Fichamento - Identidade e a miragem da etnicidade: a jornada de Mahommah Gardo Baquaqua para as Américas
Por: leonardoneos • 28/5/2018 • Resenha • 579 Palavras (3 Páginas) • 698 Visualizações
Universidade: Pontifícia Universidade Católica (PUC) – Campus 1 – Campinas – São Paulo
Curso: História (Licenciatura) - História da África Pré-Colonial
Relatório de Leitura
Bibliografia: LOVEJOY, Paul E. - Identidade e a miragem da etnicidade: a jornada de Mahommah Gardo Baquaqua para as Américas - Afro-Ásia, 27 (2002), 9-39.
O conceito de etnicidade dos povos africanos envolvidos no tráfico transatlântico tem se tornado ponto de debate intenso nas últimas décadas, tendo em Lovejoy um de seus maiores nomes. O autor, na obra em questão, baseia-se na ideia de que novas abordagens do problemático conceito de etnicidade podem ser fundamentais para os estudos sobre escravidão – apresenta a ideia de “miragem” da etnicidade. Para defender tal argumento, Lovejoy se utiliza do relato de um escravo africano que passou pelo que o autor chama de “odisseia incomum”, responsável por transformar seus conceitos de etnicidade e, sobretudo, de identidade: Mahommah G. Baquaqua.
Baquaqua nasceu em Djougou (atual Benim), entre 1820 e 1830. Tinha família, frequentou a escola, trabalhava. No entanto, nada disso impediu que o mesmo acabasse preso por traficantes de escravos – teve problemas com bebida ao longo da juventude - e enviado ao Porto de Uidá, o mais importante da África Ocidental, localizado no Reino de Daomé. De lá, partiu para o Brasil, onde desembarcou em Pernambuco (onde aprendeu o idioma português), em 1845 – época em que o comércio de escravos já era proibido por lei. Posteriormente foi vendido para um capitão de um navio mercante do Rio de Janeiro, que o incorporou á tripulação. Em uma viagem á Nova Iorque, Baquaqua consegue fugir de suas “correntes” e ruma para sua liberdade.
O ex-escravo se desloca para o Haiti (ponto notório da luta abolicionista por parte dos próprios escravizados) e por lá fica por dois anos. Porém, a instabilidade política acaba obrigando-o a retornar para Nova Iorque, onde estuda no New York Central College. Sua biografia seria publicada em 1854, por Samuel D. Moore. Acaba se mudando para Liverpool, Inglaterra, onde recorre à Sociedade da Missão Livre Batista Americana para ser enviado como missionário à África. No entanto, não se sabe seu paradeiro final.
Lovejoy se utiliza de tal relato para construir seu conceito de miragem da etnicidade, ou seja, a etnicidade seria definida pelas relações que o sujeito estabelece com o meio e seus companheiros, não o simples local de origem. Exemplo deste argumento seria o próprio Baquaqua, que conseguiu sobreviver no mundo da escravidão, educou-se e lutou por liberdade. Outro ponto de debate para o autor é o conceito de identidade, que, segundo ele, também se transforma com o tempo e as relações entre os indivíduos.
Porém, vale ressaltar uma crítica quanto ao autor. Lovejoy acredita que o conceito de liberdade sempre foi o mesmo para Baquaqua, ou seja, desde os momentos anteriores á captura na África até sua viagem para a Europa, sua noção de liberdade não se altera. No entanto, tal abordagem mostra-se duvidosa, afinal, Baquaqua, antes de sua captura, não deveria ver o conceito de liberdade com os mesmos olhos com que veria durante seus momentos de escravidão. Na verdade, um retorno ao continente e sua terra natal seria mais apropriado como noção de liberdade para o mesmo.
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