O Povo da Rua na República Velha
Por: Ana Carolina Fonseca • 3/10/2018 • Resenha • 1.281 Palavras (6 Páginas) • 210 Visualizações
Ao vermos como eram as estatísticas da população no Brasil, é evidente que a maior parte do povo não tinha participação direta na política formal da República, uma vez que fazia parte desse sistema apenas aqueles cujo os oligarcas poderiam fazer com que atendessem aos seus interesses. Apesar de um sistema eleitoral tão restrito, uma outra parcela da população, que foi também alijada de tal processo e que fazia parte do que compreendia a maior fração do povo, buscou meios para expor suas necessidades, manifestar sua opinião e reivindicar seus direitos e vontades. Essa parte da população foi chamada de “Povo da Rua”, por sair de suas casas na intenção de manifestar e reivindicar seus interesses, podia ser por meio de greves, por agrupamentos que rompiam com o modelo republicano, por manifestações civis de direitos básicos, por uma reação violenta a política dos coronéis ou outros. As vezes a ação desses grupos não tinham um efeito direto ou eficaz, mas ao menos serviam para indicar as falhas da República.
O Povo da Rua podia ser tanto do campo quanto da cidade, proletariados de todos os setores ou camponeses e isso faz com que as reivindicações tenham sido as mais diversas possíveis, já que cada um desses grupos possuía interesses, valores e origens diferentes. Suas manifestações não eram necessariamente ideológicas, algumas vezes eram baseadas unicamente em suas necessidades mais básicas e crenças. Essa parcela da população protagonizou algumas das revoltas mais importantes e icônicas do povo brasileiro.
Os republicanos, entretanto, reprimiram fortemente os movimentos formados pela população, onde as manifestações populares eram sempre tratadas como caso de polícia ao invés de tentar chegar a um consenso direto, fazendo com que essas revoltas sejam marcadas muitas vezes por grandes massacres ou duras medidas repressoras.
Nas cidades, o Povo da Rua foi o responsável pelas greves ou mesmo por revoltas como a Revolta da Chibata. No segundo caso, o que foi chamado de “proletário naval” e que ainda sofria de castigos nos moldes da escravidão até então (1910), após voltar da Inglaterra e comparar o tratamento recebido pelos marinheiros ingleses e como estopim presenciar uma última medida disciplinar onde um dos colegas foi submetido a 250 chibatadas, revoltou-se contra tais condições que lhes eram dadas e causaram pânico a capital da República, onde pressionaram os governantes ameaçando atacar e mostrando suas habilidades ao manobrar as novíssimas embarcações recém adquiridas. Tamanha foi a pressão exercida sobre os republicanos que foi decidido atender suas reivindicações e dar anistia aos revoltosos, porém, posteriormente vieram a perseguir, prender e deportar alguns deles, gerando uma outra revolta.
Os grevistas, por sua vez, eram caracterizados por serem mais agressivos, e foram inúmeras as greves organizadas por eles, baseadas nas mais diversas tendências e além de precisarem lidar com as divergências ideológicas e a repressão do Estado e patrões, precisaram também enfrentar a falta de experiência na organização de greves.
No período de 1915 e 1929 foram criadas aproximadamente 70 associações operárias apenas em São Paulo, estas que se somaram a aproximadamente mais 60 que se formaram desde o início do século. Em 1906 foi realizado o primeiro Congresso Operário Brasileiro, que contou com representantes de cerca de associações das mais diversas indústrias, onde ficou definido também que essas deveriam adotar o nome de sindicatos, além de outros acordos que ajudaram a organizar as reivindicações seguintes.
Até 1917, muitos desses sindicatos e organizações eram de orientação anarco-sindicalistas e concentravam-se apenas em ações que afetassem os patrões economicamente, sendo contrários a formação de partidos políticos e participação eleitoral e, até 1922, as tentativas de formar um partido socialista não obtiveram êxito e no Rio de Janeiro alguns partidos tentaram se aproximar da política, mas com uma lógica clientelista e não militante.
Além das greves, a população da capital também se organizava em torno de problemas do dia a dia, onde se envolviam com autoridades, sobretudo policiais para protestar por necessidades básicas como segurança, qualidade dos serviços públicos e qualidade de vida.
Enquanto nas cidades as reivindicações eram a respeito de melhorias nas condições de trabalho, qualidade de vida e salários, no campo os sertanejos reivindicavam coisas diferentes, sofriam e lutavam contra a seca, falta de terra, desemprego, abandono por parte dos políticos, violência por parte dos coronéis, fome e outros.
Os métodos de manifestações e suas orientações se diferenciavam bastante, bem como as pessoas que compunham os participantes das revoltas, principalmente por conta do contexto em que se encontravam. As manifestações eram feitas muitas vezes na liderança de beatos e com a participação de pobres, miseráveis, jagunços, trabalhadores e etc. São destaques das manifestações camponesas os movimentos do Contestado, Canudos e de Juazeiro, esse último que era mais político e não messiânico.
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