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A Genealogia Numa Perspectiva Histórica

Por:   •  14/7/2022  •  Ensaio  •  1.486 Palavras (6 Páginas)  •  91 Visualizações

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Universidade de Brasília – UnB

Programa de Pós-graduação em História – PPGHIS

Disciplina: Tópico especial em ideias, historiografia e teoria 3

Discente: Rogerio Rodrigues do Nascimento, mat. 21/0018747

A genealogia numa perspectiva histórica: a contribuição de Michel Foucault.

Resumo

A história no estudo das genealogias é uma forma de compreender a organização social dos grupos, da sociedade que são objetos de estudo desde seus primórdios. Este ensaio pretende abordar a categoria “genealogia” numa perspectiva histórica a partir da contribuição de Michel Foucault em seu texto “A genealogia e a história”, no qual articula os estudos da genealogia com outros textos, numa ótica que avalia as formas de poder em seus mais diversos aspectos; em particular, o que , usualmente, foge ao senso comum. Assim, ele descortina os valores acadêmicos de fazer histórico valorizando aspectos pouco (ou não) considerados.

Palavras-chave: História, genealogia, poder, metodologia.

Introdução

“É preciso saber reconhecer os acontecimentos da história, seus abalos, suas surpresas, as vacilantes vitórias, as derrotas mal digeridas, que dão conta dos atavismos e das hereditariedades” (FOUCAULT, 1998:19).

A história contemporânea, ao tratar da genealogia como forma de desconstrução de um olhar – baseado no senso comum – que via nos estudos genealógicos apenas um retrato histórico das grandes dinastias ou mitos, vai ser influenciada pelo Pensamento de Nietzsche e Foucault. Com essa contribuição se relativiza e se ampliam as possibilidades dos estudos sobre passado e presente em famílias e grupos (em especial, os invisíveis e generalizados). Em nosso caso, o uso da genealogia como suporte histórico e jurídico às comunidades de remanescentes de quilombos, que buscam seu reconhecimento jurídico, é de fundamental importância para legitimar suas demandas políticas atuais.

Como objetivo de pesquisa busco legitimar um discurso autoral e não oficial das comunidades quilombolas que colocam sua trajetória histórica como contraponto a uma estrutura racista – sustentada por uma historiografia eurocentrada. Assim, as questões sociais envolvendo a população negra no Brasil são carentes de enfrentamento. Nota-se a falta de políticas públicas eficientes e eficazes pelo Estado, o que nos leva a considerar que essas características, se mostram atuais e oportunas para uma análise histórica mais criteriosa.

A Genealogia em Nietzsche

Se compreendemos essa história convencional como um recurso ideológico de uma moral com uma sustentação política de uma classe ou grupo sobre outra, percebemos a construção historiográfica como uma forma de dominação. Assim, é válida a proposição de Nietzsche que

recorre a uma história problematizadora para conseguir estabelecer o seu procedimento genealógico e assim fazer a crítica e a relativização do valor dos valores morais, porque, conforme ele afirma, até o momento, ainda não existe um conhecimento que tenha posto em discussão as condições e circunstâncias nas quais nasceram, se desenvolveram e se modificaram os valores morais (SOUSA e CHAGAS, 2017: 2).

Desta forma, ampliamos o olhar sobre as possibilidades da história, desconstruindo seu viés ideológico e manipulador e possibilitando sua apropriação por sociedades mais simples; favorecendo a escrita de novas histórias. Esse fato conduz a um novo olhar sobre o passado e o futuro de grupos e/ou sociedades que estavam à margem da historiografia oficial.

Para Nietzsche, o homem não é um ser perfeito e que já alcançou o seu apogeu. Pelo contrário, o homem é um ser histórico e que está continuamente em construção. Diante disso, para Nietzsche, o homem precisa criar o seu próprio sentido para dar à sua existência uma direção. Mas, para isso, ele deve mergulhar no passado e nele buscar exemplos que o ajudem na ampliação, renovação e aprofundamento de sua experiência humana (SOUSA e CHAGAS, 2017:11).

Nietzsche, assim pode ser visto como o criador de uma nova concepção de história, a do tipo genealógico e afirmador da vida. Assim, caminhamos em direção aos nossos objetivos, pois

Em nossa pesquisa as reivindicações dos quilombolas pela manutenção de suas identidades e pela titulação de seus territórios tradicionais são apontadas por Beatriz Nascimento (1985) ao propor uma mudança de centralidade das análises históricas, então eurocêntrica, para uma perspectiva quilombola de viés afrocentrado. Essa “inversão metodológica” possibilita ao campo historiográfico, novas percepções das realidades sociais, políticas, econômicas, culturais, territoriais e ambientais; relativas aos quilombos do passado e da contemporaneidade. (NASCIMENTO, 2021).

Assim, nos encaminhamos para Foucault que afirma sobre as histórias da humanidade que o verdadeiro sentido histórico reconhece que nós vivemos sem referências ou sem coordenadas originárias, em miríades de acontecimentos perdidos. (FOUCAULT, 1998:29).

A genealogia e a história em Foucault

Foucault nos provoca nos levando a uma profunda reflexão sobre o sentido e utilidade da história – em especial da genealogia – dos não tão nobres, sob o ponto de vista de uma história contada, escrita e oficializada a partir de um viés eurocentrista; colocando, assim, uma possibilidade maior do uso da genealogia na elaboração de uma história mais universal e, paradoxalmente, específica. Essa possibilidade, em muito, nos proporciona uma aproximação entre a história e os fins de nossa pesquisa quando nos leva a refletir que

O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de que tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que as tinha imposto; de quem, se introduzindo no aparelho complexo, o fizer funcionar de tal modo que os dominadores encontrar-se-ão dominados por suas próprias regras.  As diferentes emergências que se podem demarcar não são figuras sucessivas de uma mesma significação; são efeitos de substituição, reposição e deslocamento, conquistas disfarçadas, inversões sistemáticas (FOUCAULT, 1998:25-26).

Neste sentido, concordando com Beatriz Nascimento (1985), é preciso discutir e analisar a questão quilombola e de seus remanescentes, tendo como pano de fundo a organização do regime escravocrata como condutora, que legitima o ideário do colonizador eurocentrado. Realizando uma análise historiográfica que respeite as concepções sociais fundadas numa epistemologia que valoriza uma história bem anterior a escravidão, estabelecida na liberdade e organização próprias dos quilombos. Para Foucault

A genealogia exige, portanto, a minúcia do saber, muitos materiais acumulados, exige paciência. [...] A genealogia não se opõe à história como a visão altiva e profunda do filósofo ao olhar toupeira do cientista; ela se opõe, ao contrário, ao desdobramento meta-histórico das significações ideias e das indefinidas tecnologias. Ela se opõe à pesquisa de “origem” (FOUCAULT, 1998:15-16).

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