Teatro de Arena uma estética de resistência
Por: sidlemes • 23/7/2015 • Trabalho acadêmico • 1.497 Palavras (6 Páginas) • 249 Visualizações
ALMADA, Izaías. Teatro de Arena: Uma estética de resistência. São Paulo, 1ªed. Boitempo Editorial, 2004.
Em fevereiro de 1955, inauguramos o Teatrinho de Arena: 144 lugares, um palco de pouco mais de 3 x 4 metros. Des refletores de 500 Watts... Mas, nosso sonho não tinha tamanho. (p 12).
Cada povo apresenta, na constituição genuína de sua formação cultural, ingredientes que, em maior ou menor medida, contribuem para a reconstrução de sua história. (p 18)
Podemos então destacar, no aspecto cultural, dois importantes momentos da nossa história cultural: a Semana de Arte moderna, de 1922, e aquela que já se pode designar, com alguma propriedade, como a Revolução Cultural dos anos 60. Qualquer desses dois momentos está cheio de vigor criativo, de inconformismo estético e ideológico. E ambos refletem, sem dúvida nenhuma, no âmbito nacional, a inquietação política e social que não só marcou cada uma das décadas em que se inseriram, mas também foi capaz de apontar um panorama abrangente do pensamento e da realidade da nação naqueles momentos. (p 18-19)
O Teatro de Arena de São Paulo elabora a outra tendência, a do teatro revolucionário, cujo desenvolvimento é feito por etapas que não se cristalizam nunca, através de uma coordenação artística e de uma necessidade social... (p 21)
(...) o Teatro de Arena – por suas características de grupo fechado e de companhia estável e ideologicamente revolucionária nas atividades que desenvolveu, sobretudo, na escolha de um repertório voltado para as discussões da realidade do país e por jamais esconder, muito particularmente a partir dos anos 1950 e início de 1960, sua opção por uma estética de esquerda, marxista. (p 22)
E, por ter escolhido esse caminho, era natural que desaparecesse durante o período da ditadura civil – militar que governou o país de 964 a 1984. (p 23)
O Teatro de Arena, por sua vez, foi imaginado no início como uma nova forma de espetáculo, uma forma mais econômica de fazer teatro, e depois se transformou num grupo de esquerda... (p 32)[1]
O Boal vinha influenciado por um teatro mais psicológico (...) Depois é que se tornou um homem de esquerda. Portanto, a influência de esquerda, marxista, vinha dos dois mais jovens, Vianinha e Guarnieri. Boal e José Renato eram um pouquinho mais velhos. (p 38)[2]
Eu saí do teatro uma outra pessoa. Foi uma experiência inesquecível para mim. Percebi como o teatro tem o poder de transformar as pessoas: se me transformou, transformaria também as outras pessoas. (p 39) [3]
Eu procurava fazer uma página feminina diferente (...) comecei a dar destaque à cultura dentro de uma página feminina. Naquele tempo, como você sabe, página feminina era sinônimo de culinária, crochê, costura, puericultura. Eu, então, comecei a entrevistar principalmente gente de teatro. (p 40-41) [4]
O Arena foi a valorização das peças de conteúdo social, dos autores nacionais, uma transformação... E é assim mesmo, coisas têm que mudar. (p 44) [5]
Ele (Boal) ia trabalhar com Oduvaldo Vianna Filho (o Vianinha), Paulo Ponte, Ferreira Gullar e Armando Costa na organização do Show Opinião, que, naquele final de ano, se tornaria um dos maiores sucessos do teatro brasileiro, reunindo à sua volta pessoas dispostas a contestar o golpe militar no plano das ideias. (p 47) (grifo nosso)
O braço estendido para o alto, colocada entre Zé Kéti e João do Vale, a figura de Nara (Leão) celebrou-se nos cartazes do show, tornando-se um ícone, naqueles tempos de uma resistência doce, frágil, porém sincera: “Podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião...” (p 49) (grifo nosso)
Logo em seguida eu (Izaías Almada) me preparei para entrar no curso de Ciências Sociais da USP, na rua Maria Antonia e, em contatos políticos com estudantes e professores dentro da universidade, passei a integrar o Polop, uma das dissidências do Partido Comunista Brasileiro. (p 49) (grifos nosso)
Para alguns de nós, o teatro e a política eram duas faces de uma mesma moeda... (p 50)
Não, nem todas as pessoas eram engajadas politicamente. Eu comecei em teatro no TPE, Teatro Paulista de Estudantes, que foi um teatro que se formou quase como uma tarefa política... Nós todos erámos da Juventude Comunista. Nós todos que eu digo eram, eu, o Guarnieri, o Vianna. (p 61)[6]
Acho que isso se ligava muito ao fato de que, naqueles anos, pré – 1964, havia uma ânsia muito grande de participação na vida do país de um modo geral... Você sabe que era uma época em que expressões como reforma agrária, reforma urbana, enfim, eram palavras de ordem. Não sei se é possível chama-las de revolucionárias, mas eram palavras de ordem progressistas, de reivindicação de mudanças no país, eram nacionalistas, esses dizeres eram uma coisa corrente, eram naturais, normais naquela época. (p 63) [7]
Na verdade, o que entrou para a história foi o resultado de um trabalho iniciado com o Zé Renato, com a fusão com o TPE, com o Seminário, com o método trazido pelo Boal. Juntando tudo isso... (p 69) [8]
(falando sobre o Teatro de Arena e o Oficina) Semelhanças: éramos todos inteligentes, honestos, sinceros e fizemos todo um trabalho, individual e coletivamente, extraordinário; diferenças: o estilo é o homem, já dizia o poeta. (p 70)[9] (grifos nosso)
Eles não usam Black Tie, do Guarnieri, foi um divisor de águas. A peça marcou um salto de qualidade no teatro brasileiro, que evoluiu para um teatro realista, realmente brasileiro, que tratava de problemas sociais e políticos de uma maneira interpretativa, ou seja, com o trabalho dos autores voltado para a essência do homem brasileiro. (p 84)[10]
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