A REINVENÇÃO DO DISCURSO POLÍTICO DENTRO DE UMA REDE DE RELAÇÕES DE PODER NO MARANHÃO
Por: MARCELORISADA • 5/1/2016 • Projeto de pesquisa • 4.472 Palavras (18 Páginas) • 334 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
MESTRADO ACADÊMICO
A REINVENÇÃO DO DISCURSO POLÍTICO DENTRO DE UMA REDE DE RELAÇÕES DE PODER NO MARANHÃO
Introdução
Partiremos do princípio de que o pesquisador não nasce pronto. É necessário para o seu aperfeiçoamento, além de perseverança, paciência, lealdade científica, que ele esteja profundamente envolvido com a natureza humana das suas inquietações, no ato de investigar, para que os percalços que a pesquisa lhe impõe, represente os desafios necessários para superar os dilemas que se apresentam em questões teóricas e metodológicas, bem como as dificuldades inerente ao tema investigado.
Nesse sentido, a pós-graduação representa um importante momento para expor as inquietações e os problemas construídos durante o curso de graduação, sempre diante da perspectiva de superá-los em trabalhos futuros.
O tema a ser apresentado passou a estar envolvido nas preocupações e ansiedade do autor em virtude da sua militância política no Maranhão, bem como dos inúmeros debates travados em vários momentos do curso de graduação, mais isto, longe de ser um obstáculo ao desenvolvimento da pesquisa, nos influencia a promover uma maior tenacidade à compreensão do tema, posto que, como diz Bloch (2001), o pesquisador não está alheio as paixões, não podem postar-se parcialmente frente à realidade que está inserido. Até na ação de julgar-se, precisa-se interpretar como sujeito ativo, a realidade a sua volta. Portanto, entender a história, na qual se está inserido, é antes de tudo tentar compreender a sociedade a partir de referenciais teóricos que estão permanentemente em construção, é lançar-nos nas assas da humildade do conhecimento para saber como melhor agir.
Mais para que tenhamos êxito na árdua, mais intrigante tarefa de buscar “o outro”, é necessário percorrer as entranhas dos fatos desconsiderados, desvalorizados, apagados pela história oficial, percebermos em quais paradigmas foram estruturados e quais as suas conseqüências para o tema em análise.
Objetivos
Apesar do título pretensioso, esse projeto de mestrado tem por objetivo indicar alguns elementos conceituais para interpretação de fenômenos da dominação política presente no Maranhão nas últimas décadas, a partir da montagem de uma rede de relações intrínsecas de poder que vem caracterizando as relações políticas locais, bem como analisar alguns exemplos empírico de campos de forças e lutas e suas relações com o poder político estadual. Para tanto, procuraremos analisar o discurso político eleitoral utilizado pelo candidato José Sarney, nas eleições de 1965 para governo do estado e a sua suposta reinvenção que marcou a vitória do candidato Jackson Lago nas eleições de 2006.
Ao mesmo tempo tentaremos identificar a manutenção de uma teia de relações de poder presentes no estado, no período acima mencionado, que vem se preservando ao longo do tempo, funcionando como mediadora e mantenedora de um estado de dominação política, econômica, social e cultural, onde os interesses das chamadas elites econômicas passam a ser envolvidos por uma espécie de blindagem, em detrimento dos interesses maiores da sociedade.
Para tanto, pretendemos focalizar, no estado do Maranhão, o governo Sarney na década de 60, que segundo a história política do Maranhão, encontra-se dominado a mais de 40 anos, por um grupo político conhecido como “[1]oligarquia Sarney”. Tal bloco político, na concepção de Costa, teria sido originado a partir do rompimento do político José Sarney com o senador [2]Victorino Freire, líder do chamado “vitorinismo” e de sua vitória nas eleições para governador em outubro de 1965.
Ao analisarmos essas questões, procuraremos identificar as várias similitudes presentes no contexto do discurso político utilizado por Sarney na década de 60, com a sua possível reinvenção nas eleições de 2006. Assim como uma série de elementos de ordem política, simbólica e ideológica, presente do campo de lutas políticas nesse período.
O discurso como representação simbólica para a manutenção de uma rede de relações de poder.
No conceito de configuração sócio-histórica de Elias (1994) está contida a noção de rede, segundo a qual qualquer grupo de pessoas constitui uma rede de relações em que cada um é interdependente; uma pessoa não está desvinculada a outra. Dito de outra forma, trata-se de uma rede interdependente de relações em que as pessoas configuram um dado momento histórico. Não foi um agente isolado o único responsável, mas a rede de relações da qual ele faz parte.
Para ele a rede política tem um alcance heurístico quando se quer analisar o capital de relações de um agente acumulado ao longo de seu itinerário e como o mesmo é mobilizado para um fim específico. Pode-se compreender as associações políticas entre o “líder e seus aliados” a partir do compartilhamento, pelos indivíduos interligados por relações de benefícios, de diferentes critérios de adesão – como posição social, filiação partidária, relações de parentesco, interesses econômicos, pertencimento a uma categoria profissional.
Portanto, a rede de poder representa um espaço de ação política que incorpora seus membros através de relações de compromisso que se dão pelos mais variados interesses, criando estratégias diversas para a sua sustentação, funcionando como um trunfo importante para a construção de lideranças políticas, isto é, representando um respeitável instrumento para a arregimentação de apoios, adesões e bases eleitorais.
É dentro dessas estratégias que o discurso assume um relevante papel como elemento de fortalecimento simbólico, intelectual, político e literário nas redes de relações de poder.
Bourdieu (1989) considera os discursos que são proferidos em uma organização social como sistemas simbólicos, os quais possuem dualidade intrínseca: são estruturas-estruturadas e estruturas-estruturantes. Está contida, nessa noção, uma perspectiva relacional desse autor, acerca de estrutura. Tendo herdado muito do estruturalismo francês, Bourdieu (1992) reconhece o peso que possui a estrutura na determinação do comportamento dos agentes.
Em Durkheim (1970), o universo está contido na sociedade, porque a sociedade produz representações, a partir das quais os homens estabelecem uma ordem de entendimento a este mundo. Ao ordená-lo, a sociedade cria o universo. Essa estrutura, para muitos autores, seria capaz de explicar o comportamento dos agentes, em detrimento do pensamento dos agentes individuais.
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