A Cidade Antiga, De Fustel De Coulanges
Pesquisas Acadêmicas: A Cidade Antiga, De Fustel De Coulanges. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 153315 • 17/3/2015 • 3.811 Palavras (16 Páginas) • 510 Visualizações
A Cidade Antiga, de Fustel de CoulangesConsiderado o fundador da moderna historiografia de seu país, o francês Fustel de Coulanges publicou A cidade antiga em 1864, com enorme impacto nos meios intelectuais. Várias traduções e reedições depois, o livro foi considerado um clássico e, mesmo muito tempo após a morte do autor, em 1889, permanece, como está escrito no prefácio, uma obra "muito conhecida e famosa, ainda que pouco lida, um elemento do patrimônio literário da França".
Fustel de Coulages nos relata como se formaram as cidades dos primórdios de nossa Antiguidade Clássica, com base na formação social e religiosa da família. O pai, líder máximo de cada família, juiz, sacerdote e na sua pós-morte, elevado a condição de um Deus dentro do Panteão doméstico de cada família, tinha ainda em vida, a obrigação sagrada de delimitar sua terra, o seu lugar por direito sagrado, através de um arado puxado por animais e por todo um rito religioso onde a família ali participava. Consagrando-se o lugar e pedindo a benção aos seus deuses domésticos, se erguiam as cercas e muros, os limites sagrados do seu solo, futuro lugar de seu descanso eterno. O lugar de criar sua família, seus animais, de plantar e colher seus frutos, de assar seu pão e de enterrar seus mortos.
A obra é um tratado sobre a civilização greco-romana. É citado a forma como o sagrado na cidade grega consubstanciava a noção de limites entre as casas, entre uma moradia e outra era observado uma certa distância.
No livro, o autor estudou também a Índia e citou outras sociedades antigas, como a Chinesa e os índios norte-americanos, descobrindo que o primeiro vínculo social existente foi o religioso, o culto aos mortos. As gerações mais antigas encaravam a morte não como uma dissolução do ser, mas como simples mudança de vida.
Do culto aos antepassados, viriam os deuses da natureza e, mais tarde, o Deus único do cristianismo, extendendo cada vez mais os vínculos sociais. A religião faz com que a família forme um corpo, nesta vida e na outra. O fim do vínculo religioso como necessidade da formação de uma sociedade gerou as revoluções e as lutas de classes, segundo o autor, e o novo alicerce para as pessoas se unirem passou a ser o corpo de leis e instituições, com os direitos e garantias que proporcionam aos cidadãos. Como é assim, até hoje, na maioria das sociedades.
Religião, política, costumes, instituições - o erudito historiador Fustel de Coulanges realiza um estudo exaustivo da formação da cultura e Estado clássicos, seu desenvolvimento, dinâmica, características e transformação ao longo do tempo que perdurou a civilização greco-romana. A obra descreve e analisa seu florescimento, ascensão e queda.
Breve resumo dos livros Primeiro e Segundo. Em a Cidade Antiga, Fustel de Coulanges defende a tese que todo o traço de civilidade da sociedade ocidental provê, origináriamente, da religião, em especifico no culto aos antepassados.
Em torno da crença de que a alma dos entes falecidos permanecia junto aos seus corpos, necessitando de cuidados solenes para que não padecessem de fome, o homem antigo cria uma série de ritos que buscavam preservar a amizade de tais espíritos junto a si. Incapazes de buscarem seu próprio “sustento”, os mortos incumbiam aqueles mais próximos a si, ou seja o primogênito varão, de mitigar-lhes a sede e a fome, derramando sobre o tumulo de seus pais o vinho e oferecendo-lhes o holocausto cerimonial.
Esta religião primeva tem suas necessidades básicas, seus ritos. Quem poderia manter aceso o fogo sagrado, receptáculo de todo o sacrifício a esses deuses subterrâneos? Como evitar que os espíritos, famintos por aquilo que lhes seria de direito, revoltem-se contra seus descendentes e passem a atormentar-lhes a existência? Dessas necessidades acaba por surgir a necessidade da formação da célula-base da sociedade: a Família.
Diferente do que o senso comum prega, essa família não estaria ligada entre si apenas pelo laço sanguíneo, mais sim pelos laços religiosos.
A CIDADE ANTIGA
Principais idéias do livro:A primeira instituição estabelecida pela religião doméstica foi, de fato, o casamento. A partir do casamento a mulher nada mais tem em comum com a religião doméstica dos pais pois sacrifica aos manes (deuses) do marido. A religião doméstica ensinou ao homem que a união conjugal é bem mais que a relação de sexos ou o afeto passageiro, unindo os foi esposos (conjuges) pelo poderoso laço do mesmo culto e das mesmas crenças. Há três coissas que desde os tempos mais antigos se encontram conexas e firmemente estabelecidas nas sociedades grega e italiana: a religião doméstica, a família e o direito de propriedade. A idéia de propriedade privada estava implícita na própria religião. Cada família tinha o seu lar e os seus antepassados. Esses deuses (anetepassados) podiam ser adorados pela família e só a ela protegiam, eles eram sua propriedade. O deus da família quer ter morada fixa, só era permitido seu transporte quando ao homem for castigado por dura necessidade, quando expulso por inimigo ou se a terra não pode mais alimentá-lo. O deus que ali se instala reside pelo tempo que essa família existir e dela restar alguém que conserve a chama do sacrifício. Assim o lar toma posse da terra; apossa-se dessa porção de terra que fica sendo assim sua propriedade. Colocar o termo na terra equivale, digamos, a implantar a religião doméstica no solo, para indicar que este chão se tornava, para todo e sempre, propriedade da família. A terra pertence aos mortos da família e aos que nela ainda vão nascer. Desligar uma da outra é alterar o culto e ofender a religião. O direito de propriedade é inviolável e superior a qualquer outro direito. As instituições políticas da cidade nasceram com a própria cidade e no próprio dia em que esta nasceu; cada membro da cidade as trazia consigo, vivendo em germe (estado rudimentar, embrião) nas crenças e na religião de cada homem. A religião se envolvia no governo, na justiça e na guerra resultando necessariamente que o sacerdote fosse ao mesmo tempo, magistrado, juiz e chefe militar. Os reis têm três atribuições: fazem os sacrifícios, comandam na guerra e ministram a justiça. Não se chamava rei ao bom príncipe e tirano ao mau. Era principalmente a religião que os distinguia um do outro. os reis primitivos tinham cumprido as funções de sacerdote e recebido do lar a sua autoridade. Os tiranos de época posterior foram somente chefes políticos, só devendo a sua autoridade á força ou a eleição. A lei surgiu naturalmente como parte da religião. As leis foram instituidas ao mesmo tempo que foi instituída a religião.
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