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Geografia E Modernidade

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Por:   •  8/1/2015  •  1.872 Palavras (8 Páginas)  •  468 Visualizações

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Com a crise da chamada geografia tradicional a partir da década de 60 do século passado, surgiram várias revisões críticas da história do pensamento geográfico. A maioria discute o movimento de ideias que orientaram as pesquisas geográficas na Europa e nos Estados Unidos, de modo que qualquer estudante de geografia conhece, em maior ou menor grau, as concepções teóricas do determinismo ambiental, do possibilismo, da geografia quantitativa, da geografia humanística e da geografia crítica, assim como os principais chefes de escola. Esse movimento teve ecos no Brasil no final da década de 70, com grande influência de Milton Santos, que produziu uma crítica da geografia antes de propor sua geografia nova1. A reboque, Antônio Carlos Robert Moraes publicou o livreto que se tornou referência básica para qualquer curso introdutório da geografia, apesar de seu caráter explicitamente panfletário2. Na década de 90, o principal trabalho foi feito por Paulo Cesar da Costa Gomes, que reconstruiu a história do pensamento geográfico a partir dos polos epistemológicos da ciência moderna3. Em consonância com a produção acadêmica dos países do norte, os autores brasileiros focaram nas idéias de fundo que direcionaram as teorias geográficas ao longo do século XX.

Por outro lado, a formação da comunidade científica de geógrafos, as ações de busca de reconhecimento acadêmico e científico, as disputas por espaço com disciplinas concorrentes e as demandas da sociedade que permitiram a consolidação do campo disciplinar da geografia foram claramente deixados de lado pela historiografia do pensamento geográfico, com a ilustre exceção de Horácio Capel4, infelizmente inacessível para a ampla maioria dos estudantes de geografia no Brasil. O caso torna-se ainda mais grave porque a produção nacional foca somente nas escolas do pensamento geográfico do exterior, em particular da França, da Alemanha e dos Estados Unidos. Há um constrangedor silêncio sobre o movimento das ideias geográficas no Brasil, seus principais pontos de difusão, suas relações com as escolas europeias e estadunidense.

* Licenciado em Geografia pelo Instituto Federal Fluminense. Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Instituto Federal Fluminense – campus Cabo Frio.

1 SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. São Paulo: Hucitec, 1978.

2 MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1981.

3 GOMES, Paulo Cesar da Costa. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

4 CAPEL, Horacio. Filosofía y ciência em la geografia contemporánea. Barcelona: Barcanova, 1981.

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VÉRTICES, Campos dos Goytacazes/RJ, v. 12, n. 3, p. 205-209, set./dez. 2010

Robson Santos Dias

Assim, o estudante de geografia brasileiro conhece melhor o pensamento geográfico estrangeiro do que o autóctone.

Por isso, o livro de Mônica Sampaio Machado vem em boa hora minorar essa lacuna na geografia brasileira. A pesquisa, feita durante o doutoramento da autora, tem por tema o processo de formação e consolidação da geografia universitária do Rio de Janeiro através de sua principal universidade, a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esta compõe, junto com o curso da Universidade de São Paulo e com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a tríade que formou os primeiros quadros de geógrafos profissionais no país e, portanto, que difundiu as principais ideias do pensamento geográfico brasileiro. Assim como Capel, Machado lança luzes, no contexto histórico-institucional, sobre fatos e as pessoas que criaram as condições para a institucionalização da disciplina geográfica e sua continuidade nos anos posteriores.

Através de uma rica análise documental, a autora refaz os principais percursos institucionais da geografia paralelamente com a própria história de formação da UFRJ. Esta história é contada em três atos: (1) o curso de geografia da Universidade do Distrito Federal, (2) o curso de geografia da Universidade do Brasil e (3) o curso de geografia da UFRJ, com especial foco na estruturação de seu programa de pós-graduação.

A Universidade do Distrito Federal foi uma instituição de ensino superior municipal criada em 1935 e extinta em 1938. Instituída sob os auspícios de Anísio Teixeira, a UDF seria o ápice do seu projeto de educação pública e englobaria desde a educação primária até a educação superior. Fundada sob princípios liberais, a UDF foi, em seu curto período de vida, um centro de formação intelectual de alto nível, sendo, em conjunto com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, a primeira iniciativa de modernização da educação brasileira, responsável pela difusão de campos especializados do saber, que contribuiriam para o entendimento da realidade nacional por meio da pesquisa científica. Para tanto, além da contratação de intelectuais brasileiros de expressão na época, a UDF buscou atrair acadêmicos franceses, que orientariam a modernização da educação superior brasileira.

Neste contexto, o campo disciplinar da geografia foi estruturado na Escola de Economia e Direito da universidade. Um ponto que merece destaque é o fato de que o curso de geografia foi gestado em separado do de história, diferentemente do que ocorreu na USP e, posteriormente, na Universidade do Brasil. Em consonância com os objetivos de sua unidade acadêmica, o curso de geografia tinha o intento de formar professores de geografia para o ensino secundário e superior, o que não havia até então (o mesmo ocorrendo com o de história e como de ciências sociais), e promover pesquisas científicas para estudar o ainda pouco conhecido território nacional. Assim, por meio da associação entre ensino e pesquisa, a UDF se voltava para a formação de uma elite intelectual conhecedora e difusora da identidade nacional. Alguns dos professores que se destacaram no curso de geografia nesse período foram o geógrafo francês Pierre Deffontaines (geografia humana) e os brasileiros Fernando Antônio Raja

VÉRTICES, Campos dos Goytacazes/RJ, v. 12, n. 3, p. 205-209, set./dez. 2010 207

Resenha crítica

Gabaglia (fisiogeografia), João Capistrano Raja Gabaglia (práticas de geografia), José Junqueira Schimdt (geografia humana), Ernesto Street (geografia humana), Phillippe Arbos (geografia humana), Carlos Delgado de Carvalho (geografia humana), Mathias de Oliveira Roxo (paleogeografia e geologia), Alberto Betim Paes Leme (geografia

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