A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO MISSIONÁRIA NA CONQUISTA DOS SERTÕES DAS CAPITANIAS DO NORTE DO ESTADO DO BRASIL.
Por: Flávia de Sousa • 30/10/2019 • Artigo • 2.802 Palavras (12 Páginas) • 225 Visualizações
A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO MISSIONÁRIA NA CONQUISTA DOS
SERTÕES DAS CAPITANIAS DO NORTE DO ESTADO DO BRASIL.
Flávia Ribeiro de Sousa[1]
RESUMO: O processo de interiorização da colonização na América portuguesa se intensificou a partir do século XVII após a expulsão dos holandeses. Foi feito em grande parte pelos colonos das zonas açucareiras e esteve atrelado a necessidade de colonizar as sesmarias doadas aos colonos do litoral como prêmio pela participação no combate ao inimigo batavo. Nesse contexto, a resistência indígena tornou-se um obstáculo para a realização desse empreendimento. O objetivo desse artigo é discutir de que forma a atuação de missionários contribuiu para o sucesso desse projeto de conquista e colonização dos sertões.
Palavras-chave: conquistas; sertões; resistência indígena, missionários.
INTRODUÇÃO
Inicialmente a América portuguesa foi colonizada na zona litorânea, além dessa área, as terras que não estavam ocupadas por europeus eram denominadas como sertão “que compreendia o território no interior e também toda a área que não fosse ocupada pela cana-de-açúcar.” (SILVA, 2004, p. 2). A produção do açúcar constituía a principal fonte de lucro e influência. As primeiras investidas pelo sertão se deram através de iniciativas privadas, liderados por colonizadores cobiçosos em adquirir novos títulos e terras. Contudo, esses colonos encontraram diversas barreiras, a exemplo da resistência indígena, que dificultavam essas empreitadas, sendo necessário solicitar a participação da Coroa na conquista do interior. Havia “[…] a idéia de que somente com as investidas do governo real é que seria possível civilizar e colonizar a região.” (Ibidem, p. 6).
Os conflitos eram constantes envolvendo colonos e indígenas nos sertões das Capitanias do Norte. Nesse período, inúmeras ações de combate contra os povos indígenas foram organizadas e financiadas por grupos de sesmeiros que buscavam preservar suas posses e currais. A Casa da Torre dos Garcia d´Ávila, por exemplo, ampliou consideravelmente suas terras às custas de guerras contra os povos indígenas.
Após as guerras holandesas no Nordeste, houve um esforço em restaurar os engenhos arruinados, buscava-se formas para compensar as perdas econômicas. Uma das alternativas encontradas para suprir essas perdas foi estimular entradas ao sertão. O incentivo a economia da pecuária foi o maior vetor da interiorização, já afirmava o primeiro historiador a escrever sobre os sertões, Capistrano de Abreu:
O gado vacum dispensava a proximidade da praia, pois como as vítimas dos bandeirantes a si próprio transportava das maiores distâncias, e ainda com mais comodidade; dava-se bem nas regiões impróprias ao cultivo da cana, quer pela ingratidão do solo, quer pela pobreza das matas sem as quais as fornalhas não podiam laborar; pedia pessoal diminuto, sem traquejamento especial [...]. (1988, p. 71).
O processo de interiorização da colonização na América portuguesa se intensificou a partir do século XVII, sendo feito em grande parte pelos colonos das zonas açucareiras. Nesse período Olinda e Recife eram dois os principais núcleos urbanos da capitania de Pernambuco.
Em uma e outra pululavam pobres livres, além de escravos urbanos, pretos e pardos forros, senhores de engenho e grandes comerciantes, em uma dinâmica que alimentaria de braços as tropas portuguesas enviadas para o interior. (SILVA, 2010, p. 19).
O recrutamento para as tropas de conquista dos sertões era realizado sobre a população livre urbana. As escolhas ocorriam a partir de critérios de respeitabilidade, isentando indivíduos considerados prolíficos. De acordo com as dificuldades de ocupação dos contingentes regulares, poderiam ser alistados também artesãos e pequenos comerciantes que não apresentassem condições de estabilidade social. No entanto, participar da conquista do sertão constituía, também, uma possibilidade de ascensão social. O principal alvo a ser recrutado pela Coroa era os “vadios”.
[…] o vadio era o personagem à margem da sociedade, a Coroa procurou sempre inseri-lo em seus planos de colonização, tratando-o como parte de um repositório humano disponível. O Estado português, dessa forma, optou por integrar o elemento marginal e lhe dar uma função social, em vez de simplesmente excluí-lo. E essa integração foi feita pelo recrutamento para os quadros repressivos do império. (Ibidem, p. 66).
Mesmo sendo marcante a atuação militar dos paulistas, estes não são os únicos que merecem notoriedade no processo de conquista dos sertões, negros e índios foram fundamentais nessa conquista, a exemplo da tropa dos Henriques.
Os moradores das vilas açucareiras temiam o interior, por se julgarem “civilizados” consideram o sertão como um lugar de selvagens, ao mesmo tempo o tinham como um lugar de muitas riquezas, o que facilitou a vontade de explorar essa “região hostil”. “Mesmo durante a conquista deste interior e a construção de uma sociedade colonial própria, o sertão continuou sendo uma zona de fronteira, que separava o mundo dito ‘civilizado’ do mundo ‘bárbaro’.” (Ibidem, p. 6).
Antes de iniciarem as expedições de conquista dos sertões, era comum a fuga para essas áreas, sendo uma estratégia utilizada na América portuguesa por aqueles que se sentiam perseguidos pelas regras da sociedade colonial. Os fugitivos poderiam ser escravos, índios aldeados, os ditos “vadios”. Por ser um local afastado do poder da Coroa, era possível praticarem diversos procedimentos condenados pela igreja e pelo Estado.
A conquista do interior continental das capitanias do norte do Estado do Brasil revestiu-se, assim, de muitos significados: para a Coroa significou expansão territorial; para as elites coloniais, a criação de novas possibilidades de aquisição de terras e títulos; para a igreja, a abertura de novas fronteiras para a catequese; para os indígenas americanos, a perda do território e desagregação social. (Ibidem, p. 111).
OBSTRUÇÕES ENCONTRADAS NAS CONQUISTAS E A IMPORTÂNCIA DOS MISSIONÁRIOS PARA SOLUCIONÁ-LOS.
Durante o período de conquista e ocupação dos sertões “a Coroa foi chamada a intervir, em realidade, quando os particulares se depararam com um obstáculo intransponível para a instalação de suas fazendas de gado: a resistência indígena.” (Ibidem, p. 27). Esses colonizadores sabiam que era necessário “civilizar” o interior. Para isso, primeiramente deveriam doutrinar as tribos indígenas que persistiam em relutar contra a colonização.
[…] A expansão portuguesa sobre terras indígenas, em meio ao processo de conquista do sertão para colonização pastoril e a intensificação do povoamento mediante a doação de sesmarias concedidas aos soldados envolvidos na ‘Guerra da Restauração’ do domínio Holandês, resultou em reações violentas contra os colonizadores por parte dos índios da região. (MELLO, 2009, p. 165).
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