Fichamento Patrícia Seed, Cerimônia de Posses
Por: Tamilles Esposito • 26/9/2018 • Trabalho acadêmico • 3.842 Palavras (16 Páginas) • 421 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
HISTÓRIA
TAMILLES FIUZA LIMA ESPOSITO
CERIMÔNIA DE POSSE
O REQUERIMENTO E RITUAIS DE CONQUISTAS
NOVA IGUAÇU, 2018
Fichamento
Tema: O Requerimento um protocolo para conquista (pp. 101-131). Terceiro Capítulo. Referência: SEED, Patrícia. Cerimônias de posse na conquista europeia do Novo Mundo. São Paulo: Editora Unesp, 1999.
Citações
O REQUIRIMENTO (REQUIRIMIENTO)
“Em nome de Sua Majestade, ... eu... seu servidor, mensageiro... notifico e faço saber da melhor forma possível que Deus nosso Senhor único e eterno [...] confiou [todos os povos] a um único homem chamado São Pedro, de modo que ele era o senhor, superior a todos os homens do mundo... e deu-lhe todo o mundo para seu domínio e jurisdição. [...] Um desses Pontífices fez a doação destas terras e deste continente do Mar Oceano aos reis católicos da Espanha.... Quase todos os que foram notificados [disto] receberam Sua Majestade e o serviram e lhe obedeceram, e o servem como súditos... tornando-se cristãos sem nenhuma recompensa ou estipulação... e Sua Majestade recebeu-os... como súditos e vassalos... Portanto, imploro-lhes e exijo [...] reconheçam a Igreja como senhora suprema do universo, e o altíssimo Papa... em seu nome, e Sua Majestade em sua posição de senhor superior e rei [...] deixaremos livres suas mulheres e filhos, sem servidão, de modo que com eles e consigo mesmos vocês poderão fazer livremente o que desejarem... e nós não os forçaremos a se tornarem cristãos. Mas se não o fizerem... Com a ajuda de Deus, invadirei suas terras à força, e farei guerra onde e como puder, e submetê-los-ei ao jugo e à obediência da Igreja e de Sua Majestade, e tomarei suas mulheres e seus filhos, tornando-os escravos... e tomarei seus pertences, fazendo-lhes todo o mal e causando-lhes todos os danos que um senhor pode causar aos vassalos que não o recebem e nem lhe obedecem. E declaro solenemente que a culpa pelas mortes e danos sofridos por essa ação será sua, e não de Sua Majestade, nem minha, nem dos cavalheiros que comigo vieram...” (Pág. 101-102)
“Esse discurso [...] foi o principal meio pelo qual os espanhóis sancionaram sua autoridade política sobre o Novo Mundo durante a era de suas mais extensivas conquistas (1512-1573) [...] era um ultimato para que os índios reconhecessem a superioridade do cristianismo; caso contrário, enfrentariam guerra. [...] os espanhóis criavam seus direitos ao Novo Mundo pela conquista, não pelo consentimento. Enquanto as regras inglesas governavam a construção de cercas, jardins e casas e as francesas ... conduta das cerimônias, as espanholas ... procedimentos de declaração de guerra. ” (Pág. 102)
“Sendo criado e implementado pela Coroa espanhola, o Requerimento definia em termos políticos as formalidades para iniciar uma guerra. [...] abrangiam a submissão ao catolicismo e a seus legítimos representantes, os espanhóis. Assim, o Requerimento era um ritual militar e político.... Para as outras nações da Europa, tanto suas exigências quanto seu método de implementação pareciam estranhos [...] o modo como o Requerimento era implementado é ainda hoje considerado por muitos tão absurdo quando o texto em si. ” (Pág. 103)
“...existe a incrível isenção de responsabilidade por toda a devastação e as mortes causadas pelo ataque espanhol, já que a culpa recairia sobre os nativos, caso se recusassem a cumprir as exigências dos espanhóis [...] supondo-se, é claro, que eles entendessem o espanhol do século XVI [...] não era simplesmente o texto em si que criava o absurdo, mas o contexto em que ele era veiculado [...] O Requerimento é muito semelhante à singular exigência ritual de submissão característica de uma jihad islâmica. Embora o termo jihad signifique apenas “luta”, ele esteve sujeito a várias interpretações controversas. ” (Pág. 104)
“... após a disputa pela sucessão teológica e política semelhante à que dividiu a cristandade romana da oriental, houve uma divergência entre o islamismo xiita e o sunita. A Espanha, que ficava no extremo ocidental do mundo islâmico, permaneceu sunita. ” (Pág. 106)
“A jurisprudência mãlikita foi e é conhecida por duas características [...] a ênfase num ritual para iniciar uma jihad (uma convocação, ou guerra santa) e seu tratamento liberal dos povos conquistados. [...] Ibn Rushd (Averróis) resumiu a jurisprudência mãlikita sobre a jihad em seu manual jurídico Bidã ya t al-Mudjahid. O primeiro passo crítico que um líder deve dar para começar uma jihad é enviar um mensageiro ao inimigo comunicando suas intenções [...] as regras islâmicas na Península Ibérica insistiam rigorosamente no envio oficial de uma notificação [...] no caso do Requerimento, tratava-se de um ritual público, dirigindo-se de uma forma altamente estilizada aos não-crentes. ” (Pág. 107)
“O profeta Maomé descrevia a si mesmo como um mensageiro de Deus (rasu l Allah) [...] descrevia-se tanto como um mensageiro de Deus (rasu l Allah) quanto como um mensageiro (rasu l) que levava notícias da nova religião para governantes não-muçulmano [...] o mesmo termo é usado para descrever o enviado do Estado espanhol para proclamar a nova religião – o cristianismo: o mensageiro. ” (Pág. 108)
“O cerne do Requerimento também era uma intimação ao reconhecimento de uma religião superior. O documento igualmente insistia na submissão [...] ou seja, reconhecer a superioridade do islamismo [...] num versículo do Alcorão, recitado pelos mulçumanos...: ‘Não há compulsão na religião’. Num outro versículo (Alcorão, 49:14), o livro aponta que Deus não quer profissões de fé instantâneas, já que não se obtém a fé por coerção. Assim, uma profissão de fé imediata da parte dos não-crentes não teria crédito [...] aqueles que se rendiam aos mulçumanos numa jihad deveriam, assim, reconhecer a superioridade do islamismo. A crença viria mais tarde. ” (Pág. 109)
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