MOVIMENTO PUNK NA DÉCADA DE 1980 EM SÃO PAULO
Por: Pri Mahfuz • 16/3/2016 • Artigo • 5.112 Palavras (21 Páginas) • 619 Visualizações
“O Começo do Fim do Mundo”[1]
A visão de um ex Punk sobre o Movimento em São Paulo na década de 1980[2]
Priscila Marques Mahfuz
Anderson da Silva Santos
Elvis Ferreira dos Reis
Michelle Clarice de Lima
Rangel Rei Igor da Silva
Resumo
Esse artigo apresenta uma análise acerca do depoimento de um ex-Punk do estado de São Paulo, fazendo-se uso da História Oral, buscando através de tal análise, registrar não somente uma visão da própria história a partir do olhar do ex-Punk, apesar de também fazê-lo, mas de produzir uma nova fonte sobre o assunto em respaldo, garantindo uma possibilidade a mais para os futuros possíveis estudos sobre o tema. O estudo aqui proposto e as reflexões que permeiam esse artigo nos remetem a um período de grandes mudanças políticas e ideológicas que modificaria o rumo da cultura brasileira. Buscamos então, através da entrevista aprofundar os estudos a cerca dos acontecimentos aqui narrados, através da divisão em Sociedade, política e Movimento Punk.
Palavras-Chave: História Oral, Movimento Punk, Ditadura Militar, Década de 1980.
Introdução
Na década de 70 o mundo enfrentava uma de suas maiores crises econômicas, com desemprego, greves e aumento da pobreza em todo mundo que ainda sofria com o pós-guerra e com a recessão.
Nesta época, as indústrias fonográficas viam na música uma maneira de obterem grandes lucros. A reação contra as corporações musicais veio a ser conhecido internacionalmente como Punk Rock.
Segundo Bivar (1982, p.5) a história do Punk tem início em Nova York, na década de 1970. Jovens, artistas desconhecidos, como Velvet Underground e New York Dolls trouxe um novo estilo de "alternativo boêmios" de entretenimento, enraizada em um "do-it-yourself” o faça você mesmo. Músicas curtas, agressivas, presença de palco, por vezes conflituosas e mensagens iradas contra o consumismo atingiram os estágios em locais como o CBGB de Nova York, começando o movimento que seria conhecido como Punk Rock.
Bandas como Ramones e Talking Heads iriam evoluir para fora do movimento Punk Rock, e tornarem-se influências para aqueles que compartilhavam uma aversão semelhante no que estava ocorrendo na indústria da música.
Punk é..., até então aquela época dos anos 79, 80 foi quando me conheci como Punk, é..., é uma ramificação, eu sempre gostei muito de Rockabilli, de Elvis, e o Elvis ele chamou muito esse movimento né! Tanto é que todos os punks da época tinha muito respeito por Elvis, então eu já vinha naquela, e eu conheci uns colegas que quando eu via aquele pessoal, aquele visual todo me chamou a atenção, e também pela ideologia assim, entendeu? (MACIEL, 2012)
Malcolm McLaren tem um papel importante na história do Punk Rock. Depois de sua tentativa com o New York Dolls, McLaren se mudou para a Inglaterra e se juntou com seu amigo Bernie Rhodes. Os dois formaram uma banda que foi sem dúvida seu maior sucesso, os Sex Pistols. McLaren e os Pistols adotaram uma visão anarquista do mundo.
Com cabelos espetados, roupas rasgadas, alfinetes de segurança e com joias, eles se expressavam duramente contra o sistema de classe britânico e da subjugação da classe trabalhadora. Os Sex Pistols foram também como notórios por sua impetuosidade como eram por sua incapacidade de tocar seus instrumentos.
O início do Punk Rock no Brasil se deu no final da década de 1970. Jovens de classe baixa viam no Punk uma forma de manifestar sua realidade em que viviam nos anos finais da ditadura militar e pela influência de bandas como Sex Pistols e Ramones.
A primeira banda considerada na época como Punk foram os Restos de Nada em 1978. Depois, surgiram outras bandas que formaram a cena para o punk brasileiro.
Na primeira metade da década de 1980, mais bandas apareceram em São Paulo, como Cólera, Olho Seco, Garotos Podres, Mercenárias, Inocentes e Ratos de Porão.
Tendo em vista toda esta pluralidade, este artigo pretende explorar todos os aspectos de rebeldia deste movimento que ganhou força entre os jovens de classe média baixa de São Paulo como uma forma de protesto contra uma sociedade que esta delimitada por padrões morais.
O artigo foi proposto após uma entrevista concedida pelo vocalista da banda Inocentes um dos percussores do Movimento Punk no Brasil.
Com base na entrevista concedida por um Ex-punk, realizaremos esse artigo através da História Oral, um resgate a memória de quem viveu o período e criar uma nova fonte para estudos futuros.
Onivaldo Pinto Maciel, atualmente trabalha como designer gráfico, nasceu Guararapes em 20/05/1962. Pai de dois filhos e casado com a senhora Lidia Nunes Maciel, hoje mora na região de Itaquera, Zona Leste de São Paulo.
Seu filho mais velho foi colega de escola de um dos integrantes do grupo, onde ficou sabendo que seu pai foi um Punk na década de 80.
Assim que soube da proposta do artigo colaborou de imediato em relatar suas experiências como um Punk sempre sorridente e confortável na entrevista.
História oral- Uma memória Punk
A história oral conquistou definitivamente seu espaço, acredita José Carlos Bom Meihy, um dos pioneiros no uso da técnica para reconstruir o passado. Professor titular aposentado do Departamento de História da USP e coordenador do Núcleo de Estudos em História Oral, da mesma universidade, Meihy acredita que ela tenha se tornado um elo entre a academia e a vida fora dos muros escolares. Segundo o pesquisador, o Brasil assumiu mundialmente “um papel de destaque neste tipo de estudo. (CARTA CAPITAL, 21/09/2011)
Optamos trabalhar com História Oral, porque ela nos possibilita ir além da escrita, podemos fazer uma releitura junto com o entrevistado através dos gestos, das feições, as declarações mais explosivas, ou mais pacificas do que será relado e resgatado juntamente com suas lembranças, que podem ser sinceras ou sarcásticas, dependendo do ponto de vista do entrevistador e do contexto histórico a ser trabalhado.
A narrativa será única, porque o momento da entrevista é único e nos possibilita a essa exclusividade.
Como bem disse em suas palavras o professor Meiry, em entrevista a Carta Capital a História Oral torna-se um elo entre a acadêmia e a vida fora dos muros da escola, que foi exatamente o que tentaremos apresentar em nossa pesquisa.
No decorrer do artigo vamos fazer uma releitura através da memória de um Ex-Punk “O Japa”, conhecido atualmente como Maciel.
Através de um questionário de perguntas estudadas e elaboradas por inúmeras vezes em reuniões realizadas pelo grupo, três câmeras um gravador e muito bom senso, fomos até a residência do Ex-Punk Maciel que reside na periferia de São Paulo, apresentado por uma das integrantes do grupo Priscila Mahfuz, apaixonada pelo tema Punk, que nos embalou a curiosa aventura sobre as características e a importância do movimento como um todo.
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