A Cidade Antiga (COULANGES Fustel)
Por: JeFh (͡ʘ ͜ʖ ͡ʘ) • 2/12/2015 • Resenha • 1.767 Palavras (8 Páginas) • 509 Visualizações
COULANGES Fustel A cidade antiga: estudos sobre o culto as instituições da Grécia e da Roma (Trad. Camargo Leite) São Paulo. HEMUS. 1975 p. 33-91
Jeferson Carlos Guedes de Almeida
Nota-se que Fustel Coulanges (1830-1889) inicia sua obra alegando tamanha importância da religião no âmbito familiar. Sob um ritual diário, cada família se reunia em volta de um fogo para se realizar as orações diárias, este fogo devia ser mantido sempre aceso, caso contrário, a casa poderia ser amaldiçoada, segundo uma antiga crença. Além disto, outro ritual praticado era a reunião dos membros da família em torno de túmulo para suplicar aos deuses por proteção. Por não haver cemitérios os deuses eram enterrados fora da casa, cada família tinha o seu Deus.
A religião era o principal elemento constitutivo da família antiga, cada uma não se constituía por conta do afeto ou nascimento, mas se fundamentava no poder do pai como sacerdote do lar. A família era um grupo de pessoas que a religião permitia compartilhar os mesmos deuses.
Para Fustel, a primeira instituição estabelecida pela religião doméstica foi o casamento, já que praticamente era um novo nascimento. Quando a filha recebesse o pedido de casamento, deixaria de fazer parte por completo dos cultos do pai, para cultuar os deuses do marido, as mulheres não tinha os seus próprios deuses. Como também para os maridos, que se tratava de um ato muito sério, tendo em vista que, iriam introduzir uma estranha em sua casa, mostrando a ela os rituais, hinos e deuses que até então são individuais e por não haver comunidades entre deuses diferentes.
Desta forma, o autor cita como era realizada os casamentos naquela época, nos povos romanos e gregos. A única forma para a mulher casar-se com outro homem só poderia ser possível caso ela desligasse da religião cultuada pelo pai, e ingressar na religião do marido, já que para o homem a possibilidade de abandonar os seus antepassados a hipótese não existia. Posteriormente a mulher não adentrava sozinha até recinto da casa do esposo, onde o mesmo devia lhe carregar nos braços como se fosse um rapto, e em seguida, ela era colocada de frente ao fogo sagrado, para assim entrar em comunhão com os deuses domésticos do marido.
Depois de casada, a mulher passaria a pertencer aos deuses do esposo e perderia todos os antigos costumes, para se adaptar aos atuais. O casamento sagrado era de suma importância, representava um novo nascimento, de ora em diante a mulher se tornaria filha do marido, onde ela passa unicamente e exclusivamente a fazer parte da família e da religião do marido.
Fustel diz que aquela religião ensina ao homem que a união conjugal é muito mais do uma relação de sexos e afeições passageiras, pois unia os cônjuges pelo laço poderoso do mesmo culto e das mesmas crenças. Conforme o autor, o centro das preocupações domésticas era dar continuidade a descendência dos deuses, proibia o celibato e divorciava-se em caso de esterilidade além de manter a desigualdade entre filho e filha.
Para o autor a união matrimonial era indissolúvel, para que houvesse certa ruptura era necessária uma nova cerimônia religiosa, já que somente a religião poderia desunir tudo o que havia unido. Sendo assim os dois esposos ao decidir pela separação, se apresentavam pela última vez na presença de um sacerdote e testemunhas, no lugar das preces, pronunciavam fórmulas estranhas, severas e terríveis, que era uma espécie de maldição pela qual a mulher renunciava ao culto e aos Deuses do marido, a partir deste momento o casamento estava o laço religioso estava rompido. A partir do divórcio os filhos, sempre ficavam com o pai, assim como as filhas. A mulher nunca tinha os filhos sob seu poder, sendo que não lhe pediam nem o consentimento para o casamento da filha.
O autor diz que as leis cuidavam para que nenhuma família viesse a se extinguir, como da mesma forma se cuidava da continuidade do culto doméstico. Perante as leis, não há homem ao saber que deve morrer, cuide tão pouco de si a ponto de não deixar descendentes para prestar-lhe o culto devido aos mortos, desta forma cada um tinha enorme interesse em deixar um filho, convencido de que se tratava da sua futura felicidade. Servia como um dever aos antepassados, já que a felicidade durava apenas enquanto existia a família.
A religião que os formou exige imperiosamente a continuação da família, e caso se extinguem é um culto que morre. Na época as crenças familiares ainda não foram alteradas, cada uma possuía a sua religião e os deuses próprios, dizia-se, que a maior desgraça que piedade tem a temes é a extinção dos ancestrais. Pois a religião de cada desaparecia da terra, o lar seria extinto, e toda a série de mortos acabara esquecidos e abandonados a eterna miséria.
Nota-se que o autor menciona o celibato como uma impiedade grave porque o celibatário colocava em perigo a felicidade dos manes da sua família, já que caso não gerasse nenhum filho, todo o culto iria ao relento. Também se dizia ser uma desgraça porque ele próprio não iria receber nenhum culto após a morte e desconheceria o que alegra os manes, servindo para ele e aos antepassados como uma condenação. Perante Fustel, as crenças religiosas teriam bastado por muito tempo o intuito de impedir o celibato. Após as leis estabeleceram que o celibato fosse uma coisa má e digna de castigo.
Explica-se que o dever de perpetuar o culto doméstico foi à fonte de efetuar a adoção naquela época. A mesma religião que obrigava o homem a se casa, permitia divórcio em caso de esterilidade, substituía um cônjuge por um parente oferecia também a família um ultimo recurso para escapar da tão temida desgraça da extinção, que consistia no direito de adotar. A adoção velava pela seqüência da religião doméstica, pela continuação das ofertas fúnebres, pelo repouso dos manes dos antepassados. Como a adoção não tinha outra razão de ser além da necessidade de evitar a extinção do culto, seguia-se daí que não era permitida senão a quem não tinha filhos.
...