FICHA DE RECOLHA DE INFORMAÇÕES
Por: BandaDesenhada • 29/5/2018 • Trabalho acadêmico • 1.138 Palavras (5 Páginas) • 146 Visualizações
FICHA DE RECOLHA DE INFORMAÇÕES
NOME DO ENTREVISTADO: Manuel Ribeiro Lopes
ENTREVISTA REALIZADA POR: Beatriz Pratas Bártolo da Cunha Dias
LOCAL: Casa do entrevistado (Castelejo/São João de Areias)
DATA: 04/04/2018 DURAÇÃO: 45 minutos
TIPOS DE REGISTO OU GRAVAÇÃO:
□ ÁUDIO □ VÍDEO ■ CADERNO DE CAMPO
TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA:
□ TOTAL ■ PARCIAL
ASSUNTO:
□ Repressão salazarista □ Revolução do 25 de Abril ■ Guerra Colonial
□ Revolução Estudantil □ Emigração □ Outro
SINOPSE DA ENTREVISTA
Quarenta e quatro anos depois de ter participado na Guerra do Ultramar, o Ex combatente Manuel Ribeiro Lopes relembra alguns momento e conta-nos como foi para um rapaz de 22 anos deixar a terra natal, os pais, a mulher e a filha de 1 ano, para ir para o continente Africano. Fala-nos como foi estar numa terra distante contra a sua vontade, obrigado a matar aqueles que só queriam a liberdade. Ainda perturbado pelas memórias, o entrevistado revela-se orgulhoso por ter ficado conhecido como ‘’o amigo Português’’.
TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA:
Entrevistadora- Sei que participou na Guerra do Ultramar. Para que zona de África é que foi?
Entrevistado- Fui para a Guiné-Bissau.
Entrevistadora- Em que ano é que foi?
Entrevistado- Fui em novembro 1972.
Entrevistadora- Teve algum tipo de preparação?
Entrevistado- Tive sim, em Lisboa e em Viseu. Nós, os soldados, tínhamos aulas para saber como utilizar o armamento.
Entrevistadora- E apoio psicológico, teve?
Entrevistado- Sim, mas só antes da guerra. Tínhamos sessões em que ensinavam a odiar o ''negro'', diziam-nos coisas cruéis para não nos sentirmos mal por estar a acabar com a vida deles. Diziam também que era para bem do país, porque eles não tinham o direito de ter a independência. Quando voltámos, nem eu nem os soldados que foram comigo para a Guiné recebemos algum tipo de apoio. Fomos esquecidos!
Entrevistadora- Como foi a sua despedida?
Entrevistado- Eu não me despedi. Os meus pais já sabiam que eu ia para a guerra mas não sabiam quando iria partir, e como nunca fui uma pessoa muito dada a despedidas, não me despedi. Parti sem lhes dizer nada.
Entrevistadora- Alguma vez lhe passou pela cabeça desistir?
Entrevistado- Sim, várias vezes. Eram poucas as vezes em que eu não pensava nisso. Tinha deixado os meus pais, a minha mulher e a minha filha para ir para uma guerra descabida, que só aconteceu por uma questão de superioridade. Sempre que ouvia um tiro pensava que ia morrer e que nunca mais iria regressar a Portugal.
Entrevistadora- A guerra de alguma maneira mudou a forma como vê o mundo/vida?
Entrevistado- Com certeza. A guerra só me fez ter a certeza de que o ser humano é horrível e capaz de fazer coisas desprezíveis. Dizimar uma raça só porque queriam a liberdade.
Entrevistadora- Levou algum tiro?
Entrevistado- Não. Não levei nenhum tiro, nem disparei uma única vez a arma que possuía. Por acaso no meio de tanto azar tive sorte porque a guerra na Guiné era mais ''calma''. Também eu era o 1º cabo e tinha a meu cargo o armazém de bens alimentares por isso eu fazia parte da ''plateia'', nunca entrei mesmo a sério no confronto. Ainda bem.
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