ESCREVER UMA HISTÓRIA DAS MULHERES
Por: Manolox • 24/5/2022 • Trabalho acadêmico • 1.576 Palavras (7 Páginas) • 151 Visualizações
[pic 1] UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
CAMPUS IV – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO: LICENCIATURA EM HISTÓRIA SEMESTRE: 2022.1
COMPONENTE: HISTORIOGRAFIA
DOCENTE: Elisangela Oliveira Ferreira DATA: 13.05.2022
DISCENTE: Alisson Dourado Paiva Matos
Fichamento
“ESCREVER UMA HISTÓRIA DAS MULHERES: relato de uma experiência” Michelle Perrot
Logo no início do relato, a autora deixa claro o objetivo e também o desafio do estudo em questão, que é: discutir a construção de uma historicidade feminina, “partindo da concepção de que as mulheres têm uma história e não são apenas destinadas a reprodução” (Pg. 9), a autora salienta o quão novo é esse tipo de estudo, já que as mulheres foram historicamente resumidas a figura da beleza, da virtude ou do escândalo, nunca da excepcionalidade (Pg. 13).
Se valendo de uma obra da qual fez parte, chamada “Histoire des Femmes en Occident”, a autora vai esmiuçando em 3 tópicos principais (Situações; Gêneses e Problemas), as elucidações acerca de duas perguntas centrais a que submete o material, sendo as perguntas: “o que ela (a pesquisa) significa no estrito campo das pesquisas históricas e no campo mais amplo das ciências humanas? O que ela significa no que concerne ao feminismo e às relações entre os sexos na sociedade francesa?” (Pg. 9). Depois de firmar as questões e objetivos a autora parte para a primeira etapa (Situações) contextualizando do tema.
- Situações
Na contextualização, a autora começa falando sobre suas raízes acadêmicas e cita as influencias de sua geração, com o objetivo de dar o tom de seus escritos e em que tradição historiográfica sua perspectiva se funda, a autora salienta o movimento operário e a longa duração camponesa como horizontes dessa geração, dando a entender, que se trata de uma historiografia que busca debruçar-se sobre os acontecimentos do âmbito social, sendo Perrot historiadora nativa de tal campo, ela busca nesse conteúdo um recorte de gênero, trazendo a luz um sujeito que foi historicamente invisibilizado, o sujeito Mulher.
Partindo para a construção da obra basilar que ela usa no relato, a autora conta como foi a empreitada de produção e publicação da obra “Histoire des Femmes en Occident”, falando sobre os participantes e certas minucias do processo de construção. Particularmente achei muito interessante e instigante, ver os nomes dos participantes e alguns detalhes de como se deu a escrita.
- Gêneses
Em Gêneses, a autora já começa questionando o fato de a diferença entre os sexos, como “um dado fundamental das ciências humanas” (Pg. 13) ser algo recente não só na França, mas em outros lugares, e o questionamento se dá pensando no porquê do silencio do historiador perante esse fato, dando origem a um subtópico “o silencio do historiador”.
- O silencio do Historiador
“Até o século XIX, faz-se pouca questão das mulheres no relato histórico, o qual, na verdade, ainda está pouco constituído. As que aparecem no relato dos cronistas são quase sempre excepcionais por sua beleza, virtude, heroísmo ou, pelo contrário, por suas intervenções tenebrosas e nocivas, suas vidas escandalosas. A noção de excepcionalidade indica que o estatuto vigente das mulheres é o do silêncio que consente com a ordem.” (Pg.13).
Aqui, Perrot vai trazer à tona, a ausência da mulher enquanto sujeito nos relatos históricos até o século XIX, junto a isso, o próprio relato histórico é exposto como ainda recente, tendo suas práticas metodológicas, regras de enunciação e saberes mais sistematizados apenas a partir do século XIX. Como exemplo de autor renomado que dá alguma importância ao tema, Perrot cita Michelet, dizendo que ao menos ele levou a sério a questão das diferenças dos sexos, mas no mesmo parágrafo em que chama Michelet de brilhante, a autora o critica em um ponto de perpetuação da mentalidade machista de sua época.
A forma com que Michelet fala sobre as mulheres é exposta pela autora, para que fique claro o motivo de ela tê-lo citado, o autor coloca as mulheres dividas em dois polos, um lado é a generosidade e a ternura feminina e no outro a histeria, até certa sandice relacionada a loucura e ao sangue. A autora concorda com o primeiro polo e expõe a problemática do segundo.
O argumento da autora para crivar a crítica aos historiadores, parte do ponto em que a visão positivista da história era a vigente, já que o estudo era feito a partir de documentos políticos, a história era feita do âmbito político, âmbito que a mulher não compunha, sendo assim, é feita uma história dos homens. Os âmbitos em que as mulheres eram protagonistas (social e privado) foram colocados em segundo plano pelas “crônicas do poder”.
“Nos anos 30, a chamada Escola dos Annales opera uma nova ruptura. Porém, o que interessa primordialmente a Marc Bloch e Lucien Febvre, e mais ainda a Ernest Labrousse e Fernand Braudel, seus sucessores, são os planos econômico e social. A partir dos anos 70, a Nouvelle Histoire, como se costuma designar a terceira geração, se mostrará mais receptiva quanto à presença da dimensão sexuada no interior da evolução histórico-temporal, ainda que espontaneamente não demonstre tal interesse.” (Pg. 15)
Nesse ponto, a menção a escola dos Annales, vem pra dar continuidade ao processo de construção duma nova historiografia da época, que mostra uma abertura e disposição a ver outras formas de se fazer história, porém, ainda é tímido o avanço da temática no campo.
A autora menciona o marxismo e o campo das ciências sociais, mas de forma que ficou claro a ausência de posturas para a aprofundamento do tema, nesse contexto a matéria de história se manteve masculina, delegando as mulheres as literaturas e linguagens, dificultando o acesso ao campo historiográfico.
- Fatores de transformação
Aqui a autora traz os pontos de mudança no quadro exposto anteriormente, sendo o primeiro ponto a postura de outras disciplinas mais sensíveis ao tema da diferença dos sexos, a sociologia e a antropologia. Cintando autores e autoras, é feito um longo e detalhado panorama de onde que a sociologia e a antropologia ajudaram a construção de óticas novas para o tema em questão.
...