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Resumo: A cidade antiga - Fustel de Coulanges

Por:   •  30/10/2016  •  Trabalho acadêmico  •  4.300 Palavras (18 Páginas)  •  1.817 Visualizações

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A cidade antiga - Fustel de Coulanges

A CIDADE - Resumo

Capítulo I - A frataria e a cúria – a tribo

        Partimos de um período em que durante séculos, a única forma de sociedade foi a família. Cada família possuía seus deuses, e o homem se limitava a conceber e venerar divindades domésticas, pontos que marcam o distanciamento do ideal religioso da época em relação com o atual, provando que a sociedade humana e a visão religiosa iriam desenvolver-se simultaneamente.

        A religião doméstica proibia que as famílias se misturassem e se fundissem, porém era possível que famílias diversas se unissem para a celebração de um culto que lhes fossem comuns. A formação do grupo a partir da união de certo número de famílias, em grego, recebeu o nome de fratria e em latim de cúria, palavras consideradas sinônimas. Esse grupo possuía um chefe, chamado curião ou fratriarca.

        Toda fratria possuía seu altar e seu deus protetor, tendo como ato religioso o repasto feito em comum, com o alimento dividido entre todos os membros, sem que nenhum estranho participasse. Para fazer parte de uma fratria, requeria ser nascido de um casamento legítimo de dentro do grupo, pois a religião era transmitida exclusivamente pelo sangue – outro fator que evidencia a diferença do pensamento religioso da sociedade antiga em comparação com a nossa.

        A admissão na fratria vinha sob forma religiosa, cabendo ao grupo a decisão. Após a aceitação, o jovem tornava-se irrevogavelmente membro da associação a partir de um vínculo indissolúvel e uma união santa que só cessava com a morte.

        Na fratria havia um deus, um culto, um sacerdócio, uma justiça e um direito. Era uma pequena sociedade moldada exatamente sobre a família. Várias cúrias ou fratrias agruparam-se e formaram uma tribo, que também possuía um altar e uma divindade protetora da mesma natureza da fratria. O deus da tribo tratava-se de um homem divinizado, um herói. A tribo realizava assembleias e promulgava decretos a partir de seu tribunal e seu direito de justiça, aos quais todos membros deviam submeter-se. A tribo foi constituída para ser uma sociedade independente.

Capítulo II - Novas crenças religiosas

        Analisando as antigas crenças, anteriores à formação das cidades, voltamos nossas atenções às questões religiosas, as quais tinham como principal representante a religião caracterizada pelos ancestrais e pelo fogo doméstico, que tomava seus deuses na alma humana. O homem vinculava o atributo divino ao princípio invisível, àquilo que entrevia da alma, àquilo que sentia como sagrado em si.

         Devido às ramificações, outra religião surgiu, aquela do Olimpo helênico e do Capitólio romano. Esta, por sua vez, tomava seus deuses na natureza física, ou seja, atribuía a idéia de divino aos objetos exteriores, aos elementos da natureza, que contemplava, dependia, amava e temia. Atribuiu-lhes pensamento, vontade e escolha de ação, e como os sentia poderosos suplicava e venerava-lhes, fazendo deles deuses.

        Enquanto a religião dos ancestrais aos poucos tinha seus dogmas apagados, a religião da natureza física aumentava ininterruptamente sua autoridade sobre o homem. Ela possuía uma variedade enorme de deuses, pois um mesmo agente físico era percebido sob aspectos diferentes, recebendo desta maneira nomes diferentes. E apesar das semelhanças entre as divindades, os grupos não conseguiam reconhecer que estavam diante de um mesmo deus – fato que, de certa maneira, acontece hoje quando religiões veneram uma grande divindade, com suas particularidades, porém com nomenclatura diferente, por exemplo, entre islamismo e cristianismo.

        A partir do prestígio e de seu poder aparente, a divindade de uma família de grande prosperidade, atraía o desejo de toda cidade no sentido de adotá-la e lhe render um culto público para obter seus favores, o que prova que está religião sempre esteve em conformidade com o estado social dos homens. À medida que a religião foi se desenvolvendo, a sociedade cresceu, portanto é correto afirmar que a sociedade cresce com novas crenças.

Capítulo III - Forma-se a cidade

Assim como a família e a fratria, a tribo foi constituída para ser independente. Uma vez formada, nenhuma família poderia ser admitida na tribo. Assim como diversas fratrias se uniam em uma tribo, as tribos associavam-se, respeitando o culto de cada uma delas, para formar a cidade.

A sociedade humana não se desenvolveu no que diz respeito a essa raça como um círculo que se amplia aos poucos, mas de pequenos grupos já constituídos antecipadamente, que se agregaram uns aos outros. Diversas famílias formaram a fratria; diversas fratrias formaram a tribo e diversas tribos formaram a cidade. Família, fratria, tribo e cidade são, portanto, nascidas uma da outra, através de uma série de federações.

Na medida em que iam se formando, nenhum grupo perdia sua independência. Cada família mantinha seu culto, seu sacerdócio, seu direito de propriedade e sua justiça interna exatamente como em sua época de isolamento. Essa independência não causava dissolução das tribos, cada uma delas continuava a formar um corpo, como se a cidade não existisse. Em aspecto religioso, os pequenos cultos foram substituídos por um culto comum e, em aspecto político, os governos pequenos continuaram a funcionar, mas, acima deles, elevou-se um governo comum.

A cidade era uma confederação, não um conjunto de indivíduos, sendo obrigada a respeitar a independência religiosa e civil das tribos, não tendo o direito de intervir nos assuntos particulares dos pequenos grupos.

O homem fazia parte de quatro sociedades distintas, subindo de uma para a outra em épocas diferentes. A criança é admitida na família pela cerimônia religiosa que ocorre dez dias após seu nascimento. Anos depois, com uma nova cerimônia, entra na fratria. Com dezesseis ou dezoito anos, se apresenta para sua admissão na cidade, prometendo diante de um altar, a respeitar a religião da cidade, entre outras coisas e, a partir desse dia, torna-se um cidadão e está iniciado no culto público.

Observando crenças antigas, é visível que a sociedade se desenvolveu à medida que a religião se expandia, o que, simultâneo com o crescimento social, foi produzido dentro de um notável acordo. Os povos primitivos tinham grandes dificuldades em fundar sociedades regulares, pois o vínculo social não era fácil entre seres tão diversos, livres e inconstantes. Para lhes dar regras em comum, instituir o comando e fazer com que a obediência fosse acatada, para fazer a paixão ceder perante a razão, e a razão individual ceder perante a pública, era necessário mais do que a força material, interesses, teorias filosóficas e convenções. Algo que esteja em todos os corações: a crença.

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