Paul Claval Geo Econômica e Economia
Por: Dione Castro • 23/8/2021 • Artigo • 5.270 Palavras (22 Páginas) • 143 Visualizações
Paul Claval
UniversitÈ de Paris-Sorbonne.
Geografia EconÙmica
e Economia
Vou apresentar a geografia econômica moderna e suas relações com a economia. Para explicar a sua gênese e as suas mudanças, acho neces sário refletir sobre a evolução da Geografia Econômica e dos seus laços com a Economia. Vou distinguir quatro fases nessas relações, sublinhan do as duas ultimas.
1. Uma ìprÈ-histÛriaî da reflex„o econÙmica sobre o papel do espaÁo nas atividades produtivas e no consumo
O conhecimento da economia se desenvolveu, até o fim do século dezoito, graças à observação do papel do espaço na vida econômica, como foi mostrado por Pierre Dockès há uma geração atrás (DOCKÈS, 1969).
a) A reflexão sobre os problemas da riqueza e da produção se desen volveu desde o século dezessete. Nasceu da observação da paisa gem e da realidade geográfica. No fim do século dezessete, econo mistas como William Petty, na Inglaterra, e Vauban, na França, já sabiam que as atividades produtivas estavam geralmente concen tradas ao longo dos litorais, dos rios navegáveis e dos canais, nas tiras de duas léguas de largo.
b) No século dezoito, a atenção concentrou-se cada vez mais sobre a
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produção e a troca das riquezas. Richard Cantillon descreveu a criação das riquezas nas zonas rurais e seu consumo nas cidades: ele ofereceu a primeira reflexão sobre a natureza da cidade e a hierarquia urbana. Quesnay foi o primeiro a conceber a vida econômica como um circuito.
c) Depois de 1770, a situação mudou. Os economistas desenvolveram um interesse crescente pelos mecanismos econômicos. Turgot des creveu o funcionamento dos mercados e a lei da oferta e da procura. Na “Riqueza das Nações”, Adam Smith (1776) já mostrava interesse pela observação geográfica: ele demonstrou que a especialização do trabalho era limitada pela extensão do mercado, no capítulo dois de seu livro. Mas ele considerou que a riqueza das nações resultava da vontade dos indivíduos, das iniciativas dos empreendedores e do livre funcionamento dos mercados – “deixa fazer, deixa passar”!
Com Adam Smith, a atenção cessou de sublinhar as particularidades das distribuições geográficas. O economista evidenciou a combinação dos fatores produtivos na empresa e a responsabilidade dos governos no cam po do funcionamento das firmas e dos mercados. O problema maior esta va na repartição das rendas entre capitalistas e trabalhadores. O ramo principal da ciência econômica ignorou o papel do espaço por mais de um século, até os anos 1930.
2. O desenvolvimento paralelo da economia, da teoria das relaÁıes internacionais, da teoria da localizaÁ„o e da geografia econÙmica
Entre o começo do século dezenove e os anos 1930, o ramo principal da economia ignorava os problemas espaciais da vida econômica. Esses foram estudados por três disciplinas independentes, a teoria das relações econômicas internacionais, a teoria da localização das atividades produti vas e a geografia econômica.
a) A teoria das relações econômicas internacionais
O ramo principal da economia buscou esclarecer a racionalidade dos agentes econômicos, a lógica das empresas e a existência de zonas onde os seus custos decrescem e de outras onde eles crescem.
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Mas a economia não podia ignorar a comércio internacional. O alvo da economia era propor regras para a gestão das empresas por parte dos empreendedores, bem como regras para a gestão econômica das nações por parte dos governos. Nesse domínio, a pergunta era: Qual é a melhor política, o protecionismo ou o livre comércio?
David Ricardo respondeu em 1817 afirmando que a melhor política era o livre comércio. Ele raciocinou na perspectiva duma economia sem progresso tecnológico, isto é, sem economias de escalas e sem economias externas. A sua teoria foi consolidada, na primeira metade do século vin te, pelos estudos de Eli Heckscher (1949), Bertil Ohlin (1933) e Paul Samuelson (1948). Nessa perspectiva, a posição de Ricardo estava correta: sem progresso técnico, o comércio internacional favorece o nivelamento dos preços dos fatores de produção. Até o fim do século dezenove, o livre comércio foi efetivamente a causa do desenvolvimento econômico da Eu ropa Central e Ocidental e dos Estados Unidos.
b) A economia espacial
A economia espacial apareceu com von Thünen (1826-1851). O seu alvo era a compreensão das regras de localização dos empreendimentos para obter a maximização dos lucros. O problema não foi o de descrever e explicar a distribuição espacial das atividades econômicas, foi antes de tudo o de esclarecer o papel da distância e dos custos de transporte sobre o nível dos lucros.
O desenvolvimento da economia espacial foi lento: deu-se primeiro a partir da lógica de localização da produção agrícola nos anos 1820, depois, da produção industrial, entre 1870 e 1910, e, mais tarde, das atividades de serviços, nos anos 1930 (WEBER, 1909; CHRISTALLER, 1933; sobre o teoria espacial e seu desenvolvimento, ISARD, 1956; PONSARD, 1955; 1958).
c) A geografia econômica
A geografia econômica apareceu na Alemanha sob a influência de Carl Ritter e se desenvolveu desde o fim dos anos 1850. Seu objetivo era a descrição da diferenciação de regiões econômicas num tempo onde as ferrovias e a navegação a vapor abriram novas possibilidades de especia lização produtiva.
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Um gênero geográfico se constituiu no fim do século dezenove, com os livros de Karl Andree, na Alemanha (1861-1874), George Chisholm (1889), na Inglaterra, e Marcel Dubois e J. -G. Kergomard, na França (1897). Esses livros foram republicados até os anos 1930 sem mudanças importantes na concepção geral. O tratado clássico de geografia econômica cobriu essencialmente a produção de gêneros alimentícios (cereais, car ne, leite, manteiga, queijo, oleaginosos, vinho), das matérias-primas (seda, lã, algodão), de energia (carvão, petróleo, hidroeletricidade), e de produ tos industriais (têxteis, mecânicos, químicos). Descreveu também os paí ses exportadores, os fluxos das mercadorias e os mercados onde as transações comerciais ocorreram.
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