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A negritude na poética de Jorge de Lima - Artigo

Por:   •  24/4/2015  •  Projeto de pesquisa  •  2.176 Palavras (9 Páginas)  •  352 Visualizações

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or: TOBIAS MEDEIROS*

“O Brasil é o açúcar e o açúcar é o negro”

“ O Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África”

Padre Antonio Vieira

Esse jesuíta foi o pioneiro na literatura brasileira a escrever sobre o negro. Condenou a escravidão do africano ou nativo. O estilista barroco padre Vieira foi o precursor da libertação dos índios e pretos. No sermão feito no Maranhão, sobre o Rosário, defendeu o escravo.2

Outros escritores de nomeada retrataram o viver dos negros. O baiano Gregório de Matos cantou as mulatas que o introduziram nas artes do amor carnal. Poetas da Escola Mineira, muitos participantes do movimento Inconfidência Mineira, exaltaram os pretos. O autor de Caramuru, Santa Rita Durão, fez elogios ao herói Henrique Dias. O francês João Batista Debret pintou o escravo no cotidiano.

No início do século XIX, surgiram jornais que defendiam e acusavam o abolicionismo. Não podemos olvidar Antônio Gonçalves Dias com o poema a Escrava e Antônio de Castro Alves, cognominado o poeta dos escravos, que tão bem expressou o sofrimento dessas criaturas humanas oprimidas, verdadeiras máquinas que fizeram o Brasil doce. Jovem cujo grito ecoou no meio cultural espargindo em toda a sociedade que o País não desenvolveria havendo a escravidão.

Romancistas registraram costumes, perfis e a alma do negro. Aluízio de Azevedo tornou-se conhecido com o Mulato e Henrique Maximiano Coelho Netto, com o Rei Negro. Exemplifiquemos com a descrição desse último: “Macambira era um belo tipo de raça. Tinha anos sadios, alto, entroncado, ereto como uma coluna, tinha, no porte esbelto, desembaraçado, a elegância viril e airosa dum atleta.

A cor retinta luzia-lhe no rosto como verniz lustroso”.3

No romance foi um dos primeiros compatrícios a apresentar o negro como principal protagonista. Macambira é escravo mas descende de família real do continente africano. Era robusto. “Um belo tipo de raça”. Gozava de simpatia do seu senhor que o tinha para com ele um tratamento diferente causando inveja a outros escravos.

A temática a ser abordada é: A negritude na poética de Jorge de Lima. Em União dos Palmares, ele nasceu no dia 23 de abril de 1893. O autor do romance A Mulher Obscura, editado pela primeira vez com o título Cipó de Imbé e na segunda, Salomão e as Mulheres, contemplou a serra da Barriga, onde Zumbi reinou no maior e mais famoso quilombo do país.

Para se ter maior conhecimento de um escritor é mister conhecer sua infância. A paisagem natural e social exercem influência na sua produção literária. O maior poeta alagoano viu, sentiu e conviveu com negros libertos, há poucos anos antes de seu nascimento.

Com oito anos visitou a serra, chão de esperança da liberdade dos afros escravos.

Do alto desse refúgio, lugar sereno, seguro e de guerra, o garoto Jorge teve inspirações poéticas. Criou arquétipos para surgirem nos poemas que o imortalizaram.

Em fevereiro de 1928. publicou Essa Negra Fulô que o colocou entre os mais conhecidos vates nacionais. Tornou-se célebre a Fulô, jovem “nigra sed formosa”. A sensualidade da escrava conquistou até o seu senhor quando a viu despida. Também sobre o mesmo assunto, foi o poema Pai-João. Ambos historiam cenas de personagens pretos explorados em favor dos alvos ricos, que muito os maltrataram.

Outros patriotas, tanto em verso como em prosa, dissertaram sobre o negro. Mário de Andrade escreveu Poemas da negra. Raul Bopp, em 1928, já afirmara que o negro “adoçou a alma do Brasil”4. O alagoano Arthur Ramos estudou vários aspectos do africano no Brasil. É bastante conhecido de todos nós o Folclore Negro das Alagoas do médico Abelardo Duarte, expressão cultural de nosso meio, que foi membro da Academia Alagoana de Letras e secretário perpétuo do Instituo Histórico e Geográfico de Alagoas.

A negritude é constante na poética do autor de Tempo e Eternidade com que inicia a segunda fase de seu discurso chamada de transformação pelo respeitável crítico literário Gilberto Mendonça Teles.

O encanto de Essa Negra Fulô enalteceu o escritor que produziu ainda mais sobre os negros, que, mesmo libertos, eram maltratados pelos patrões. Publicou, em 1947, Poemas Negros. Coletânea de 37 poemas e 3 textos em prosa com 17 ilustrações de Lasar Segall, prefaciada por Gilberto Freyre. Tudo fala dessa gente menosprezada e estigmatizada pela cor da pele. Sobre esta produção literária, Jorge de Souza Araújo, escreveu: “Trata-se, ao nosso ver, do livro mais compacto, mais uniforme e completo tecnicamente da poesia modernista de Jorge de Lima”5.

Elegemos o último poema desse trabalho a fim de apreciá-lo, porque percebemos nele maior evidência da realidade do escravo, cujo processo de abolição findou-se em 13 de maio de 1888. Mas ficou o estigma, o ferro, a cicatriz.

O título: Olá! Negro desperta a atenção do leitor. O autor saúda o Negro. Usou a interjeição seguida de exclamação. É um apelo como querendo advertir ao Negro que ouça bem o que vai dizer. Vejamos o texto que dividimos em quatro partes.

Os traços fisionômicos são fortes características de uma família, de uma raça. O sêmen carrega a força do fogo marcador de seus ancestrais. Neto de mulatos e cafusos são frutos já dos cruzamentos do negro com o branco e com o índio. Enfatizando, o escritor expressa: “e a quarta e quinta gerações de teu sangue sofredor tentarão apagar a tua cor!” A cor, então, é o mais evidente estigma e de caráter universal. O negro continua tentando inserir-se no contexto social. Mesmo assim, apesar de tanto sacrifício de gerações contínuas a “tatuagem execranda” está nítida, viva no africano. Sim, mas antes de tudo, na alma, jazida dos valores espirituais e culturais.

A interação das três raças produziu o brasileiro cujo sangue é miscigenado. E o silêncio do negro falou mais alto. Jorge de Lima evoca os arquétipos individuais que se transformaram em coletivos na literatura brasileira:

Pai-João – Idoso negro acabado no labor para enriquecer o branco. Estava na última lona. O poeta narra os feitos dele e de sua filha cujos peitos secaram amamentando os filhos do Ioiô. O texto do livro Poemas descreve o acabado escravo no final da existência. Os recursos lingüísticos: metáfora, comparação e motomínia embelezam a composição.

Jorge

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