Fichamento - Do Cabaré ao Lar - Margareth Rago
Por: Paula Cristiane Rita de Souza • 27/5/2016 • Trabalho acadêmico • 1.347 Palavras (6 Páginas) • 1.692 Visualizações
UNESPAR- Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão
História - 4ª ano
Acadêmica: Paula Cristiane Rita de Souza
Disciplina: História do Brasil III
Professora: Joana Medrado
RAGO, Margareth. A desodorização do espaço urbano. In: Do cabaré ao lar- utopia da cidade disciplinar. Brasil 1890-1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1985.
Parte 1: Habitação da classe operária
1. Na habitação popular, os indivíduos se amontoam assim como o lixo; os fluxos não circulam, os miasmas pútridos estagnam, a aglomeração de gente, de cheiros fétidos de detritos e de animais domésticos congestionam o cortiço e o bairro operário, impedindo a circulação de ar, água, e a penetração dos raios solares, elementos fundamentais para uma boa saúde do organismo.
2. A dimensão da moradia operária, a escuridão e a umidade dos compartimentos nauseabundos, a utilização comunitária de tanques e latrinas, o fedor exalado pela merda acumulada em fossas ou nos latões, o convívio promiscuo de pessoas e de animais nos mesmos espaços assustaram as exigências dos sentidos refinados das classes privilegiadas.
Parte 2: Gestão higiênica da miséria
1. Com isso, na moradia operária passa a ser instaurada uma nova gestão de vida, que parte da burguesia, higienistas e poderes públicos a fim de controlar seus atos e reorganizar seus espaços e suas relações cotidianas.
2. A preocupação inicial com as condições de habitação do trabalhador urbano parte dos higienistas sociais, preocupados com surtos epidêmicos que podem vim ameaçar bairros ricos, ocupam-se com a medicalização da cidade e a desinfecção dos lugares públicos, com a drenagem dos pântanos, com o alinhamento das ruas e com a arborização das praças.
3. Como parte desta política sanitarista de purificação da cidade, a ação dos higienistas sociais incide também sobre as moradias do proletariado, com a intenção de constituir um espaço privado, mas também realizando uma demarcação precisa dos espaços de circulação de diferentes grupos sociais.
4. Os médicos higienistas passam a incentivar a vistoria minuciosa das habitações dos bairros populares, impondo autoritariamente a execução de medidas higiênicas com a crença de que a “casa imunda”, o cortiço e a favela constituem focos onde se originam os surtos epidêmicos, os vícios e os sentimentos de revolta, portanto o mal deveria ser extirpado pela raiz.
5. Sendo assim, desaglomerar os pobres, descongestionar o espaço doméstico do trabalhador, arejar e iluminar os compartimentos e eliminar miasmas e germes, observando a mais rigorosa higiene constituem tecnologias disciplinares do poder médico.
6. A partir disso, começa a ser projetada a privatização dos banheiros, a instalação de redes de esgotos que afastem as imundícies para longe da cidade, a canalização da água, todo sistema de serviços públicos de higiene, e a introdução de áreas verdes, criação de jardins na cidade ou decoração das casas com flores e plantas.
7. Em 1894, o Código Sanitário decretado pelo Estado estipula um capítulo sobre as “Habitações da Classe Pobres”, no qual se determina que sejam proibidas as construções de cortiços e eliminados os já existentes.
8. Anos depois, a higiene privada do trabalhador pobre continuava sendo objeto de preocupação das autoridades sanitárias, juntamente com a recusa por parte do proletariado à aceitação de disciplina desodorizante das classes privilegiadas.
Parte 3: Do público ao privado: um deslocamento tático
1. Os dispositivos disciplinares que visavam antes desfazer as confusões, arejando e iluminando somente os espaços públicos são transportados tanto para a fábrica quanto para o espaço privado do trabalhador.
2. No começo do século XIX, uma carta régia proíbe o enterro dos mortos nas igrejas e ordena a construção de um cemitério afastado da cidade.
3. A partir do final do século XIX, o poder médico persegue a infecção no espaço privado do trabalhador, invade sua casa, inspeciona seu quarto e prescreve normas de conduta anteriormente testadas nos espaços públicos.
Parte 4: A disciplina das vilas operárias
1. No discurso dos higienistas, dos industriais ou ainda dos literatos, a representação imaginária do pobre estrutura-se em função da imundície. O pobre é o outro da burguesia, ele simboliza tudo o que ela rejeita em seu universo.
2. A solução ideal preconizada pela higiene pública para a questão da habitação popular desde o final do século XIX, no Brasil, é a construção das vilas operárias pelos poderes estatais ou por capitalistas particulares, nos bairros periféricos da cidade.
3. A construção das “habitações higiênicas e baratas” se tornará um negócio lucrativo tanto para os industriais/senhorios, quanto para as companhias de saneamento.
4. Nas primeiras décadas do século XX são construídas várias vilas operárias, em geral ligadas a uma fábrica. Muito mais que uma maneira de morar, as vilas representam a vontade de impor sutilmente um estilo de vida. Através da imposição das vilas operárias, vilas punitivas e disciplinares, estabelece-se todo um código de condutas que persegue o trabalhador em todos os espaços.
5. As vilas passaram a ser projetadas para oferecer conforto e proteção, nesse sentido o poder disciplinar cria dispositivos estratégicos de estreitamento dos vínculos que unem os membros da família, e também entre esta e o patrão, numa mescla de sentimentos que incluem gratidão e cumplicidade.
6. Estratégia patronal de fixação da força de trabalho ao redor da unidade produtiva neste momento histórico de constituição do mercado de trabalho livre no país, a construção das vilas operárias permite controlar a economia interna do trabalhador, seu tempo e seu espaço.
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