O Uso do cinema dentro e fora da escola: O que os alunos do Ensino Médio de uma escola pública pensam acerca desse recurso tecnológico.
Por: claudiawatanabe • 3/6/2018 • Artigo • 9.994 Palavras (40 Páginas) • 353 Visualizações
O uso do cinema dentro e fora da escola: o que os alunos do Ensino Médio de uma escola pública pensam acerca desse recurso tenológico.
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo verificar o posicionamento dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio quanto ao uso do cinema dentro e fora da escola, utilizando como método de análise a teoria crítica frankfurtiana, centrada nas noções de dominação e subordinação que interferem nesta relação entre o jovem e o filme. O texto foi organizado em dois capítulos. O primeiro apresenta um levantamento bibliográfico que teve como objetivo reunir artigos de autores que discutem o recurso audiovisual em sala de aula. De acordo com a leitura feita, eles citam algumas vantagens quanto ao uso do filme. Dentre elas: o fascínio que os jovens possuem diante deste recurso; a possibilidade de associar os teores fílmicos à vivência de modo lúdico; instigam o lado sensorial, visual, musical, acabando por seduzir, entreter, despertando a imaginação para outras realidades no tempo e no espaço. Contudo, estes mesmos autores atentam para os perigos de se utilizar o filme de modo acrítico e reflexivo. Assim, eles elencam algumas propostas: a) esmiuçar os elementos que compõem o filme, com destaque para o roteiro, direção, fotografia, música e autores; b) verificar o contexto social e político da produção, incluindo também a censura e as ideologias da indústria do cinema; c) analisar a receptividade do filme perante o público segundo idade, sexo, classe; d) fazer recortes, pausas, discussões prévias, a fim de desmontar o filme para que o aluno consiga compreender as entrelinhas e desenvolver a reflexão e as possíveis críticas; e) considerar que o filme possui uma linearidade e uma lógica que não condiz com a teoria. O primeiro capítulo traz ainda o referencial teórico – a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt - que guiou a análise dos resultados. Por meio de diferentes áreas como a Sociologia, Filosofia, História e Psicologia, os autores frankfurtianos elaboraram teorias centradas nas relações de poder que nos auxilia a compreender esta relação entre o aluno e o cinema. Os conceitos chave utilizados nesse trabalho foram a racionalidade tecnológica, caracterizada pela ênfase na técnica que impede os indivíduos a terem uma relação autêntica com o conhecimento; a indústria cultural representada pelos meios de comunicação como a televisão, cinema, internet que formam o individuo acrítico, superficial, individualista, que possui uma valorização excessiva do trabalho e do capital. E, por fim, a pseudoformação em que o sujeito desta sociedade administrada encontra-se em baixa, devido à fragmentação do conhecimento, perda da capacidade crítica e reflexiva. O segundo capítulo traz a caracterização das duas escolas estaduais em que foram ouvidos 19 alunos, de Ensino Médio. Considerados como classe média baixa, eles responderam a um questionário com perguntas abertas e fechadas. Foram elaboradas perguntas referentes aos segmentos cinematográficos mais vistos, não só na escola, mas nos seus momentos de lazer; o que eles pensam a respeito do uso dos filmes em sala de aula; como este recurso é trabalhado e, por fim, de que modo o material referido auxiliou no aprofundamento do conhecimento escolar geral e, mais especificamente, no teor histórico-escolar. Em se tratando da relação entre o aluno e o filme, a pesquisa trouxe como principais resultados: a) os alunos preferem filmes de ação, denotando a adesão à ideologia da racionalidade tecnológica por trazerem como principal causa a técnica apurada das cenas que fizeram com que estas parecessem reais, liberando os instintos humanos primitivos de maneira calculada, mantendo-se as relações de dominação; b) o recurso fílmico pode levar os alunos à perda da imaginação, sucumbindo-se assim aos ditames sociais; c) poucos alunos observaram problemas sociais nas películas vistas; d) alguns filmes trouxeram roteiros centrados em soluções individuais e não coletivas; e) não houve questionamentos quanto aos possíveis conteúdos ideológicos contidos nos filmes, ou seja, os alunos não costumam fazer a relação entre os filmes, os interesses de produtores, da indústria cultural e da sociedade administrada que poderiam elucidar e desnaturalizar importantes questões sociais. Quanto ao uso do filme em sala de aula, chegou-se aos seguintes resultados: a) embora, todos considerem apreciadores de filme, destacando a importância do método em seu aprendizado, poucos alunos lembravam dos teores fílmicos vistos; b) quanto ao aprofundamento do conhecimento formal, para a grande maioria, os filmes serviram apenas como ilustração do conhecimento visto em aula, não sendo capazes de produzirem conhecimentos para além do que foi transmitido nas cenas; c) em relação aos filmes históricos, os alunos com melhor nota de boletim tiveram mais facilidade em relembrar os conteúdos fílmicos; d) como atividades, os estudantes mencionaram a confecção de resenhas, perguntas e respostas e peças teatrais; e) não foram feitas discussões prévias sobre as produções vistas, o que reforçou o uso do filme como meio de ilustrar os conhecimentos propostos pelo professor. Ao se fazer a leitura de trabalhos que tratam da relação entre o método audiovisual e a sala de aula, verificou-se a existência de pesquisas que abordam, de diferentes perspectivas, a necessidade do uso do filme de modo crítico e reflexivo. No entanto, embora todos pareçam concordar que o cinema constitui-se num importante recurso didático, eles enfatizam para a necessidade de se destrinchar os filmes, destacando os elementos que compõem as produções cinematográficas, o contexto em que a película fora criada, os conceitos teóricos, de modo a oferecer o esclarecimento acerca da sociedade. Ao ouvir os alunos, observou-se que as práticas adotadas por seus professores, tiveram como principal objetivo ilustrar os conteúdos vistos em aula, sem a discussão prévia dos elementos destacados anteriormente pelos autores. Nesses casos, percebeu-se que os alunos tomaram as cenas como reais, assimilando-as sem a devida reflexão e a crítica. Adorno (1995) chama a atenção para o fato de que o experimentado medianamente constitui-se num obstáculo para a construção do conhecimento. Ao verificar a assimilação dos conteúdos fílmicos de modo acrítico, percebe-se que esta pode constituir-se num desserviço ao aprendizado, pelo fato dos estudantes, ao incorporarem as cenas, correrem o risco de perder a capacidade imaginativa, não necessitando informações para além do que lhe foi ofertada. Outro aspecto percebido na pesquisa refere-se ao fato de uma parcela significativa da amostra não eleger os filmes como a principal forma de entretenimento. Alguns destacaram que não possuem a paciência em assisti-los. Em sala de aula, observou-se que a situação se agrava, uma vez que foram poucos os alunos que se lembravam dos filmes assistidos na escola. Verificou-se assim que, se por um lado, eles elegeram o cinema como importante ferramenta no incremento das aulas, por outro lado, ao se fazer uso dela, percebeu-se que os resultados não foram tão efetivos. Em contrapartida, observou-se que recursos como a internet e os celulares constituem-se em importantes formas de lazer. Nessa medida, percebe-se que para os alunos, a tecnologia constitui-se no elemento central desde que haja uma interação e não, uma atitude mais passiva que o filme requer do telespectador. Isso se reflete quando se verificou que uma parcela significativa do grupo pesquisado não se lembrava de nenhum título fílmico. Assim sendo, entende-se que, apesar do filme despertar sentimentos, este parece não contribuir efetivamente para a construção de suas subjetividades. E, quando o faz, possui como fins únicos a adaptação dos alunos alienados à sociedade atual.
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