A Genealogia Judaica no Brasil
Por: iblaj • 25/10/2017 • Artigo • 1.897 Palavras (8 Páginas) • 207 Visualizações
Breve Relato sobre Genealogia Judaica no Brasil
Israel Blajberg
O Brasil é conhecido como "a maior nação católica do mundo". No entanto, considerando o legado do DNA, muitos brasileiros brancos podem descer remotamente de judeus portugueses e cristãos novos que chegaram após 1500, para escapar da Inquisição, conhecidos como Conversos", "Marranos", "Cripto-Judeus" ou "Anussim". Se eles não fossem obrigados ao longo dos séculos a abjurar sua religião, possivelmente o Brasil não seria hoje tão predominantemente católico.
Nos 517 anos de presença judaica no Brasil, desde a descoberta em 1500 pelo almirante Pedro Alvares Cabral, muitas outras ondas de imigração chegaram, tornando a genealogia judaica no Brasil um importante campo de pesquisa, especialmente na atualidade, uma vez que descobrir ancestrais pode garantir uma segunda cidadania em países como Polônia, Portugal e Itália, como aconteceu com 30 membros da família Arruda do Ceará, os quais obtiveram a cidadania portuguesa certificando sua descendência ao longo de 15 gerações de Branca Dias, uma antepassada judia falecida em 1558.
Um marco significativo foi o breve período de 1630 a 1654, durante o Brasil Holandês, quando foi estabelecida a primeira comunidade judaica das Américas, no Recife, a capital colonial Mauritia. Os judeus prosperaram na indústria açucareira sob liberdade de crença, e construíram a primeira sinagoga das Américas, Kahal Kaddosh Zur Israel (Santa Comunidade Rochedo de Israel). Após a derrota e a expulsão dos holandeses, os judeus se dispersaram pelo interior e pelo mundo afora, como em Amsterdã, onde o primeiro rabino brasileiro Isaac Aboab da Fonseca construiu a sinagoga portuguesa, até hoje em funcionamento. Outros judeus chegaram ainda a uma ilha remota habitada por Índios, hoje conhecida como Nova York.
Até 1808 manteve-se um incipiente cripto-judaísmo no Brasil, mas a invasão de Portugal por Napoleão modificou este quadro. A Corte transferiu-se para o Brasil, com Dom João VI abrindo os portos da antiga Colônia a todos os países, favorecendo correntes migratórias da Inglaterra, Alsácia e Marrocos. Os judeus marroquinos chegaram em certo número à Amazônia e ao Pará, no início do Ciclo de Borracha, subindo o Grande Rio até Iquitos no Peru. Em 1870, a guerra franco-prussiana motiva a chegada de judeus da Alsácia-Lorena, e em 1900, o barão Maurice de Hirsch funda as colônias de Philipson (Santa Maria) e 4 Irmãos (Erechim) no sul do Brasil, através da JCA – Jewish Colonization Association. Pequenos núcleos são estabelecidos no Norte, Bahia e Rio, bem como em vários pontos do Brasil.
Após a Segunda Guerra Mundial, houve um aumento na imigração judaica, proveniente da Polônia, Romênia, Alemanha, Áustria, França e Bélgica. As concentrações urbanas cresceram no Rio e São Paulo, e também nas pequenas comunidades no interior. Em 1933, os refugiados do nazismo começaram a chegar da Alemanha, Áustria e Itália, geralmente com boa formação e muitos profissionais especializados. Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil recebeu refugiados de Guerra e sobreviventes do Holocausto, e após o conflito do Canal de Suez em 1956, refugiados do Egito.
Havendo apenas cripto-judeus, a população judaica no Brasil diminuiu consideravelmente entre 1654 e 1808, aumentando lentamente em seguida até o início do século XX. Durante a Primeira Guerra Mundial, de 5 a 7 mil judeus estavam presentes no Brasil, numero que se elevou a cerca de 55 mil durante a Segunda Guerra Mundial, predominantemente imigrantes.
Nas últimas décadas, como em outras partes do mundo, as famílias de maior renda desenvolveram um processo de mudança para regiões mais nobres das cidades, o que evidentemente também incluiu as famílias judaicas, mas ao contrário dos EUA, as pequenas comunidades praticamente se extinguiram, determinando a concentração demográfica da presença judaica principalmente nas capitais de 13 dos 26 Estados, totalizando cerca de 120 mil pessoas, principalmente no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Do acima exposto, podemos dizer que a pesquisa genealogica judaica no Brasil pode ser uma ferramenta poderosa, trabalhando em terreno fértil para descobrir muitas informações. Paradoxalmente no entanto, a genealogia judaica não é tão popular no Brasil como em outros países, e o mesmo se aplica à genealogia em geral. Com efeito, alguns obstáculos se apresentam para o pesquisador, em um país onde somente nas últimas décadas se estabeleceram sociedades históricas judaicas e arquivos, sempre enfrentando dificuldades por falta de recursos, espaço adequado e pessoal e tecnologias especializadas, mesmo que compensadas por um forte compromisso de alguns voluntários e funcionários dedicados. Outro obstáculo relevante para o pesquisador estrangeiro provavelmente pode ser a língua portuguesa, pois o inglês ainda não é amplamente utilizado; A maior parte da literatura relevante e páginas da Internet estão em português.
Por volta de meados do século 20, quase todas as sociedades de imigrantes e algumas bibliotecas judaicas, escolas e certas organizações no Brasil desapareceram ou se fundiram, com a conseqüente perda de documentação. O declínio da língua iídiche contribuiu para tanto, bem como mudanças geográficas e até incêndios, como o ocorrido na Sociedade de Ostrowiec – Polonia, no Edificio Balança-mas-não-cai na Praça XI, e o desabamento total do prédio da Rua do Rosário que abrigava a Biblioteca Israelita.
Tudo isso contribuiu para degradação da memória das instituições judaicas, para não mencionar o descarte puro e simples de documentos, quando entidades eram extintas ou fundidas umas com as outras. Apenas mais recentemente tem havido maior interesse em preservar a memória da comunidade.
Alem de algumas poucas fontes internas da comunidade judaica, existem também fontes relevantes de informações genealógicas e históricas judaicas, sendo as principais os estabelecimentos notariais, as Cúrias, Arquidioceses e diversas agências arquivisticas federais, estaduais e municipais, que podem abrigar informações valiosas e confiáveis úteis para o pesquisador. No âmbito governamental, a principal entidade é o Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, (www.arquivonacional.gov.br), que possui registros de entrada de passageiros nos portos brasileiros, abrangendo o periodo 1920-1960.
O LDS (Mormons) fez um extenso trabalho no Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, on-line em https://familysearch.org/search/collection/1932363, Brasil, Immigration Cards, 1900-1965.
Trata-se de Índices e imagens de cartões de imigração criados pelos consulados brasileiros em vários países do mundo e apresentados no porto de entrada pelos estrangeiros, fossem turistas ou imigrantes.
Na área militrar temos o Arquivo do Exército (www.ahex.ensino.eb.br), Marinha (www1.mar.mil.br/dphdm) e Força Aérea (https://www.facebook.com/cendoc.fab).
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