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A UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)

Por:   •  17/3/2022  •  Resenha  •  2.390 Palavras (10 Páginas)  •  153 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)

Beatriz Alves de Brito DRE: 118158371

Gabriela Melo de Moraes DRE: 117208000

Gabriela Motta Carioca Santos DRE: 120045542

RESENHA

CONTROLE A VERDADE (temporada 1, ep. 4). “Como se tornar um tirano” [seriado]. Produção: David Ginsberg, Jake Laufer, Jonas Bell Pasht, Peter Dinklage e Jonah Bekhor. Distribuidora: Netflix, 2021 (26min)

Instituto de História/UFRJ

Disciplina – História e Política I: Os regimes autoritários no Mundo Contemporâneo: Psicologia das massas, liderança carismática e cultura da mídia (séc. XX-XXI)

Prof. Wagner Pinheiro Pereira

Rio de Janeiro

2022

A série documental “Como se tornar um tirano” (título original, “How to become a tyrant”), lançada pela plataforma de streaming Netflix em 2021, aborda, no decorrer dos seis episódios de sua primeira temporada, governos ditatoriais dos séculos XX e XXI. A série é baseada no livro o “Manual do Ditador”, escrito pelo cientista político Bruce Bueno de Mesquita, e  foi idealizada e produzida por David Ginsberg, Jake Laufer, Jonas Bell Pasht, Peter Dinklage, e Jonah Bekhor, sendo uma produção estadunidense, e tem como objetivo relatar os principais passos que deveriam ser tomados para se tornar um tirano, e, em cada episódio, dá-se foco a um governante tirano e como este conseguiu se colocar e se manter no poder. No caso do quarto capítulo da série, intitulado “Controle a verdade”, é exibido, ao longo de seus 26 minutos de duração, um pouco sobre o governo autoritário de Josef Stalin (1929-1953), e como este foi capaz de transformar a verdade em desinformação e propaganda.

Na série são utilizadas imagens e vídeos reais dos governos tiranos, além do uso de animações -que foram produzidas pelo estúdio 6 Point Harness[1], fundado nos EUA em 2003, e ganhador do Oscar por “Hair Love” em 2020 -para retratar esses regimes. Os episódios são narrados por Peter Dinklage, ator famoso pela sua atuação em “Game of Thrones”, que lhe rendeu um Emmy de Melhor Ator Coadjuvante em Série Dramática. Numa entrevista para o site TV Insider[2], os produtores, Jonah Bekhor e Jonas Bell Pasth, afirmaram que o objetivo do documentário é chamar a atenção do público e provocar uma reflexão, pois hoje em dia há um aumento de personalidades politicas com atitudes tirânicas.

A utilização destas fontes audiovisuais, promove certas imagens e representações dos regimes tiranos, o que acaba por contribuir sobre a visão que um telespectador pode ter sobre esses governos, pois de acordo com os autores, Steven Mintz e Randy Roberts, as fontes audiovisuais ajudam a formar a própria imagem e a promover a unificação de símbolos em uma sociedade (apud PEREIRA, 2020, p.382). Sendo assim, quando as obras audiovisuais apresentam de forma superficial temas importantes da História, sem se preocuparam em fazerem uma análise crítica e sem abordarem o contexto histórico de forma profunda, acabam por influenciar o telespectador de forma negativa, que vão compreender um determinado período histórico de forma rasa e sem nenhum senso crítico, como é o caso da série “Como se tornar um tirano”. Apesar da série mostrar vários comentários de especialistas, como historiadores e jornalistas, sobre os fatos históricos apresentados, a série não consegue aprofundar os temas abordados e fazer uma análise crítica, retratando os fatos históricos de forma superficial e simples. Outros críticos e jornalistas também possuem a mesma opinião que a nossa nessa resenha, como o jornalista Joel Keller, que já teve artigos públicos no New York Times, no site sobre cultura pop DECIDER[3] . O jornalista afirma que a série apresenta boas explicações históricas e de forma acessível para o público leigo, mas não consegue fazer uma análise profunda sobre o que aborda.

Antes de dar início à discussão, deve-se abordar, ainda que de forma sintética, o contexto histórico da Rússia do início do século XX. Após a derrubada do regime czarista, com a tomada de poder pelos bolcheviques sob a liderança de Vladimir Lenin, em 1917, Stalin é posto, por Lenin, no comando de um importante ministério do governo e, cinco anos mais tarde, em 1922, torna-se secretário-geral do Partido Comunista, cargo este que, embora pudesse ser considerado apenas como uma posição administrativa dentro do sistema de governo, chegando, até mesmo, a ser menosprezado por alguns, permitiu com que Stalin conquistasse, aos poucos, poder e influência dentro do partido, de acordo com Waller Newell, professor de Ciência Política da Universidade Carleton, no Canadá. Seis anos antes de Stalin se tornar ditador, em 1923, complicações relacionadas à saúde de Lenin se intensificam, e ele ao lado de outros dois políticos soviéticos, Lev Kamenev e Grigory Zinoviev, é nomeado responsável para assumir o comando do governo do país. Sendo assim, um ano depois com a morte de Vladimir Lenin, Josef Stalin mobiliza o ocorrido em seu favor, buscando criar uma aproximação entre sua figura e a de Lenin e, para isso, diversas medidas foram tomadas por ele, dentre elas, por exemplo, a construção de um mausoléu, localizado na Praça Vermelha, em Moscou, no qual encontra-se, até os dias de hoje, preservado e exposto o corpo do líder fundador da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Vladimir Lenin. Em outras palavras, Stalin estaria buscando reescrever, de acordo com seus interesses, sua relação com Lenin e, assim, mostrar ao povo soviético que ele deveria ser seu sucessor, tal medida adotada pelo ditador consiste, portanto, na próxima tática do guia: “reescreva a História”.

Desse modo, ao longo do episódio o narrador expõe como o ditador soviético manipulou, alterou e censurou fatos, notícias, imagens, e até mesmo a História, evidenciando a forma autoritária que seu governo assumiu, e, podemos dizer, ainda, que, ao mesmo tempo em que o Stalin buscava modernizar e desenvolver economicamente a União Soviética, durante seu governo a falta de liberdade de expressão, a perseguição de adversários políticos e opositores ao regime, a vigilância constante da população e a censura foram características marcantes desse período autoritário e que, como poderemos observar um pouco mais a frente, são deixadas de lado, uma vez que muitas pessoas, e, até mesmo, a própria historiografia do período em alguns textos, atribuem maior destaque às questões relacionadas às modernizações ocorridas, nesse período, nos setores econômico e industrial do que aos prejuízos que estas geraram para grande parte do povo soviético. Durante as três décadas nas quais governou a URSS, Stalin buscou controlar, manipular ou, ainda, eliminar qualquer instituição que fosse de encontro com os interesses do governo, e, a exemplo disso, podemos citar o momento em que o episódio menciona a censura à imprensa e à mídia, o controle sobre a educação dos jovens e crianças, que seria baseada na “verdade” e nos ideais do partido, sem contar fato de que, como podemos observar no episódio, livros e, até mesmo, temas que criticassem ou fossem considerados “ofensivos” ao governo foram proibidos. Além disso, o Stalin voltou-se, também, contra a Igreja, uma vez que esta, além do poder doutrinador da religião, possuía ouro, pedras preciosas e outros objetos de valor material que poderiam ser utilizados pelo Estado, sendo assim qualquer tipo de manifestação religiosa foi proibida e substituída por novos dogmas, estes, como podemos observar no episódio, passam a ser criados pelo Estado.

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