontar a idéia de que a produtividade só cresce expressivamente nas culturas de exportação. Segundo ele isso só fazia sentido nos anos 70, quando houve a formação dos complexos agroindustriais, e salienta que mesmo nessa época, as culturas que experimentaram maiores ganhos de rendimento físico foram as de cebola, tomate e batata inglesa, nessa ordem, seguidas depois pela soja, café, cana e laranja.
Segundo sua análise,
como houve queda da produtividade das culturas de arroz, mandioca e de feijão nesse período, a modernização não alcançou culturas importantes para a pauta de consumo popular. Mas o quadro muda do final dos anos 1970 até o último triênio da década de 1980, pois as culturas em que houve maior incremento da produtividade foram as de algodão, trigo, arroz, batata, tomate e milho, nessa ordem, demonstrando assim o melhor desempenho das culturas então denominadas “de mercado interno” em relação às demais. A soja ocupou o sétimo lugar em termos de variação de rendimento físico nos anos 1980, enquanto a cana e a laranja foram superadas não só pelas culturas já mencionadas como também pelas de cebola e de amendoim. Sua análise continua. Apontando para trajetória que se repete nos anos 90, já que entre as sete culturas que apresentaram maiores ganhos de produtividade figuram arroz, feijão, milho, tomate e cebola. Sendo que o feijão conseguiu alcançar ganhos expressivos de produtividade nessa década, superando a soja, a laranja e a cana-de-açúcar.
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