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O Que se Perde Enquanto os Tanques se Deslocam

Por:   •  20/6/2020  •  Artigo  •  674 Palavras (3 Páginas)  •  147 Visualizações

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Se o poema “Perguntas de um Trabalhador que Lê”, de Bertolt Brecht, fosse exibido em imagens, soldados em combate nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais com certeza poderiam ser seu pano de fundo. Durante a leitura, a narrativa construída em minha mente foi feita por cenas do documentário de 2018 “They Shall Not Grow Old”, de Peter Jackson. A ideia é simples: sempre voltamos nossos olhos aos grandes acontecimentos e resultados sem levar em consideração a “força” que os impulsiona e os tornam reais. Em outras palavras, nos acomodamos a ver seres humanos como estatísticas, e não como histórias.

Setenta milhões de soldados batalharam na então Grande Guerra. Dez milhões foram mortos. Vinte milhões “saíram” feridos. Marcelo Masagão, no filme de 1999 “Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos”, felizmente não viu nesses números uma tradução do que seria a guerra. O que busca mais sentido é a frase de um avô: “Numa guerra, não se matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias…”. Reside nisto um dos desafios interpretativos do poema de Brecht: a guerra não se resume às trincheiras e a uma Alemanha humilhada pelo Tratado de Versalhes. Guerra é a carta perdida de uma viúva; são os órfãos que procuram seus pais; os entulhos que já foram lares.

Masagão foi inspirado pela leitura cinematográfica da obra Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm. O historiador britânico, por meio da fina ironia de julgamento de quem sentiu na pele os 31 anos de conflito mundial, enfrenta o desafio de compreender, por exemplo, o período entre a declaração de guerra austríaca à Sérvia, a 28 de julho de 1914, e a rendição incondicional do Japão, a 14 de agosto de 1945. No capítulo “A Era da Guerra Total”, ao relembrar as consequências dos horrores na Frente Ocidental, Hobsbawm aponta que “quase todos os que serviram na Primeira Guerra Mundial saíram dela inimigos convictos da guerra” (Era dos Extremos, Companhia das Letras, 1997, p. 28).

No entanto, o autor destaca o ex-soldado que havia passado por aquele tipo de guerra sem se voltar contra ela: “(...) às vezes extraíam da experiência partilhada de viver com a morte e a coragem um sentimento de incomunicável e bárbara superioridade, que viria a formar as primeiras fileiras da ultradireita do pós-guerra” (Era dos Extremos, Companhia das Letras, 1997, p. 28). Esses, talvez, são aqueles que no longa de Jackson apareceram como os homens marginalizados que não mais tem lugar na sociedade do pós-guerra. Aqueles cujas famílias não têm interesse em saber como foi a “experiência”, porque isso torna-se algo intrínseco apenas a quem a viveu. Adolf Hitler era um desses homens.

São esses ex-soldados, quase nunca protagonistas, que formam as milícias do entreguerras, como a Sturmabteilung (SA) na Alemanha e os Fasci Italiani di Combattimento na Itália. Nesse contexto, é o fortalecimento da direita que leva Hitler ao poder em 1933 e torna a explosão da Segunda Guerra Mundial uma questão de tempo – cerca de seis anos. Ainda sobre protagonismo, outra estatística não muito reconhecida é a da presença da mulher em ambas as guerras, mais expressivamente na 2ª. Dirigiram tanques e ambulâncias, foram operárias nas fábricas de armamentos e munição, trabalharam como enfermeiras e até como pilotas de

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