RESENHA: GINZBURG, Carlo. O Queijo E Os Vermes: O Cotidiano E As Ideias De Um Moleiro Perseguido Pela Inquisição. São Paulo: Editora Companhia Das Letras, 1996.
Exames: RESENHA: GINZBURG, Carlo. O Queijo E Os Vermes: O Cotidiano E As Ideias De Um Moleiro Perseguido Pela Inquisição. São Paulo: Editora Companhia Das Letras, 1996.. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: murilomaluche • 28/5/2014 • 2.103 Palavras (9 Páginas) • 1.687 Visualizações
RESENHA
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.
Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED.
Disciplina: História Moderna I.
Professora: Silvia Regina Liebel.
Acadêmico: Murilo Maluche Schaefer. Turma: 2012/1.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1996.
Carlo Ginzburg nasceu em Turim, na Itália, em 1939. Foi professor de história moderna na Universidade da Califórnia por vinte anos e atualmente leciona na Scuola Normale Superiore de Pisa. É precursor e um dos principais autores da corrente da Micro história – onde O Queijo e os Vermes é tido como um marco fundador – que, de forma genérica,é um método de escrita historiográfica que tem na análise e na interpretação exaustivas das fontes um dos princípios norteadores. É, sobretudo, uma história decidida a desconstruir um saber generalizante: busca, através da narrativa,construir uma história qualitativa, que seria possivelmente distorcida através de generalizações quantitativas, que “acentuariam de uma maneira funcionalista o papel dos sistemas de regras e dos processos mecanicistas de mudança social”(LEVI, 1992, p. 152-153).
É, portanto, uma forma de encontrar e enfocar uma história que dê importância do sujeito e das especificidades dos mesmos para construção de um saber não generalizante de uma classe, onde a partir de um ponto particular muitas vezes único (“a redução da escala é um procedimento analítico, que pode ser aplicado em qualquer lugar, independentemente das dimensões do objeto analisado”) identifica-se um contexto maior, como a Reforma e a Inquisição, no caso do Queijo e os Vermes(LEVI, 1992, p. 137, 153-155).
Para construção do livro, Carlo Ginzburg se utiliza de processos inquisitoriais do Santo Ofício no Arquivo da Cúria Episcopal. À época que se deparou com o processo de Domenico Scandella, estava em busca de documentos sobre bruxas, feiticeiros e curandeiros. O que lhe chamou a atenção foi o tamanho do processo e a peculiaridade da heresia proferida pelo réu. Através da análise deste documento pode identificar livros e influências que construíram a individualidade de Domenico. Além disto, Ginzburg se utiliza de teóricos dos estudos culturais para embasar seu pensamento.
Composto por sessenta e dois capítulos, dois prefácios, notas, abreviaturas, um índice onomástico e um posfácio redigido por Renato Janine Ribeiro – filosofo e professor titular de Ética e Filosofia Política na USP –O Queijo e os Vermes, não fosse pela análise documental pormenorizada e teoricamente embasada, poderia ser tido como uma literatura, por conta da intrincada e envolvente narrativa que foge dos moldes da historiografia tradicional: Ginzburg dá nome a seu personagem histórico, aproximando-o do leitor como sujeito e por conta disto foi um livro lido por especialistas da área, mas tornou-se também um best-seller.
Na figura de Menocchio, o autor constrói o contexto de sua classe e cultura quinhentista popular, que sofria grande transformação na segunda metade do século XVI.Como a corrente da micro história e especificamente o livro em questão foi construído de forma que o autor é construtor e participante ativo na narrativa, não se escondendo por trás dela, a tarefa de falar da história de Menocchio separadamente sem trazer à luz as interpretações do autor se faz bastante complexa.
Didaticamente é possível dizer que O Queijo e os Vermes se trata da história de Domenico Scandella, conhecido por Menocchio, um moleiro nascido em 1532 na cidade de Montereale, na região de Friuli, na Itália. Foi denunciado à Inquisição por conta de suas falas e pensamentos heréticos. Foi interrogado, julgado e condenado pelo Santo Ofício. Após se redimir dos próprios pecados, teve sua pena abrandada e foi solto, mas após quinze anos de seu primeiro interrogatório tornou-se um réu reincidente, através de novas denúncias que reafirmavam sua postura herética. Já velho e desgraçado pela própria vida, suplicou para que fosse perdoado. Foi novamente condenado e torturado a fim de que contasse aos inquisidores quem estava por trás dele. Sem grandes respostas, o caso encerrou-se e Menocchio foi queimado na fogueira. Como o autor lida com essas especificidades, que em uma primeira leitura parecem corriqueiros nos processos inquisitórios, mas que, a julgar pelo tamanho do processo, é tão diverso do comum?
Ginzburg discorre a respeito da complexa cosmogonia que o moleiro construiu e que foi tida como grave heresia: os mundos material e espiritual teriam surgido a partir do caos. A complexidade de suas ideias é tamanha que o próprio Domenico cai em várias e constantes contradições, por isso a explicação aqui dada é bastante simplificada e didática.
Antes de tudo, existia uma massa disforme dos quatro elementos (terra, ar, fogo e água). Dela surgiu o Espirito Santo e também os anjos Lúcifer, Gabriel, Miguel, Rafael e o próprio Deus, que se fez hierarquicamente superior aos outros. Por querer se equiparar a Ele, Lúcifer foi expulso do céu com seus seguidores.
Deus ordenou que os anjos criassem a natureza, os homens e todo o mundo material conhecido. Os homens, subordinados à natureza, por sua vez, cumprem o papel de ajudar o Senhor nas tarefas de receber o dízimo, as indulgências e fazer as boas obras. Segundo Menocchio, Deus poderia ter feito tudo isto por conta própria (assim como um camponês pode lavrar a terra sozinho, só que com mais demora), mas que opera através dos trabalhadores. O Espirito Santo seria um capataz (mas também o próprio Deus, a alma dos homens, uma inspiração, um “sopro”, uma energia ou uma atividade de Deus; tudo depende da circunstância), os anjos seus ajudantes, e Cristo não passaria de um homem comum que fez boas obras, assim como a Virgem Maria não seria uma virgem.Enxerga o Senhor como um pai distante ou um patrão e, portanto, a interpretação que Ginzburg atribui ao pensamento do moleiro é de que Deus nada fez, nada criou e que cumpre um papel que se assemelha aos senhores das terras.
O título do livro se da por conta da analogia feita entre o leite e o queijo (o caos-matéria) e os vermes que dele surgem (Deus e os anjos). É possível traçar um paralelo entre a teoria da geração espontânea, muito em voga no período e também com a intensa cultura materialista do moleiro, que tendia a traçar comparações do mundo terreno para explicar o divino.
Menocchio ainda nega os sacramentos da Igreja, nega
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