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A CONSTRUÇÃO DO MEMORIAL PAULO FREIRE NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO DOS TARUMÃS (2003-2016)

Por:   •  1/11/2017  •  Artigo  •  4.181 Palavras (17 Páginas)  •  243 Visualizações

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A CONSTRUÇÃO DO MEMORIAL PAULO FREIRE NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO DOS TARUMÃS (2003-2016)

Railson da Cruz Almeida

Profª. Msc. Dorinethe dos Santos Bentes

Centro Universitário do Norte – UNINORTE

Especialização em Ensino e Pesquisa em História (POSHI03)

26/10/2017

RESUMO

Este paper apresenta o processo de desenvolvimento do Memorial Paulo Freire, para salvaguarda do material arqueológico encontrado igarapé Tarumã Mirim em Manaus e destaca alguns aspectos da cultura tarumã. Para isso nos embasamos em ideias de alguns autores ligados à temática. Como metodologia, trabalhamos com o conceito de etno-história e história cultural.

Palavras-chaves: Tarumã Mirim, Memorial Paulo Freire, cultura tarumã, sítio arqueológico.    

1. INTRODUÇÃO

O Memorial Paulo Freire - construído no mesmo local do sítio arqueológico dos tarumãs - destina-se para guarda dos artefatos encontrados neste local. A importância histórica e arqueológica dos artefatos é um convite à realização de estudos direcionados cultura tarumã em Manaus. Os vários questionamentos a respeito desta repentina afloração espontânea de artefatos nos instigou a realização deste estudo. Propomos apresentar, neste pequeno artigo o processo simultâneo da construção do memorial e a descoberta do sítio arqueológico, respectivamente, além de destacar aspectos da cultura tarumã.

Para análise do nosso objeto utilizou-se o conceito de Etno-história[1] trabalhado pelo historiador Antônio Porro. A proposta deste conceito é estudar a história de povos que não faziam uso da escrita como meio de comunicação, através das tradições orais, restos arqueológicos, cerâmicos, artísticos, dentre outros. A etno-história é um dos desdobramentos da Nova História Cultural[2], muito bem apresenta por Peter Burke, na qual propõe um estudo pelo viés cultural, possibilitando uma abrangência e estruturalismo dos temas. Este conceito vem em contraponto à tradicional narrativa histórica elitizada e pautada pelos vieses político e econômico. A ideia é valorizar os indivíduos e fontes marginalizados na História, além de possibilitar o diálogo da História com outras ciências. Portanto, nesta perspectiva, tais conceitos nos guiou neste estudo introdutório da cultura tarumã em Manaus.

2. UMA CULTURA MILENAR EM MANAUS

        2.1. Tarumã Mirim: centro de uma cultura milenar

        Templo de florestas, rios, lagos, cachoeiras, igarapés e culturas diversas. Não é por um acaso que Manaus é chamada pelos nativos de “A Grande Mãe”. Há milênios, Manaus foi habitada por culturas bem estruturadas, das quais hoje, só restam vestígios arqueológicos. Segundo informações de Santos, Manaus foi “um lugar escolhido pelos mais exigentes”[3], para fincar suas raízes culturais. Banhada por igarapés – agora com nomes de “branco” – que num passado distante foram habitats de povos milenares. Igarapés como, São Raimundo, Educandos, Cachoeira Grande, Passarinho, São Jorge, Compensa, Mindu, Tarumã Grande, Tarumã Mirim e tantos outros, este último, com uma particularidade, nele encontramos uma porção considerável de vestígios de uma cultura, que deduzimos ser, milenar devido a complexa forma técnica. Nos demais igarapés não foram encontrados vestígios consideráveis que possam sustentar uma hipótese.

        O igarapé Tarumã Mirim, lado oeste da cidade, encanta com suas belezas naturais. Nas visitas técnicas realizadas durante as pesquisas exploratórias verificamos que este igarapé, na sua totalidade, não sofreu com a urbanização de Manaus, ou seja, não há indícios de poluição, talvez por estar localizado longe do centro urbano, um paradoxo, pois Manaus respira industrialização. No período da cheia, suas águas transparentes se misturam com as escuras do Rio Negro, permitindo expedições científicas e turísticas pelos seus igapós gigantescos inacessíveis durante seis meses de vazante. Durante a seca, o Tarumã Mirim se transforma em um paraíso de águas cristalinas, praias, deltas com pedras, correntezas e um verdadeiro aquário a céu aberto. Também neste período, só é possível o acesso às comunidades ribeirinhas através de “rabetas”, transporte de pequeno porte comum entre ribeirinhos. Considerando estes aspectos cíclicos deduzimos que Carvajal e Fritz – cronistas que visitaram o igarapé - estiveram no Tarumã Mirim no período da cheia, devido a inviabilidade de navegação de grande porte na fase de vazante do rio. Esta suposição coincide com os relatos do cronista Carvajal no qual afirma ter encontrado os nativos do Rio Negro em 07 de junho de 1543 em um porto que se encontrava longe do rio[4]

        Por outro lado, neste igarapé, como já mencionamos, há um rico acervo arqueológico milenar. Trata-se de um sítio arqueológico de uma das etnias mais importantes do Rio Negro, os Tarumãs. Descoberto pelos moradores, este sítio apresenta um dos mais completos e diversificado acervo lítico de Manaus. As peças, no momento sem datação, estão reunidas num memorial em um dos povoados as margens deste igarapé. A partir das informações antropológicas contidas na obra de Loureiro[5] deduzimos que este povo existe desde a fase pré-histórica[6] da Amazônia, devido a grande quantidade de material lítico, característico deste período, quanto à cerâmica indígena do acervo, possivelmente pertencem à fase Paredão[7] devido a sua complexa forma técnica e grafismos típicos desta fase. Se levarmos em considerações os períodos das fases cerâmicas, verificamos que a mais antiga é datada do século III d. C. e as machadinhas são da pré-história amazônica. Isto deduz que os Tarumãs, possivelmente, estiveram presentes em todas as fases cerâmicas, pois, curiosamente, encontramos cerâmicas, das quatro principais fases, expostas no Memorial. Além do material arqueológico existe uma pequena quantidade de fragmentos europeus, tais como: garrafas de remédio e bebidas; projéteis de arcabuzes; balas de canhão; louças de cerâmica, etc., que deduzimos pertencer a tal período colonial devido às informações grafadas no material. Com essas peculiaridades, é que argumentamos que o igarapé Tarumã Mirim é berço de uma cultura milenar em Manaus.

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