A Micro-história em Carlo Ginzburg
Por: júlio césar • 16/11/2017 • Resenha • 1.714 Palavras (7 Páginas) • 951 Visualizações
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO
JÚLIO CÉSAR BALDUCCI
NOTURNO
TRABALHO 01 DE TEORIA DE HISTÓRIA: A MICROHISTÓRIA EM CARLO GINZBURG
FRANCA
2017
As obras estudadas para a realização deste trabalho – “O queijo e os Vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição” e “O fio e os rastros: verdadeiro, falso e fictício” – são de autoria de Carlo Ginzburg, historiador italiano conhecido por ser um dos precursores em relação ao estudo da micro-história – estudo da história de pessoas comuns, sem ‘grandes feitos’.
Tanto “O fio e os rastros” quanto “O queijo e os Vermes” são obras que abordam a temática da micro-história; na primeira, Ginzburg explica seu conhecimento acerca do tema, exemplificando estudos da micro-história feitos por outros autores em contextos diferentes, enquanto, na segunda, o próprio autor utiliza do recurso da micro-história para a produção de uma obra que conta a história do processo de inquisição de um moleiro italiano.
Em “O fio e os rastros”, Ginzburg conta, pouco a pouco, outros exemplos de micro-história por ele conhecidos, como a primeira aplicação da noção de micro-história[1], realizada em 1959 por Georg R. Stewart, acerca da batalha de Pickett durante a guerra civil americana. Segundo Ginzburg, conseguimos notar, nessa obra, a paixão pelo detalhe microscópico por parte de Stewart.
Há, também, outros exemplos, como Luís González y González, que, em sua obra “Pueblo en vilo. Microhistoria de San José de Gracia, 1968”, investiga, durante quatro séculos, as transformações de uma aldeia ignorada – vale ressaltar que González não conhecia ou possuía influências de Stewart. Aqui, González dá duas alternativas em relação à classificação da micro-história[2]: a primeira chama-se “História mátria”, classificada como estudo do mundo pequeno, fraco, feminino e centrado na família ou aldeia; e a segunda, “História yin”, tendo inspiração no termo taoísta, possuindo um significado em tudo que há de feminino, conservador, terrestre e doloroso.
Ginzburg[3] exemplifica a aplicação da micro-história, porém sem a utilização desse termo, e sim de uma “historiografia menor”, que seria uma corrente contra a historiografia focada nos grandes e poderosos, na obra de Richard Cobb, “Zaharoff Lecture”, na qual o autor possuía grande simpatia por personagens modestos. Dessa maneira, como uma afronta ao modelo historiográfico qualitativo e macroscópico, nasce a micro-história italiana.
Carlo Ginzburg começa, no início dos anos 60, a estudar acerca a Inquisição, seus juízes, homens e mulheres acusados de bruxaria e suas atitudes; e enfatiza que “a rejeição do etnocentrismo não me havia levado à história serial, mas o seu contrário: a analisar de perto uma documentação circunscrita, ligada a um indivíduo desconhecido, a não ser por ela”[4].
O autor analisa sua própria obra “O Queijo e os Vermes” para a abordagem da micro-história, explicando que sua intenção era reconstruir o mundo intelectual, moral e fantástico do moleiro através da documentação de seus juízes, deixando claro que hipóteses, dúvidas e certezas de sua parte tornar-se-iam parte da narração.
Como dois últimos exemplos, Ginzburg escolhe “Guerra e Paz”, de Tolstói, onde há a descrição da batalha de Waterloo por meio do olhar de Fabrício del Dongo e um capítulo de “A estrutura do universo histórico”, de Siegfried Kracauer, onde este reconhece a importância da micro-história mas, da mesma maneira, possui a opinião de que há episódios que só podem ser analisados numa perspectiva macroscópica. A partir desse ponto, utiliza “A sociedade feudal”, de Marc Bloch[5], como um exemplo do que seria uma boa utilização tanto de uma perspectiva macroscópica quanto microscópica, já que, nessa obra, Bloch mistura ambas. Frente a isso, Ginzburg classifica as palavras de Kracauer como a melhor introdução à temática da micro-história e, além disso, ressalta o posicionamento do autor quando este diz que “não se podem transferir automaticamente para um âmbito macroscópico os resultados obtidos num âmbito microscópico (e vice-versa)” (GINZBURG, 1996, p. 277), reafirmando a necessidade de uma perspectiva macro e micro para análise da história.
Pode-se dizer que, o objetivo do autor ao escrever o texto é propagar outras aplicações da micro-história, inclusive sua própria obra. É falado sobre outros historiadores que usufruíram de contextos diferentes para a produção de suas obras aproveitando-se da micro-história, diversos exemplos onde isso foi empregado, os diferentes pensamentos desses autores em relação à visão microscópica da história e a classificação da melhor introdução do que é a micro-história, classificada por Ginzburg como a visão de Kracauer, que reconhece a importância das perspectivas macro e micro, achando ideal a junção de ambas, visto que há coisas que não podem ser entendidas em uma ou outra somente.
Carlo Ginzburg utiliza obras de diferentes autores para essa análise em sua obra. A primeira a ser analisada e descrita pelo autor é “O ataque de Pickett. Uma micro-história do ataque final em Gettysburg, 3 de julho de 1863”, na qual há uma análise de uma batalha decisiva da guerra civil americana. Logo após, “Pueblo en vilo. Microhistoria de San José de Gracia”, de Luís González y González, onde uma aldeia ignorada é alvo de uma investigação que durou quatro séculos. Seguida por “Zaharoff Lecture”, de Richard Cobb – dedicada a Raymond Queneau – onde o autor parte da análise de personagens mais modestos para contrariar a historiografia que possuía foco nos grandes e poderosos; “O queijo e os vermes”, de autoria própria, explicando a intenção de reconstruir o cenário do processo de inquisição de Mennochio através dos documentos produzidos por seus juízes; “Guerra e Paz”, de Tolstói, onde há uma análise da batalha de Waterloo por meio da visão de Fabrício del Dongo e, por fim, “A estrutura do universo histórico”, de Siegfried Kracauer, que enfatiza a importância da micro-história ao mesmo tempo que reconhece a da visão macroscópica, classificando como ideal uma junção de ambas, tomando como exemplo “A sociedade feudal”, de Marc Bloch.
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