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Memórias e suas particularidades: Desafios da reinserção social dos ex-combatentes da FEB

Por:   •  26/10/2018  •  Ensaio  •  1.833 Palavras (8 Páginas)  •  241 Visualizações

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Universidade Federal de São João del Rei

Memórias e suas particularidades: Desafios da reinserção social dos ex-combatentes da FEB

                                 Cultura e Identidade

Setembro de 2016

São João del Rei

Tema/Problema:

Poucas pessoas sabem o contexto pelo qual o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, menos ainda como foi à volta desses ex-combatentes para o país e para suas famílias, as dificuldades enfrentadas para reinserção dos mesmos a sociedade e os estigmas que marcaram tanto os pracinhas quanto as suas famílias.

Sabemos que a História trabalha com a perspectiva não somente de englobar como também de clarear tanto os eventos quanto os sujeitos históricos, porém é efêmera a abordagem desse tema pelo que vou chamar aqui de História Oficial, os livros didáticos e a historiografia nacional são grandes responsáveis por parte desse esquecimento ou pela marginalidade do tema, uma vez que trabalham o contexto da Segunda Guerra na perspectiva aliada pautada na visão norte americana e inglesa.

A fim de trabalhar com memórias temos de ter em mente alguns teóricos importantes no assunto como Maurice Halbwachs, Pierre Nora e Michael Pollak, o primeiro sem duvidas é um marco teórico quanto ao estudo de memória e história, uma vez que a lembrança é em larga escala uma reconstrução do passado com a ajuda de apropriações do presente e também de outras reconstruções feitas em épocas anteriores, ou seja, a visão primaria sobre um determinado fato já está deveras alterada, segundo Halbwachs.

Ainda para Halbwachs a diferença entre História e Memória é feita da seguinte forma, a história está ligado aos fatos mais relevantes para uma nação e esses fatos geralmente estão muito distantes da visão individual, o que acabar por trazer a tona problemas de identidade. Já a visão de Nora é um pouco mais abrangente do que a de Halbwachs, o primeiro diz que a categoria memória deixou de existir, pois passou a ser incorporada pelo discurso histórico, já o segundo vai dizer que as lembranças seriam incorporadas pela História assim que os grupos e indivíduos detentores dessa memória deixassem de existir.

Já a pesquisa aqui elucidada tenta trabalhar uma linha teórica um pouco mais otimista do que a apresentada nesses teóricos que foram citados anteriormente, para isso é de suma importância o uso do estudo sobre memória e história de Michael Pollak, já que o mesmo trabalha na perspectiva de que essas memórias marginalizadas trouxeram novas possibilidades no terreno fértil intitulado de História Oral.

Esse trabalho não se trata de historicizar a memória e sim trazer a superfície essa gama de memórias marginalizadas, silenciadas. Segundo Pollak, é uma disputa entre memória oficial e subterrânea, esse embate se trata pela incorporação dessas memórias marginalizadas, é um embate pela afirmação, ligada a uma identidade que por pertencer a uma minoria, encontra-se marginalizada.

Existem vários trabalhos pelo Brasil falando desse retorno dos ex-combatentes, porém nenhum dos que foram usados na bibliografia tem o intuito de estender essas preocupações à família, aos relatos dos familiares, aos anseios e emoções mais profundas externadas por esses familiares ao ter em suas residências seus pais destroçados não somente pela guerra, mas também pelo sentimento de abandono por parte do governo e de toda a nação, seja na parte social ou na parte historiográfica.

É a partir dos anos noventa no Brasil com a alta nos estudos relacionados à História Oral, mais especificamente aos estudos de memória, que esse apelo à memória da FEB e dos pracinhas ganha um espaço maior, já que nossa História Oficial trata a participação brasileira na Itália com descaso.

Um dos autores a ser trabalhado é da autora Virginia Mercês Guimarães Carvalho, que vai nos mostrar a disputa dessa memória dentro do próprio circulo militar, onde há uma diferenciação e segregação entre os militares que ficaram no litoral brasileiro e os que foram de fato para lutar na Itália, ela nos mostra a heterogeneidade de memórias, logo não seria difícil entender o porquê dessa segregação acontecer para além desse circulo.

Segundo Carvalho “a multiplicidade de memórias e lugares de memórias existentes sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra, nos indicam uma forte preocupação em manter viva a figura do ex-combatente. No entanto, ao contrário do que ronda o senso comum, as memórias deste evento histórico não são homogêneas e se agitam continuamente em meio ás constantes ressignificações do passado, movimento próprio da história”[1].

Porém esses lugares de memória que é citado, pouco tem haver com a aproximação entre ex-combatentes e sociedade, mas sim um apelo à memória do que foi feito em campo de batalha, algo que realmente deslumbra esses agentes históricos e seus respectivos nichos, um efêmero reconhecimento dos deveres cumpridos em nome da pátria e é isso que a História Oral nos proporciona, uma aproximação entre esses sujeitos históricos e a sociedade, uma vez que é trazida a tona os mais profundos sentimentos sejam de satisfação ou frustração com a identidade a eles atribuída.

Como vai ser elucidado muito bem na fala do autor Alessandro dos Santos Rosa em sua tese de mestrado,

Não se pode culpar a sociedade pelo desfecho da participação brasileira na guerra, pois a imagem distorcida dos expedicionários surgiu da ação do próprio Estado. Esses atos criaram uma barreira entre os ex-combatentes e o povo brasileiro. Não houve uma divulgação para enaltecer a imagem dos febianos e isso foi essencial para que a população esquecesse rapidamente aqueles que representaram a sociedade brasileira em campo de batalha, lutando por ideologias que algumas camadas da sociedade acreditavam. Como tudo se processou, tornou-se difícil a consolidação de uma memória identitária, uma ligação entre a sociedade e os ex-combatentes febianos.

Porém como já foi dito no inicio deste projeto, a ideia é não somente trabalhar as memórias dos ex-combatentes como também da família e as dificuldades enfrentadas principalmente por essa ultima, uma vez que tais memórias tem um apelo emocional muito grande, pois é algo que atinge feridas bastantes profundas, feridas que somente um estudo historiográfico engajado poderia “curar”.


Objetivos e Metodologia:

Buscando entender essa gama de memórias e sentimentos reprimidos, este trabalho visa coletar o maior numero possível de relatos de familiares e entrevistas já realizadas com os pracinhas, analisando as especificidades de cada relato e contrapondo-os com o intuito de mostrar a riqueza de detalhes obtida em um estudo de memórias.

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